Poeira é base para pinturas da artista mineira Niura Bellavinha

Niura Bellavinha quase perdeu uma pipa que se escondeu no meio de algumas nuvens. Quando conseguiu resgatá-la, já molhada pelas partículas de água, a tinta vermelha do papel de seda passou a deixar sua cor por onde encostava: chão, mãos, paredes.

Com essa experiência, aparentemente banal e cotidiana, Niura diz ter se transformado em pintora, aos 14 anos.

Para a individual que inaugura agora na galeria Millan, de nome "iTa LíTica Barroca", não há indícios de nuvens, mas resquícios do contato com um pouco de terra, um tanto de poeira e muito de Minas Gerais, onde a artista nasceu.

Niura, que se mudou há 18 anos para o Rio de Janeiro e hoje vive entre os dois Estados, pediu a amigos que a ajudassem recolhendo pedaços do solo mineiro. Da terra e das pedras vindas de Itabira, Ouro Preto e Ferros, entre outros lugares, ela produziu tintas para seis telas. Em esculturas de pedra- sabão adquiridas na cidade de Congonhas, onde estão os 12 profetas de Aleijadinho, a artista injetou pigmentos que o Mestre Ataíde utilizava para pintar as peças do escultor barroco. O resultado deixa a sensação de que os objetos estão sangrando.

O principal trabalho da mostra, no entanto, é o filme "NháNhá", que a artista também considera uma pintura. No média-metragem de 2014, uma casa é devastada pela poeira após a chegada de uma mineradora. Gravado em várias cidades de Minas Gerais um ano antes da tragédia que ocorreu em Mariana, resultado do rompimento de uma barragem da empresa Samarco, a obra tem, agora, um aflitivo quê de déjà vu.


Galeria Millan. R. Fradique Coutinho, 1.360, Pinheiros, região oeste, tel. 3031-6007. Ter. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 11h às 18h. Abertura: 26/2. Até 19/3. Livre. Visita monitorada somente c/ agendamento. GRÁTIS

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