Para algumas mães paulistanas, educar os filhos vai além dos bons modos à mesa e de ensinar a escovar os dentes antes de dormir. Envolve também ciclovias, vento no rosto, capacete e interagir com a cidade em cima das rodas de um bicicleta.
A fotógrafa Ana Fediczko, 37, pedala há mais de 15 anos. Há seis, virou mãe com a chegada de Sofia, quando "ficou um pouco medrosa" e se afastou da magrela. Com o nascimento de Catarina, hoje com três anos, voltou para o pedal, com duas cadeirinhas para levar a nova família.
Quando engravidou de Teresa, hoje com nove meses, viu que era hora de trocar de bicicleta para caber todas as filhas. Pedalou até alguns dias antes do parto e importou da Holanda uma "bakfiet", bicicleta cargueira com uma espécie de caixa na dianteira.
"Elas odeiam sair de carro, reclamam muito quando precisamos. Acho que o ato de andar de bicicleta cria outra relação entre as crianças e a cidade. Elas observam mais as coisas, interagem, é diferente."
Para a veterinária Ana Carolina Penna, 40, o gosto pelas duas rodas –assim como qualquer outra atividade– surge na infância, quando as crianças veem os pais e resolvem imitá-los. Sua filha, Isabela, 10, não só a acompanha nos pedais de fim de semana como também já se meteu num treino com o grupo de ciclistas que a mãe faz parte.
"A gente não pode querer que elas gostem do que a gente gosta. Mas pode incentivar."
Ana Carolina acredita que o interesse de Isabela não é só uma questão de se espelhar nos interesses da mãe, mas faz parte de um novo contexto. "Ela vê um grupo de mulheres incríveis que pedalam e são muito boas nisso e fica encantada ao também ter essa possibilidade", explica.
Um dos principais desafios de incluir a bicicleta na vida da família ainda é o trânsito e a atenção redobrada ao dividir espaço com os carros. Ela diz que não se sente à vontade ao usar a magrela na rua com as crianças, preferindo parques ou as ruas vazias da Cidade Universitária.
Para Ana Fediczko, a relação dos motoristas com as bikes piorou no último ano. "A ideia de acelerar São Paulo, no fim das contas, incitou o motorista a não respeitar sinal vermelho, faixa de pedestre, ciclovia. Parece que as pessoas não entenderam bem."
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