Sem barriga, uma gravidez parece uma festa de aniversário de criança sem bolo nem velinhas. O evento acontece, mas falta uma parte bem importante. Tenho duas filhas de três anos, Rita e Cecilia, que nasceram por meio de uma barriga de aluguel na Índia.
Acompanhei a gravidez à distância, por e-mails e telefonemas à médica que fez o procedimento. A dona da barriga, Vanita, não fala nenhuma língua em comum comigo. Ela sabe gujarati e hindi, e eu, português e inglês.
Apesar de não ter perdido roupa ou ter passado pelo desconforto de somar os vários quilos que as grávidas costumam engordar, vivi meus momentos estranhos também.
Eu estava esperando gêmeos (não sabia o sexo até o nascimento, é proibido na Índia), tinha altos e baixos emocionais o tempo todo, mas ninguém me deixou passar na frente em uma fila ou me sentou primeiro no restaurante. Minhas noites de insônia não tinham origem física, mas aconteciam frequentemente.
Outro drama, esse mais profundo: quando você conta para os amigos que está esperando dois bebês? Com 12 semanas, quando é praxe entre as mulheres cautelosas? Mas por que não esperar completar quatro meses, já que a barriga não vai te dedurar? E, se esperou quatro, por que não cinco? Se cinco, por que não até completar o segundo trimestre?
Gravidez sem barriga pode ser secreta até o final. E isso não tem vantagem nenhuma.
A barriga chama a conversa para o bebê, e é só nisso que uma futura mãe pensa quase o tempo todo. Mas, com a cintura no lugar, o assunto não se impõe, e o tempo vai passando
Na hora em que saí do armário com minha barriga postiça, faltavam dois meses para o fim da gravidez. Que, sendo de gêmeas, durou só oito meses. Ou seja, amigos, família, conhecidos, colegas de trabalho tiveram um mês para fazer todas as perguntas que queriam e se acostumarem com a ideia de que, apesar de estar com o mesmo guarda-roupa de um ano atrás, eu estava gravidíssima.
Se tiver coragem de fazer tudo de novo, conto logo no primeiro dia. E ai de quem não me deixar passar na frente da fila...
LEIA MAIS: Mamães paulistanas contam como a maternidade transformou suas vidas