'Não dá para legislar sobre o amor', diz fotógrafo de mostra contra homofobia

Deborah Secco acha que homofobia é "démodé". Drauzio Varella, "coisa de imbecil". Para Marília Gabriela, "uó". Já o prefeito Fernando Haddad chegou a taxá-la de "obscurantismo".

Em comemoração ao Dia Internacional do Orgulho LGBT (28 de junho), o Metrô de São Paulo espalhou cartazes em dez estações. Neles, celebridades completam a frase: "Homofobia é...".

Expostas no metrô, no Conjunto Nacional e no Museu da Diversidade Sexual, as fotos foram clicadas por André Giorgi, 26. Ele recrutou, junto com Ana Ribeiro —jornalista e então editora-executiva do canal on-line iGay—, 50 personalidades que deram cara ao projeto "50 Vozes Contra a Homofobia".

"Queria que meu trabalho tivesse cunho social", diz Giorgi, homossexual assumido desde os 16. "Antes de sair do armário, eu tinha medo."

Fábio Polido/Divulgação
André Giorgi, 26, que clicou 50 celebridades para a mostra "50 Vozes Contra a Homofobia"
André Giorgi, 26, que clicou 50 celebridades para a mostra "50 Vozes Contra a Homofobia"

sãopaulo - Como você escolheu os 50 participantes do projeto?
André Giorgi - Eu queria formadores de opinião e pessoas que se comunicam com todo tipo de público, desde Deborah Secco até Marçal Aquino. Antes de sair do armário, eu tinha medo, mal sabia que existiam outros gays. É muito importante que as crianças vejam que existem famosos apoiando, saberem que um dia as coisas vão ficar mais leves. A seleção foi bem pensada —a maioria dos participantes é heterossexual. Se fosse gay, acho que não teria a mesma força.

Qual voz mais impressionou?
Eu gosto muito da frase da Vera Holtz: "O avesso do avesso do avesso do avesso" [parafraseando Caetano Veloso]. É uma coisa bem tropicalista. Mas a que mais me toca é a do DJ Zé Pedro: "Homofobia é estar morto em tempos vivos". Eu pedi para cada um escrever numa folha o final da frase "Homofobia é...", e inseri a resposta na foto, com a própria letra da pessoa.

Considera São Paulo homofóbica ou aberta à homossexualidade?
Eu a considero homofóbica, mas existem níveis —não posso comparar a alguns lugares. No interior do Mato Grosso, as travestis são mortas, apedrejadas —e ninguém fica sabendo. Aqui, ainda conseguimos militar, ter nossas vidas. Conseguimos seguir por um caminho menos duro, ainda que uma hora essa janela de vidro possa se quebrar.

A sua já se quebrou?
Já, mas não em São Paulo. Em setembro do ano passado, sofri um atentado bem violento com meu namorado em Natal (RN). Isso deu mais força para o projeto.

Para o André, homofobia é...
Uma palavra que não deveria existir. É horrível a gente ter que conversar sobre isso ainda. Não dá para legislar sobre o amor de duas pessoas ou pedir para que elas sejam aceitas. Não se trata de aceitação. Temos que respeitar e incluir.

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