Alalaô

Esqueça o camarote VIP, o charme do Carnaval em Olinda é a rua

Ainda não é Carnaval, mas em Olinda já é. Muito antes de o galo madrugar no maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada, na vizinha Recife, as ladeiras da cidade já seguram, desde janeiro, uma multidão de turistas, nativos e gente de passagem que acaba ficando para mais um bloco. E mais outro, e mais outro, até o Bacalhau do Batata, na Quarta-Feira de Cinzas, acabar com o sobe-desce.

A graça de Olinda não é a formalidade dos camarotes VIP, das pulseirinhas cujas tonalidades servem apenas para estratificar a alegria e definir com qual vodca sua caipirosca será batida. Também não são os abadás, ainda que tentem gourmetizar a folia com taças de cosmopolitan servidas em festas com ingresso a R$ 500, R$ 1.000, a depender da pulseirinha.

Vinicius Rodrigues/Pref.Olinda
Multidão na frente da Prefeitura de Olinda, ponto de encontro no Carnaval

O charme de Olinda no meio do Carnaval mais animado do mundo é a mistura de uva, leite condensado e sidra vendida a R$ 6, o tênis pisoteado, a camisa suja de lama, o zunido nos ouvidos depois dos gritos dos trompetes e a incrível capacidade de fazer você dançar cem vezes a mesma música, o hino "Vassourinhas" (1909), de Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, sem enjoar.

Ali, o Carnaval é tão antecipado que já na segunda-feira anterior à semana da folia a Noite dos Tambores Silenciosos enche os "quatro cantos" –cruzamento mais conhecido do centro histórico e que compreende as ruas do Amparo, Bernardo Vieira de Melo, Prudente de Morais e Ladeira da Misericórdia– com nações de maracatu oriundas de todo o Estado de Pernambuco.

Para não perder o passo, não há segredo, é só seguir o mantra de qualquer pernambucano em dias de momo, "Olinda de manhã, Recife Antigo à noite", e tudo correrá bem –isso se você deixar o celular em casa ou escondido no bolso junto ao dinheiro, porque roubos acontecem em qualquer lugar.

Esteja sempre preparado para gastar sola. O movimento de gente é tão grande que carros, a não ser os adesivados dos moradores, são proibidos. Um posto de gasolina no bairro do Varadouro é o limite. A partir dali, a ordem é seguir o fluxo, e ele sempre levará até uma das entradas da Cidade Alta, onde a festa acontece até o crepúsculo convidar para um descanso rápido. Menos no sábado.

É no primeiro dia oficial de festança que, à meia-noite, um dos blocos mais tradicionais de Olinda pede passagem. O visual do Homem da Meia-Noite é um mistério guardado até a sua saída, sempre no horário combinado, por entre as ruas do sítio histórico.

O boneco gigante, um calunga no sincretismo religioso, sai do largo do Bonsucesso, em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pretos, para cumprimentar os moradores da região seguido por milhares de pessoas. À 1h, fogos anunciam o início da folia olindense.

TODO MUNDO DOIDO

Fora do circuito, enquanto o Galo arrasta milhões, todo mundo pode ficar doido. O bloco "Esses boy tão muito doido" é uma espécie de renascimento da fantasia dos Carnavais de antigamente, em meio à pressão das ondas e dos safadões de plantão.

Fundada em 2007 por um grupo de jovens filhos de amantes do carnaval, a troça (uma orquestra carnavalesca, para quem não está acostumado ao termo) faz festas durante o ano e, no sábado de Zé Pereira, promove um "open bar" a partir das 9h e, depois, sai enlouquecido tocando marchas carnavalescas. A parte gratuita, nas ruas, vale o empurra-empurra.

Vinicius Rodrigues/Pref.Olinda
O bloco 'Eu Acho é Pouco', na praça do Carmo, em Olinda

Quem já deixou suor nos paralelepípedos olindenses sabe que escapar das aglomerações sufocantes é como ganhar na loteria. E se há crianças envolvidas, o melhor é se precaver e fugir dos pontos de ebulição.

Além dos Quatro Cantos, a rua do Bonfim e o Mercado da Ribeira estarão sempre lotados, sem uma faixa de chão aparente para pisar firme. Se o programa for com amigos, porém, se transformam nos melhores lugares para arranjar um par —além da rua 13 de maio, templo LGBT.

Na sede da Pitombeira dos Quatro Cantos, uma das principais agremiações do Carnaval, gente de todas as idades confraterniza embaixo do estandarte preto e amarelo que identifica o bloco. Marchas e músicas típicas soam todos os dias para embalar os pulos regados a litros de cerveja barata —até pouco tempo, três latas a R$ 10 em qualquer ambulante.

A badalação continua no domingo, às 10h, quando um Homem-Aranha desce do topo de uma estrutura de concreto dando as boas-vindas para os fantasiados do bloco Enquanto Isso na Sala da Justiça.

Fadas se encontram com personagens da Marvel, que só nessa época são vistos de papo com os rivais da DC Comics, e Sacis, Mickeys e Meninas Superpoderosas brincam como se não houvesse amanhã.

Crianças são sempre bem-vindas nessa Terra do Nunca, que toma todo o Alto da Sé, ao lado das melhores barracas de tapioca de queijo de coalho com coco do Estado, e é emoldurada pela vista mais famosa de Olinda.

Mas há sempre quem ache tudo pouco. Na terça, a última saída do bloco Eu Acho é Pouco, no pátio do Mosteiro de São Bento, coloca todo mundo debaixo de um dragão vermelho para entoar os últimos hinos de um Carnaval inesquecível.

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QUEM LEVA

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