Pets 'vegetarianos' abrem mercado para rações sem proteína animal

Biscoitinho de alfarroba com ora-pró-nobis. Risoto de arroz sete grãos, shimeji e carne de soja. Cookie de pasta de amendoim com maçã. Parece cardápio de quem está iniciando uma dieta mais saudável e natural –e, de fato, é. Mas, nesse caso, o consumidor tem quatro patas, pelos e não raro gosta de latir ou de miar para chamar a atenção.

Preocupados com a saúde de seus animais (e com que tipo de comida eles colocam na pança), tutores têm alimentado um nicho de mercado que só cresce: o de alimentação vegetariana e orgânica para pets. "A humanização cria essa demanda. São pessoas que podem nem se atentar para o que estão comendo, mas que procuram alimentos com menos transgênicos e conservantes para seus pets", afirma Rodrigo Bazolli, 42.

Rodrigo Fortes

O veterinário é proprietário da Dr. Stanley, que fabrica biscoitos, palitinhos e outros alimentos orgânicos para cães. Há cinco anos no ramo, a empresa de Indaiatuba, no interior de São Paulo, tem na capital paulista 80% de seu faturamento. E o produto mais vendido é, adivinhem: a ração vegetariana. "Temos clientes que são vegetarianos ou veganos. Mas outros não são e procuram essa opção porque seus bichinhos têm alguma intolerância à proteína animal", conta Rodrigo.

Também de olho nesse mercado, Victor Ramos, 31, proprietário do ecommerce VegPet, lançou em março uma ração vegana de fabricação própria: a Bicho Green. O produto é o único no país que oferece também uma linha para gatos. "Na Itália e na Inglaterra, esse tipo de ração existe há anos. Resolvemos trazer para o Brasil e trabalhar esse conceito. Dá para extrair os nutrientes que os pets precisam da fonte vegetal", diz.

Cinco meses depois do lançamento, a empresa duplicou a produção e já fabrica de três a quatro toneladas por mês. O curioso é que 70% dos clientes não são adeptos da dieta sem origem animal. "Vegetarianos e veganos têm uma simpatia natural pelo produto, é claro. Mas a maior parte do público quer só oferecer uma alimentação mais natural para o pet, ou a procura para ajudar a tratar dermatites e outras doenças de pele."

DONO VERDE, BICHO VERDE

Foi no intuito de encontrar uma comidinha gostosa e com menos conservantes para seus três gatinhos que a social media Fernanda Santos, 26, moradora do Cambuci, no centro, passou a comprar a ração vegana. "Sou vegana também e não tenho aquela preocupação de fazer quem está à minha volta ser", diz. "Mas só de saber que eles estão comendo bem e sem prejudicar nenhum animal, minha consciência fica tranquila."

A cirurgiã-dentista Débhora Fernandes, 25, vegetariana e moradora do Belém, queria acabar com a marca da lágrima ácida de sua poodle Pandora. A danada da mancha não sumia de jeito nenhum. "Com a ração vegana, melhorou muito. E penso que não tem sentido matar um bicho para alimentar outro se hoje existem mais opções", diz ela, que oferece os grãos de origem vegetal para as duas cachorrinhas –Pandora e a york Mima– desde o começo do ano.

O que não se sabe, ainda, são as consequências de retirar da dieta de cães e gatos, animais naturalmente carnívoros, a proteína animal. "A principal questão para mim é que não há nenhum estudo que comprove o impacto disso a longo prazo", expõe Daniela Mol Silva do Valle, 36, veterinária especialista em felinos. Ela lembra que cães e gatos vivem, em média, 15 anos.

O fato é que, seja para introduzir alimentação vegana, natural ou orgânica, seja para simplesmente trocar o pacote de ração de frango pelo de cordeiro, é preciso consultar um profissional. "A orientação deve vir do veterinário, e não é recomendado fazer trocas brutas. Tem que ser gradualmente", explica Daniela.

Com os exames certos em mãos, é possível verificar se o animal não tem alguma hipersensibilidade gastrointestinal. Afinal, quando o papo é comer bem, não sobra espaço para dor de barriga.

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VITRINE

Os preços e disponibillidade foram checados em 16/8 e podem sofrer alterações

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