Quem nunca teve problemas durante uma reforma que atire o primeiro tijolo.
Mesmo que pequeno, há sempre um perrengue quando o assunto é prestação de serviço. Trabalhos malfeitos, cobranças abusivas e obras incompletas foram as queixas mais comuns relacionadas a serviços de construção –pedreiros, eletricistas, pintores, encanadores, empreiteiros etc– registradas no Procon-SP nos últimos dois anos.
É possível contornar esse tipo de situação? A seguir, profissionais respondem às questões que mais intrigam os seus clientes.
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Por que essa turma da mão de obra falta tanto?
"Nunca falto. No máximo, duas vezes num mês", afirma o pintor Gilmar dos Santos, 35. "Porém, tenho colegas que, por qualquer coisa, deixam de ir. Tive um que a gente buscava em casa e, mesmo assim, tinha dia em que ele não aparecia."
Apesar de reconhecer que o problema existe, é difícil um prestador de serviços admitir ser ele próprio um gazeteiro. O fato de essa mão de obra pegar várias obras ao mesmo tempo é um dos motivos para as ausências.
O empreiteiro José Carlos Alves, 45, por exemplo, toca hoje três reformas. Quando uma está para acabar, já vai agendando novos clientes. Ele justifica: "Não é que a gente prefira pegar vários serviços ao mesmo tempo. É que com só uma obra você não sobrevive".
O trabalho pesado é outra hipótese para as faltas. "Muita gente não aguenta. Esses meninos paulistas, então, não querem saber de nada. Por isso, 90% de São Paulo foi feita por nordestinos", brinca o piauiense Antônio Clarindo (o último à dir.), 44, que faz serviços gerais com o paulistano Rodrigo Ramos, 24. "Não é o caso dele, porque é filho de nordestino", acrescenta Antônio rapidamente.
JC Alves Empreiteira, tel.: (11) 99270-4872
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O que explica os casos em que o funcionário recebe o dinheiro, começa o trabalho, mas, a certa altura, desaparece?
"As pessoas desistem quando pegam serviço por um valor que não cobre os custos do serviço. Quando percebem que o dinheiro vai acabar e a obra não está pronta, deixam como está", explica José Alves, 44, empreiteiro há 20 anos e que diz nunca ter largado uma obra.
Para ele, que vive no Jd. Boa Vista (zona oeste), o problema é fruto da má-formação da mão de obra que está no mercado.
Há também casos de má-fé, quando o funcionário recebe pagamento adiantado e não volta. Para evitá-los, José recomenda aos clientes que deixem uma parcela a ser paga na entrega do serviço.
Ele ressalta, porém, que muitas obras ficam inacabadas por falta de pagamento dos clientes -ele calcula lidar com inadimplência em metade das obras. "Nesta crise, está pior. A gente tem que escolher com quem trabalhar. Se há um estranhamento no começo, não faço o serviço. Dou um orçamento bem acima do estimado para que aquela pessoa não me contrate."
José Alves, tel. (11) 95241-7607
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A qualidade técnica dos serviços tem caído?
"Hoje, mão de obra dá muita dor de cabeça, e a execução do serviço não é perfeita", critica Astrogildo Alves, 65. Dono de uma empreiteira que chegou a empregar 95 funcionários, ele está há 49 anos no ramo.
"Quando eu era criança, o mestre de obras, era um cara que conhecia tudo. A maioria era italiano ou espanhol e muito rígido. Hoje, não tem quem restaure prédios antigos lindos feitos por eles. Todo mundo quer ser 'gatinho', trabalhar por conta própria. E tem clientes que pegam qualquer um para os serviços."
Empreiteira Alves Empal, tel. (11) 4201-1042
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Quem mexe com reformas costuma pegar várias obras ao mesmo tempo. Como vocês conciliam os trabalhos?
"O cara pega uma obra aqui e outra ali. Se um proprietário pressiona, ele vai para a dele, deixando o outro serviço mais de lado", exemplifica Marcos Silvestre, 43, empreiteiro que atua em Guarulhos.
"Se o dono é bonzinho, não parecer ter pressa, o cara toca a obra devagarzinho."
A "puxação" de orelha parece ser ainda o método mais eficaz para apressar a obra, mais do que o valor do serviço, garante Marcos.
M.J.S, tel. (11) 98321-3607
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Por que o orçamento sempre aumenta no final?
"Obra tem muito imprevisto, principalmente em imóveis antigos. Quando negociei a reforma da casa do Gilberto, na Vila Romana, por exemplo, achei que a tubulação seria de ferro e precisaria ser trocada para PVC. Porém, poderia ser de cobre, em que eu confio. É lógico que, vendo coberto, não dá pra garantir. Só quando abrir a parede vou ter certeza", explica Eronizio da Costa, 59, com experiência que vai de canalização de rio no interior a reformas de mansão no Morumbi.
"E tem os adicionais. Se me pedem uma porta e o orçamento foi feito sem ela, a pessoa não pode dizer: 'Negociei um valor, agora é outro'. Lógico! Tem requadração, nivelamento, aprumo."
Costa, tel. (11) 98265-4957
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O que faz com que o prazo previsto seja esticado?
"São os imprevistos", resume José Carlos Flório, 55, que trabalha como marido de aluguel há quatro anos.
"Um portão que peguei para fazer, por exemplo, estimei o prazo em cinco dias. Só que a chuva atrapalhou. Depois, a tinta nova começou a descascar porque a antiga não era boa. Tive que arrancar tudo, fazer tratamento de zarcão e nova pintura. Também sugeri à dona o polimento das pontas de lança. Isso esticou o prazo. Eu fazia um pouco, atendia outros serviços, intercalava."
"Mas se você ver esse portão Passei por lá hoje e pensei: 'Como tá bonito!'", orgulha-se José Carlos.
JC Serviços Gerais, tel. (11) 98022-9377
Jéssica Mangaba/Folhapress | ||
Marcos Silvestre, 43, empreiteiro que trabalha em Guarulhos |