Sexta-feira, 12h30, praça de alimentação do Morumbi Shopping. Sobre duas mesas estão dois crachás. Em ambientes como aquele, esse é o código tácito de que tais lugares estão reservados. E durante os 16 minutos até que a primeira pessoa ocupasse um dos quatro lugares ali guardados, muita gente, de bandeja na mão e comida esfriando, passou, olhou, assimilou e seguiu à procura de outra cadeira para sentar. A mesa só foi ficar completa às 12h50.
| Eduardo Raimondi/Folhapress | ||
 |
||
| Praça de alimentação em shopping de SP |
"É uma situação que todo mundo vive, mas ninguém fala nem faz nada. Eu já presenciei mulher grávida com bandeja na mão que não tinha lugar pra sentar por causa do crachá em cima da mesa", conta uma publicitária de 26 anos que, "para não complicar", prefere não se identificar.
Foi então que ela e outros dois colegas de profissão criaram, na semana passada, o site O Cara do Crachá, que, com o objetivo de "acabar com a farra desses folgados", posta fotos de crachás encontrados em mesas de praças de alimentação. Entre as que foram tiradas por eles e as enviadas por e-mail, já são dezenas de imagens.
"A nossa intenção, tanto que sempre colocamos frases divertidas juntas, é levar para o humor. É como se fosse um mural da vergonha. Ninguém vai querer ficar aparecendo lá. A ideia é que as pessoas comecem pensar e a mudar essa atitude. A gente só gostaria que parassem mesmo", afirma.
"Eu sei que é chato, e eu mesmo fico irritada. Mas se não deixar o crachá não vai conseguir comer", explica a lojista Regina Oliveira, 29, uma das que reservou mesa no shopping. "A não ser que você peça comida japonesa, que já vem fria", completou seu colega Victor Pizza, 26.
SHOPPINGS
Ainda que ninguém vá ser preso e a prática seja bastante comum, alguns shoppings adotam atitudes com o objetivo de fazer com que seus clientes evitem reservar mesas com crachás.
Procurado pela reportagem, o próprio Morumbi Shopping informou que já promoveu "diversas campanhas para estimular que seja dada prioridade nas mesas aos clientes que já estejam com bandejas nas mãos" –uma delas, inclusive, terá início em março.
Durante a visita da sãopaulo ao shopping, no entanto, nenhum crachá "dono da mesa" foi removido pelos seguranças do local.
Também em região movimentada de escritórios, o shopping Center 3 afirma ter contratado gente para fiscalizar, além de distribuir folhetos explicativos e adesivar mesas para tratar do assunto.
No shopping Eldorado, por sua vez, seguranças são "orientados a conversar com clientes" e informar que não é permitido reservar lugares. "E caso o segurança note que objetos pessoais foram deixados para reservar lugar, mas a pessoa demore para retornar, seus pertences são recolhidos e levados ao SAC", afirmou o estabelecimento por meio de sua assessoria.