Criada para curar dor de cabeça, água de Colônia volta a ser vendida em SP

Reza a lenda que, por quase 200 anos, os habitantes da pequena cidade de Colônia, na Alemanha, tinham como receita secreta para dor de cabeça uma bebida cheirosa. O remédio, uma infusão de notas como bergamota, limão, laranja, nerol e lavanda, aliviaria a tensão.

O produto virou um dos perfumes mais vendidos do mundo, febre entre orientais -há quem diga que alguns chineses ainda ingerem a fórmula- e uma das opções mais em conta de perfumes de grife à venda.

O Brasil é, hoje, o mercado alvo dessa tal água de Colônia.

Após três anos longe, a grife 4711 reabriu neste mês sua operação nacional. Desta vez, com presença tanto em perfumarias de luxo quanto no varejo popular. A rede de lojas Renner passou a incluir a fragrância num "corner" exclusivo de suas lojas.

São Paulo, diz o diretor de vendas Marcel Katoin, é uma "das cidades mais relevantes para o perfume". "O preço é um diferencial. Podemos competir com as grandes marcas porque o nosso produto beneficia-se da alta do dólar", afirma o executivo.

Divulgação
Fonte da fragrância na sede da 4711, na Alemanha
Fonte da fragrância na sede da 4711, na Alemanha

Segundo Katoin, o clima brasileiro permite um perfume fresco como o "eau de cologne", de menos fixação que o "eau de toilette", a versão mais comum no mercado e que só perde em intensidade para o "eau de parfum". "Cada país tem seus próprios hábitos [para se perfumar], mas todos eles gostam de consumir história. Isso, nós temos."

Uma história cheia de fatos curiosos que, mesmo encobertas com o verniz do tempo, são motivos de orgulho para a cidade de Colônia, repleta de painéis da marca.

Da estação de trem até um prédio ao lado da catedral, fundada em 1248 e marco do estilo gótico europeu, o número 4711 está por todos os lados, assim como as cores dourada e azul Bremen (espécie de azul-petróleo), que colorem as estampas dos frascos.

A numeração remonta à época de Napoleão Bonaparte (1769-1821), quando o seu exército grafou com números as fachadas de casas da região ocupada.

Wilhelm Muelhens, que teria ganhado de um monge a receita do remédio que seria transformado mais tarde em água de colônia, havia se mudado recentemente para a residência 4.711.

Antes da adoção do nome 4711, Muelhens utilizou o nome Farina no rótulo para alavancar as vendas. A ideia causou uma longa disputa com a Casa Farina, fundada por Johann Maria Farina (1685-1766), que detém o título de criador da água de colônia, oficialmente lançada em 1709.

A batalha culminaria na mudança do nome no século 19 -a Farina ainda produz a água que leva o nome da cidade alemã.

Em uma fonte na sede da 4711, a poucos metros da concorrente, o líquido "milagroso" jorra de uma pia e atrai parte dos 385 turistas que visitam o ponto para cheirar a água.

Acometida por uma dor na nuca, a reportagem não bebeu, mas fungou um vidro da fragrância. Ainda bem que havia um remédio na bolsa.

O jornalista viajou a convite da 4711.

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