Entregador há 23 anos, pernambucano atende famosos em Higienópolis

Não há Waze, o popular aplicativo de navegação, que desbrave Higienópolis com mais perícia que Zé da Silva, um pernambucano que há 23 anos dedica suas tardes e noites a traçar com os pés a avenida Angélica e suas vicinais. Silva, 55, é um andarilho profissional do bairro -faz entrega de comida italiana a pé.

Galetos são o grosso do peso que ele carrega em levas de cinco pacotes. Em dias frios, há um pico de conteúdos líquidos ("Com sopas, é preciso ter um pouco mais de equilíbrio").

"Eu o deixaria cuidar dos meus netos, de tanto que confio nele", diz a aposentada Zilda Capodamo, 73. Ela pega o nhoque com uma mão e, com a outra, entrega o cartão de débito e um papel com a senha de quatro números (**) para Zé digitar na maquininha depois do valor (R$ 74,80).

Gabriel Cabral/Folhapress
Seu Zé é entregador da cantina Via Castelli há quase 30 anos e faz as entregas a pé por Higienópolis
Seu Zé é entregador da cantina Via Castelli há quase 30 anos e faz as entregas a pé por Higienópolis

Outra cliente da mesma faixa etária sente-se tão confortável com a presença de Zé que nem se preocupa com a compostura na hora de ir à porta.

"É uma senhora que fica à vontade quanto está calor." Quão à vontade? "Normal, né, bem à vontade, como Deus fez você e eu." Nesse caso, é olhar para baixo e dar "boa noite" mirando o calçamento de pedras portuguesas. "Minha mulher sabe que eu não olharia."

Tem também os famosos, que ele olha no olho, "como se fossem qualquer cliente". Sonia Abrão dá gorjeta boa. Nicette Bruno é "uma simpatia" só. O filósofo Mario Sergio Cortella é boa companhia para qualquer papo.

Sua jurisdição vai da Santa Casa até o número 500 da avenida Higienópolis, a "mais bonita à noite", e do 400 da rua Martim Francisco até o 400 da rua Sabará. "Agora, se for preciso ir além, eu levo. Hoje mesmo fui até a Consolação. Me desculpo pelo atraso e está tudo bem. Tô em casa."

O bairro nobre pode ser considerado sua casa. Não só no coração, mas no número de horas que passa na região central, se comparadas com o total em Taboão da Serra, onde mora. Leva "mais de hora" para tornar à casa à meia-noite para, depois, acordar às 8 horas no dia seguinte e rumar à cantina Via Castelli. "Adoro a minha vida. Eu ganho para andar, né?"

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