Após adoção multiparental, mães registram filha com três sobrenomes

Dez anos atrás, quando ajudou uma mulher a socorrer a filha que passava mal no metrô, a securitária Juliana Pelegrin, 43, não imaginava que o destino as ligaria. Na ocasião, ela levou Cida e a filha Kéren, que tem problemas neurológicos, para o Hospital das Clínicas.

Mantiveram desde lá a amizade. Em 2016, Kéren engravidou pela segunda vez. Muito doente, não tinha condições de cuidar da bebê. Cida então propôs para Juliana e a esposa dela, Soraia, que adotassem sua neta.

"Nós estivemos presentes durante toda a gravidez. Eu acompanhei o parto da Kéren", conta Soraia, 31, estudante de pedagogia. A adoção era consensual entre mãe, avó biológica e mães adotivas. As irmãs poderiam crescer juntas. A criança, que ganhou o nome de Maria Flor, não perderia, assim, o contato com a família biológica.

Após o nascimento, Soraia e Juliana, que moram no Alto da Mooca, entraram com o pedido de guarda da menina. Por não terem vínculo sanguíneo, a juíza pediu acolhimento da bebê até esclarecer se elas não estavam, na verdade, tentando furar a fila da adoção.

"Tivemos que nos separar por dois meses e meio de nossa filha. Foi um choque", relata Soraia. Nesse tempo, as mães juntaram provas de que conheciam a família da criança que mantinham contato direto.

A adoção de Maria Flor foi tida como multiparental, entendimento jurídico que reconhece vínculos biológicos e também afetivos. A pequena, hoje com um ano e nove meses, ganhou em seu registro de nascimento três mães: Kéren (biológica), Soraia e Juliana (adotivas). E três sobrenomes: Maria Flor Simões Camarotto Pelegrin –um para cada mulher que a formou.

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Entregar a nossa filha para uma assistente social foi difícil. Todo o resto fica pequeno perto disso

Soraia Camarotto, 31

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