Teatro em contêiner atrai crianças, sem-teto e ex-dependentes químicos do centro

Tinha tudo para dar errado. A ideia de sete atores idealistas era erguer um teatro, sem contar com o envolvimento de um engenheiro ou de um arquiteto, usando contêineres, em um terreno ocioso da prefeitura na rua dos Gusmões, na Santa Ifigênia, perto da cracolândia. O local exibiria peças para crianças e adultos a preços acessíveis para todos os bolsos.

Mas algumas questões preocupavam a trupe desde o começo: como a vizinhança reagiria? Será que a expectativa da presença dos usuários de droga não poderia se transformar em repulsa por parte do público do teatro?

Quatro meses depois da inauguração, o Teatro de Contêiner é motivo de alegria para o ator Marcos Felipe de Oliveira, 33, e seus seis parceiros na Cia. de Teatro Mungunzá.

O público apareceu, os moradores do entorno se sentiram em casa, a criançada que mora por perto ocupou o playground externo e até grandes empresas surgiram com interesse de fechar parcerias.

O teatro foi feito usando dez containers comprados no porto de Santos e tem dois andares. No inferior ficam palco, plateia, banheiros e lanchonete. No superior, os camarins e um mezanino que está sendo preparado para receber artistas residentes.

O preço do ingresso é R$ 30. Quem vive ao redor pode comprar por R$ 5. Moradores de rua e usuários de droga em fase de recuperação não pagam nada. Para esses, a casa ainda conseguiu abrir uma exceção. Do outro lado da rua está o abrigo noturno do projeto Redenção, da Prefeitura de São Paulo. O horário de entrada para dormir é às 20h. "Conversamos com a coordenação e combinamos que quando alguém quer assistir a uma peça, essa pessoa pode entrar um pouco mais tarde", conta Felipe.

A vizinhança ficou sensibilizada desde o começo. "Não tinha mestre de obra por aqui, era a gente mesmo fazendo tudo. Quem foi se aproximando viu que era tratado com respeito. Isso era obrigatório para nós, porque estávamos no quintal da casa deles", avalia o ator. "Pensamos em um teatro e estamos virando um centro cultural. Um lugar de encontro, de mistura e de conversas."

*

Inspire-se em suas histórias:

Vizinhança voluntária leva segurança e arte à rua Joaquim Antunes, em Pinheiros

Pai de jovem morta em tragédia da TAM cuida de memorial às vítimas

Consultora ambiental ensina português a refugiados e os auxilia na integração no país

Nos Campos Elíseos, gentileza gera solução de problemas

Engenheira dá de comer a famílias de gatos abandonados no parque da Aclimação

Amigos percorrem a cidade de madrugada para levar agasalho e sopa a moradores de rua

Publicidade
Publicidade