Em SP, uma centena assistiu à derrota do futebol feminino diante de uma carroça

Às 15h30 da terça (16), cerca de cem pessoas se aglomeravam num canto da praça da República. Mas não havia corpo, assaltante, carros batidos ou um pokémon raro na esquina entre as ruas Joaquim Gustavo e Pedro Américo.

Sobre uma carroça colorida se apoiava uma pilha de caixas de som potentes. As laterais do veículo ostentavam duas TVs de tela plana ligadas a uma antena parabólica. No meio da parafernália, uma pequena pilha de papelões.

O conjunto transmitia a semifinal olímpica Brasil x Suécia do futebol feminino em um canal pago. No início da prorrogação, 30 assistiam ao jogo ali. Alguns transeuntes sacaram o celular para registrar a intrigante cena.

Gabriela Terenzi/Folhapress
 Transeuntes param diante de TV em uma carroça para assistir a jogo de futebol feminino na praça da República, em São Paulo
Torcedores param em um dos lados de carroça para assistir ao jogo de futebol feminino em SP

Quando começa a cobrança de pênaltis, já são cem: jovens, velhos, homens de camisa social e sapato lustrado, moradores de rua, mãe e filha, vendedores ambulantes, dois entregadores de água. Nenhum dos espectadores se dá mais conta do inusitado. Alguns sentam no chão, transformando a praça em sala de estar coletiva.

"Olha a frente!", reclama um dos espectadores aos pedestres. Quando um táxi com o rádio ligado encosta na esquina, outro chama a atenção: "A narração aí tá adiantada, pô!".

Vibração e aflição a cada acerto e erro, respectivamente. Um vendedor de borboletas de madeira estava particularmente exaltado: mexia num dos brinquedos, que batia asas pra lá e pra cá.

Quando a meio-campo sueca Dahlkvist selou a vitória do time europeu sobre a seleção, um lamento ecoou na praça.

Em um segundo, a multidão se dissipou e sumiu no fluxo da metrópole. A realidade reinou novamente quando um homem pontuou: "Olha como são nossos políticos. Uma Olimpíada acontecendo no nosso país e nem governador nem prefeito foram capazes de instalar um telão na praça!". E saiu.

A carroça, porém, continuou ali.

Enquanto Marta e cia deixavam o campo em prantos, o olhar do catador Rodrigo Lucena, 30, também estava marejado. Acompanhou as cenas que ali se desenrolaram sentado numa árvore próxima, rodeado pela multidão de desconhecidos. "Investi nessa carroça para que as pessoas vissem que a gente, que é morador de rua, também tem seu valor", disse. "Vale mais do que uma casa."

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