A sãopaulo percorreu o bairro de Santa Cecília e seus arredores para descobrir quem são os moradores e empreendedores que colaboram para mudar o perfil da região.
A seguir, conheça seis deles.
*
ASSOCIAÇÃO CULTURAL CECÍLIA
Na noite da última quarta (30), o baterista da banda Sonic Youth, Steve Shelley, apresentava-se em um sobrado do bairro para cem convidados, na sala da Associação Cultural Cecília. Às 22h, impreterivelmente, o som acabou. "Aprendemos a respeitar nossos vizinhos", diz o artista multiplataforma Roberto Anreoli, 32, um dos diretores da associação.
A casa abrigava um pensionato e estava detonada até sete anos atrás, quando um grupo de amigos, então com vinte e poucos anos, decidiu reformar o sobrado para fazer um dos primeiros espaços de co-working da cidade. Hoje, cinco sócios utilizam o espaço para suas respectivas atividades (consultoria, arquitetura, estúdio, produtora cultural e produtora de vídeo) e fazem eventos na casa.
Entre as atrações quase diárias do sobrado —do cineclube, de segunda, às noites de blues, às quintas—, ele destaca os de rua: o Festival Três pra Um, em novembro, que junta bandas que se apresentaram ali ao longo do ano em um palco em frente à casa, e o Cordão Cecília, no sábado de Carnaval."[O bairro é] Muito moderno, muito província. Essas culturas se misturando dão a ele uma cara única."
Rua Vitorno Carmilo, 449, tel. 3667-0262.
BANCA TATUÍ
Um dia, saindo do almoço, João Varella, 30, viu uma banca à venda na rua Barão de Tatuí, onde mora. "Era tão feia que nem a notava", recorda. Ali, João viu uma solução para um problema de sua editora, a Lote 42, dedicada a publicações independentes: a dificuldade de achar espaços de venda.
Assim, em outubro de 2014, ele e Cecília Arbolave, 29, sócia e companheira há dez anos, reabriram a banca após uma reforma e hoje oferecem lá cerca de 300 títulos, entre livros, quadrinhos e pôsteres. Um dos mais vendidos é "Desenhos Invisíveis", do cartunista Troche. Pensando em criar um jardim no telhado, a dupla reforçou a estrutura.
O resultado surpreendeu: o topo agora aguenta até 1,5 tonelada e é usado como palco para shows ao ar livre. Recentemente, foi instalado um balanço e luzes decorativas, alimentadas por uma extensão ligada no bar ao lado. "A banca ainda está em processo", diz João.
R. Barão de Tatui, 275. Santa Cecília, s/ tel.
CONCEIÇÃO DISCOS
No Conceição Discos, a vitrola que solta a trilha sonora da casa fica em cima de um fogão antigo e sem uso. A mistura de música e gastronomia, com discos à venda de um lado e balcão do outro, criou um ambiente único no bairro.
Talitha Barros, 35, e cozinheira há quase 20, escolheu a Santa Cecília para criar uma casa que homenageia a cozinha paulista, "mas sem ser caipira". Ela prepara os alimentos em uma cozinha bem perto do balcão e serve uma receita de arroz por dia, além de tortas, bolos, chope e café servidos em utensílios retrô.
"As pessoas cansaram de ter de gastar muito pra sair, pensar em roupa, valet, flanelinha. Aqui, chega, senta, pega o cardápio. É democrático", diz Talitha, que também organiza shows na rua e criou um bloco de Carnaval neste ano.
R. Imaculada Conceição, 151, Vila Buarque, região central, tel. 3477-4642. 22 lugares. Ter. a sáb.: 10h às 21h.
ELEVADO
Duas coisas chamam a atenção em uma primeira visita ao Elevado Café e Bar: a decoração limpa e minimalista e a vista para o Minhocão, de quem empresta o nome. Morador da Santa Cecília, Derek Fernandes, 25, arquiteto, diz que ele e os sócios Flávio Moreira, 31, e Lucas Nadal, 27, escolheram a localização do negócio -inspirado em bares de Porto, em Portugal- pela proximidade com a via elevada.
"Além do espaço grande e do aluguel barato, claro." Aberto desde maio, o lugar abriga eventos culturais e um café, "pra pagar o aluguel", diz Fernandes.
O foco da curadoria é "o que não tem destaque para estar numa galeria ou em espaços cultuados". Isso inclui a feira Altiplana, evento mensal de zines e livros independentes vinculado à Feira Plana, e o projeto Acuenda, que inclui uma mostra de fotos de drag queens. "Nos vemos como parte dessa renovação. A Santa Cecília é o bairro da moda", ele completa.
Rua Albuquerque Lins, 489, s/tel.
HOLY BURGER
Lanchonete que tem gerado filas na calçada, a Holy Burguer tem uma auréola na fachada e um teólogo no comando. Gabriel Prieto, 36, se formou em teologia e jornalismo, trabalhou como relações-públicas de restaurantes por 13 anos e criou o próprio negócio com os amigos Vinicius Massarenti, 26, administrador, e Filipe Fernandes, 28, músico.
"Queríamos abrir no centro, mas em uma rua tranquila como essa. Aqui foi um tiro de sorte", conta Pietro. O salão de 26 lugares recebe 8.000 pessoas por mês, que consomem hambúrgueres artesanais, feitos com três tipos de carne, cervejas e sobremesas em um ambiente de decoração rústica, com canos aparentes e lambe-lambes na parede. A aparência foi inspirada em locais de Londres, Nova York e Peru.
Em novembro, quando o local fará um ano, começará a funcionar o delivery.
R. Dr. Cesário Mota Jr., 527, V. Buarque, tel. 4329-9475. Seg. a qui.: 12h às 16h e 18h às 24h. Sex.: 12h às 16h e 18h à 1h. Sáb.: 12h à 1h.
PAIR
Inaugurada há pouco mais de um mês na rua Barão de Tatuí, a Pair é uma ilustração do entorno do bairro de Santa Cecília: mistura de loja e escritório de design de interiores e tem à frente jovens ligados às artes e repletos de consciência sobre a ocupação da cidade.
"Aqui na Santa Cecília a gente percebeu olhares que combinam com o nosso, geralmente de pessoas que se envolvem com arte: arquitetos, designers, artistas plásticos", diz Adriane Lisboa, 25, arquiteta da Pair.
Moradora do bairro há um ano —"literalmente no prédio ao lado", celebra—, ela se entusiasma com a simbiose entre novos e velhos empreendedores e com os contrastes inerentes à região: "Aqui tem desde o personagem bairrista, como o dono da quitanda que faz bicos de eletricista, e o mesmo quarteirão guarda o ateliê dos irmãos Campana e, ao lado, o marceneiro que está aqui há 40 anos."
R. Barão de Tatuí, 195, Santa Cecília, s/tel.