Conheça o paisagista que concebeu a área verde da mansão de Doria e revitalizou o jardim da prefeitura

Para Gilberto Elkis, quem fica parado é planta. Não que esse homem de 57 anos, braços tatuados com temática japonesa (os quais movimenta com frequência e vigor), tenha algo contra plantas.

Muito pelo contrário, ele trabalha com elas: é um dos paisagistas de maior renome no país. Ele só gosta de uma agilidade que o reino vegetal não pode oferecer.

"Eu chutei o pau da barraca. Vim entrando, vim subindo e fazendo. Se não, tudo ainda estaria no mesmo pé", diz Elkis no 13º andar do prédio da prefeitura paulistana, no centro da cidade.

É a mais de 40 metros do vale do Anhangabaú, no topo do edifício Matarazzo (mas pode chamar de Banespinha, por causa das décadas em que o banco funcionava no local), que Elkis, cuja carta de clientes inclui Eliana e Malu Mader, anda passando grande parte do seu tempo. Ele foi o homem escalado por João Doria para revitalizar o jardim suspenso.

O primeiro passo do trabalho, iniciado em março deste ano, foi tirar dezenas de caçambas de entulho que havia se acumulado. "Tinha garrafa PET, estrutura de ferro, resto de obra, lata de tinta." Dez homens trabalharam em horário comercial durante semanas para conseguir dar conta do serviço de limpeza da área.

Em seguida, Elkis reorganizou e replantou as espécies que já estavam ali há décadas —o prédio foi inaugurado durante a Segunda Guerra, mas o jardim tem a mesma cara desde os anos 1970. Por causa do solo raso em que foram plantados, os exemplares mais altos têm de ser presos com cabos de aço, para evitar quedas.

A floresta elevada leva o nome de Walter Galera, que por décadas foi o jardineiro do prédio e plantou com as próprias mãos os pés que hoje formam um telhado verde com bambus, paineiras figueiras e dezenas de outras plantas. "Era um senhorzinho superbacana. Ele foi plantando mudinhas, sem saber que aquilo tudo ia 'pegar'." Só que a maioria das plantas vingou. "Não existe um projeto, é bem autoral."

Elkis pensou em impermeabilizar o chão, com alguns desníveis, mas é através das ranhuras no piso que as bases das plantas recebem água da chuva. As raízes emaranhadas formaram um segundo assoalho sólido abaixo das placas de concreto. O que não é a condição ideal, segundo três botânicos ouvidos pela reportagem —e também de acordo com o próprio paisagista.

"Eu não sei até quando esse jardim vai sobreviver. Mas enquanto está sobrevivendo deixa sobreviver", diz.

Quem entrar ali —o local foi aberto para visitações em 2015, por Fernando Haddad— verá uma obra quase pronta. Ainda falta a tinta cinza e preta para dar o acabamento no chão, que "deve ser doada em breve por uma empresa", segundo o paisagista. Além da tinta benemerente, ele espera ainda a doação de novas luzes ("LED, obviamente"), que devem vir de uma multinacional de eletrônicos.

O jardineiro já fez outros trabalhos para o prefeito. "Eu fiz a casa dele, dez anos atrás", conta, referindo-se à ­mansão do prefeito, no Jardim Europa, na zona oeste.

Questionado como é a flora da casa em que o mandatário paulistano vive, uma das dez maiores da cidade, ele desconversa: "Muita coisa, é melhor nem citar." Ele afirma ter recebido de Doria uma "liberdade sensacional" e um "impulso fundamental" para o bom andamento do trabalho.

Qual é a diferença entre um projeto para um empresário e para o setor público? "O cliente particular tem desejos particulares. Quando você faz um trabalho público, tem uma liberdade maior, mas tem restrições de verba." A verba, nesse caso, era de zero reais.

Quando o trabalho estiver concluído será logrado um termo de doação do material e da mão de obra utilizados. Por ora, não há nenhum documento assinado. "Foi uma coisa que fiz com prazer", diz Elkis.

Prazer maior que o trabalho, diz ele, só o de ouvir o canto dos pássaros que ali gorjeiam e que aproveitam o banquete de mamão e banana num viveiro que ele colocou.

*

O PREFEITO E O JARDIM
Como cada gestão cuidou da área, segundo três funcionários decanos da prefeitura

MARTA SUPLICY
2001 a 2004
Na gestão da ex-petista, que mudou a sede do governo para o prédio em 2004, o jardim era usado para eventos. Marta tinha apreço pelas plantas, dizem servidores que trabalham lá desde então.

JOSÉ SERRA
2005 a 2006
Na passagem de pouco mais de um ano pela prefeitura, Serra encerrou a visitação alegando que o fluxo de aeronaves no heliponto em cima do jardim impossibilitava visitas.

GILBERTO KASSAB
2006 a 2012
O prefeito permitia que funcionários almoçassem ou fizessem pausas no jardim, mas a área verde seguia fechada para o cidadão comum.

FERNANDO HADDAD
2013 a 2016
O petista retomou as visitas públicas ao local em 2015, ainda que o paisagismo do lugar não fosse prioridade. Funcionários antigos dizem que foi o período em que mais entulho foi para o jardim.

*

PARA VISITAR
Quando: seg. a sáb, às 10h30, 14h30 e 16h30.
Onde: chegar com uma hora de antecedência à recepção do edifício Matarazzo (viaduto do Chá, 15).
Quanto: grátis

Publicidade
Publicidade