Empresária relata adoção de menina que vivia na rua: 'só queria poder cuidar dela'

Se há um ponto em que as histórias da empresária Simone de Abreu, 42, e de sua filha Mikaeli, 10, convergem-se, é o fato de que ambas foram amparadas.

Simone foi adotada quando tinha só oito meses por uma família recém-chegada da Paraíba. Sua mãe tinha outros 12 filhos e não pensou duas vezes antes de acolher a bebê, oferecida de porta em porta pela genitora.

Anos mais tarde, a família entrou com o pedido para legalizar a adoção no fórum de Santo Amaro, onde moram. "Na época, a juíza entendeu que eu deveria ser criada por quem tivesse mais condições financeiras. Foi uma luta para ficar", conta, emocionada.

Acompanhar o esforço da mãe para continuar com sua guarda motivou a empresária a replicar a atitude. Mesmo com dois filhos biológicos já adolescentes, ela decidiu adotar mais um. Deu início ao processo judicial no mesmo fórum da zona sul que cuidara de sua adoção, há mais de 30 anos.

"Quando eles me ligaram, Mikaeli tinha oito anos e havia acabado de ser destituída." Cuidar de uma criança mais velha, a chamada adoção tardia, não estava nos planos. Mas Simone quis saber quem era aquela garota cuja história era tão forte.

Assim conheceu a filha. Gestada por uma dependente química, a menina foi criada por outro casal de usuários de drogas. Viveu nas ruas até os sete anos, provendo dinheiro e comida aos dois. "Eles a queimavam se ela fazia alguma coisa que não agradava. Só queria poder amá-la. Cuidar dela", lembra.

Mikaeli foi morar em um abrigo após uma denúncia. Lá, aprendeu a comer sentada à mesa, a usar o banheiro, ir para a escola.

A aproximação com os novos pais foi acontecendo aos poucos e, no dia 8 de maio de 2016, o juiz deu a autorização para ela passar o primeiro fim de semana na casa de Simone. Era Dia das Mães.

Junto com a família, a menina fez amigos, descobriu que gosta de ler e até palestrou para os colegas de classe, para explicar que é negra [e sua mãe branca] porque é adotada. "Sempre digo que ela não deve ter vergonha de sua história", enfatiza a mãe.

Simone também mudou. "Antes paparicava meus filhos. Mas percebi que a Mikaeli não precisava de mimo, só de segurança."

O processo de adoção foi finalizado em janeiro deste ano e agora a menina vai ganhar o sobrenome dos pais. E um novo nome: se chamará Mikaeli Virgínia, em homenagem à avó que, com 12 filhos, abriu as portas de casa e acolheu sua mãe.

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Tem preconceito, sim. Mas, ao contrário do que as pessoas pensam, não estou fazendo caridade. Só escolhi aumentar a minha família

Simone de Abreu, 42

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