De volta à Olimpíada, golfe atrai paulistanos com aulas e campo público

Luisa Dörr/Folhapress
Jogador em partida no Embrase Golf Club, campo 'público' situado em terreno na zona sul paulistana
Jogador em partida no Embrase Golf Club, campo 'público' situado em terreno na zona sul paulistana

Toda segunda, quarta e sexta, a diarista Dirce Aparecida Silva, 46, sai às 6h20 de casa no Jardim da Glória, zona sul paulistana, e segue para sua aula de golfe no parque da Aclimação, na mesma região.

Ela é uma das alunas do Golfe para a Vida, projeto da CBG (Confederação Brasileira de Golfe), que tem como objetivo oferecer os primeiros contatos com a modalidade por meio de aulas gratuitas e "lúdicas" –os equipamentos são adaptados, como tacos de plástico e bolas de tênis.

As aulas ocorrem desde fevereiro do ano passado na quadra de grama sintética do parque, ao lado de onde Dirce já fazia aula de dança. A curiosidade a levou a experimentar.

"No começo, você acha que é chato, mas não é. É bom que aprende a ter paciência, né? E concentração", afirma a diarista, que por enquanto está curtindo o novo hobby.

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Dirce Aparecida Silva, 46, diarista, tem aulas de golfe às segundas, quartas e sextas no parque da Aclimação.
Dirce Aparecida Silva, 46, diarista, tem aulas de golfe três vezes por semana no parque da Aclimação

Nisso e em mais um pouco concorda a fonoaudióloga Luciana Soares de Oliveira, 53. "A sensação quando você acerta a bola é incrível."

As duas se somam à turma de 15 alunos, que também se reúne fora do campo. "Temos um grupo de WhatsApp. Chama 'As Gostosas do Golfe'", diverte-se Luciana, para quem jogar golfe é legal, "mas assistir os outros jogando não dá!".

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Pedro Miyata, 9, que começou a jogar golfe com quatro anos, em campo na zona sul de São Paulo
Pedro Miyata, 9, que começou a jogar golfe com quatro anos, em campo na zona sul de São Paulo

Longe dali, Pedro Miyata, 9, compareceu boa parte das terças do último ano ao Embrase Golf Center, campo na zona sul. O intuito foi participar do Pé Duro, competição amistosa disputada por iniciantes e veteranos de diferentes idades.

Acompanhado da mãe Fernanda Sales, o pequeno disputou, na primeira terça de abril (5), a etapa final da 58ª edição da competição contra Fernando Vieira, 57, presidente da Associação Paulista de Golfe.

Mas acabou perdendo. "Não é todo dia que se ganha, então tem que se concentrar."

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SAO PAULO, SP, BRASIL. 28/03/2016. Músico Mario Sérgio, do Fundo de Quintal durante o torneio amistoso de golf Pro-Am. Local: São Paulo Golf Club Endereço: Praça Dom Francisco de Souza, 540, São Paulo, SP - São Paulo, BRA - Brazil Fotos: luisadorr/Folhapress, Revista sãopaulo)
Músico Mario Sérgio, do Fundo de Quintal durante o torneio amistoso de golf Pro-Am.

Sempre que pode e onde estiver –"mesmo tendo feito show a madrugada toda"–, Mario Sergio Ferreira Brochado, 57, integrante da velha guarda do grupo carioca Fundo de Quintal, diz pegar seus tacos e ir jogar.

Na última quarta de março (30), ele esteve no São Paulo Golf Club, entidade privada voltada para o esporte.

Praticante da modalidade há sete anos (para a qual tem até uma música dedicada, ainda não lançada), naquele dia ele e outros amadores entusiastas do esporte, como Rubens Barrichello, participaram, ao lado de profissionais, do torneio de confraternização que antecedeu a abertura do Brasil Champions -prova oficial realizada de 31/3 a 3/4 no mesmo local.

Entre os "pros" estiveram os paulistanos Alexandre Rocha, 38, e Lucas Lee, 28, pretendentes a vaga nos Jogos Olímpicos Rio-2016, que volta a ter golfe entre as disputas após 112 anos (quando foi modalidade nos jogos olímpicos de Saint Louis, nos EUA, no ano de 1904).

TORCIDA

Além das tacadas, esses golfistas têm em comum a ideia de que a volta à Olimpíada pode ajudar a dar maior visibilidade ao esporte e, quem sabe, difundir sua prática -embora reconheçam não ser um esporte barato e de fácil acesso no país.

Este também é o desejo de entidades envolvidas com o esporte. "O maior problema aqui é que quase não há campos públicos. Em muitos países existem lugares em que a pessoa paga uma pequena taxa e joga. No Brasil, na grande maioria dos casos, você precisa ser sócio de um golfe clube, que custa caro e tem um processo para ser aceito", afirma Paulo Pacheco, 69, presidente da CBG.

Para ele, o campo da Olimpíada do Rio será um grande "legado". Envolto em polêmicas pela região na qual foi construído, de reserva ambiental, e pelo valor, de R$ 60 milhões, o local será "aberto ao público" depois das competições, diz a Prefeitura do Rio.

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João Batista Miranda, 70, o "JB", no torneio Pé Duro, disputado às terças Embrase Golf Center
João Batista Miranda, 70, o "JB", no torneio Pé Duro, disputado às terças Embrase Golf Center

São Paulo conta um um "campo público", como são chamados os espaços que não exigem associação. Fundado em 2000 pela FPG (Federação Paulista de Golfe), o atual Embrase Golf Center tem campo com nove buracos, "driving range" (área para jogadores aperfeiçoarem o movimento de tacada, chamado de "swing") e empréstimo de equipamento.

Para utilizá-lo, porém, são cobradas taxas. Um jogo de 18 buracos custa R$ 45 para adultos (é necessário o mínimo de experiência). Um cesto com 60 bolas para o "driving range", R$ 20. O empréstimo de alguns tacos é gratuito, e há aulas para iniciantes (preços a combinar com o professor).

"Não temos crise aqui", conta Antonio Carlos Padula, 54, presidente da FPG. "Vem muita gente jogar, e acredito que isso aconteça porque os preços são muito acessíveis. É mais barato que ir ao cinema."

E o equipamento? No dia 5 de março, quando a sãopaulo esteve na loja instalada no interior do Embrase Golf Center, estava à venda um kit de tacos infantis (R$ 700), adulto ("promoção: R$ 900"), feminino (R$ 1.600) e outro por R$ 1.250 (fora a bolsa) –conjuntos novos podem chegar a milhares de dólares.

Assim como a confederação, a FPG diz que mantém projetos de ensino gratuito da modalidade, além de auxiliar clubes privados na formação de grupos de golfistas –como já há no São Paulo Futebol Clube e no Club Athletico Paulistano. Nesses departamentos, há competições e descontos no uso de campos conveniados.

O número de jogadores registrados na FPG (amadores ou pros) tem crescido, segundo Padula. Eram 4.200, em 2014. Hoje, "são 4.800".

O que ele ainda considera pouco. "Formar um jogador não é simples", diz, citando a imagem elitista como barreira ainda não vencida em razão "da pouca divulgação do esporte".

"Se falo que jogo golfe, as pessoas me veem com um cifrão. Falam que sou rico", afirma. "Sou rico nada! Sou que nem você."

revista sãopaulo/revista sãopaulo
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