Pólo cultural, Lapa paulistana atrai punks, artistas e casa de shows

A onda de arte na Lapa, zona oeste paulistana, não era passageira. Abertos na última década, espaços culturais se consolidaram na região, em meio ao comércio tradicional.

Pioneira, a Casa da Lapa completa neste ano uma década em um sobrado na avenida Ricardo Medina Filho. "Quando começamos a procurar um lugar para se estabelecer, não fomos para a Vila Madalena, pois era fora da nossa realidade de preço", lembra o designer Sato do Brasil, 47, fundador do espaço.

Dez anos depois, 17 profissionais de áreas como música e cinema dividem os cômodos e realizam projetos em conjunto. Tudo funciona por meio de um sistema de autogestão: a cada três meses, quatro artistas assumem o comando do local.

Para os projetos saírem do papel, eles recorrem a editais e eventos para a captação de recursos. Um deles, organizado todo domingo na feira da praça Kantuta, no Canindé, região central, ajuda a aproximar bolivianos e brasileiros por meio de oficinas.

Já Amadeu Cardoso, 45, e Miguel de Castro, 35, celebram seis anos de vida do Serralheria, espaço independente de arte. O nome da casa, aberta na rua Guaicurus, remete à oficina de corte de metais que existiu ali no passado.

O Serralheria é fruto de uma amizade antiga. Cardoso foi professor de Castro no Colégio Miguel de Cervantes. Quando Castro entrou na universidade, eles se juntaram a outros dois amigos, também apaixonados por música, e começaram a promover festas de rua.

Os primeiros anos não foram fáceis, com poucos frequentadores no local. "A cidade tem uma cultura de shows que começam e terminam tarde. Na Lapa, cai o movimento a partir de certo horário, pois há muitas residências. Tivemos que nos adaptar", diz Cardoso, que também mora na região.

Passados cinco anos da abertura, já tocaram por lá artistas como Ava Rocha, Juçara Marçal e o pernambucano Siba. Mantida com a venda dos ingressos e de comidas e bebidas, a casa abre de quinta a domingo. E o melhor: o público aumentou.

A mistura de residências e de pequenos lojas também animou os sócios Fernando Mira, 29, e Rogério Maciel, 45, a escolher a Lapa para montar o Estúdio Elástico. Ali, produzem obras em serigrafia, processo que consiste em impressão utilizando tinta sobre tela vazada. "Há muito o que explorar na região", afirma Mira.

O Estúdio Elástico se mantém por meio da produção de obras, que custam a partir de R$ 25 e levam até cinco dias para ficarem prontas. São oferecidas, ainda, oficinas de serigrafia e de assuntos relacionados à arte.

Criado há seis anos, o estúdio funcionava inicialmente na casa de Maciel, na Pompeia. Há um ano e meio, migrou para uma casa mais espaçosa na rua Coriolano. "Não nos arrependemos de ter vindo para cá. A Lapa é um lugar perfeito e acho até que é o melhor de São Paulo", afirma Mira.

A menos de dois quilômetros dali, na rua Clélia, um imóvel de dois andares e decoração simples abriga a Casa Mafalda. Inaugurado em 2011 por um grupo de anarquistas e punks fãs da personagem argentina, o espaço define-se como um laboratório de práticas culturais e sociais, para mostras, debates, festas e oficinas.

Para a socióloga e especialista em cultura urbana Lucia Helena Gama, as opções de transporte público na região contribuem para a manutenção dos espaços culturais. "A Lapa é um lugar de passagem e está ligada por meio do trem e dos ônibus a muitas regiões da cidade", diz ela.

Outro fator, repetido pelos empresários, é o custo. Na Lapa, há preços um pouco mais baixos, se comparados a outros bairros. Um sobrado amplo, por exemplo, pode ser alugado por R$ 7.000 ao mês, ante R$ 10 mil na Vila Madalena.

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