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Empresas oferecem vivência no exterior para atrair talentos

Morar fora do país sem deixar o trabalho é o principal atrativo dos programas de mobilidade internacional, que permitem a um funcionário a vivência de três a 24 meses no exterior.

É bom para todo o mundo: os empregados têm parte das despesas custeadas e
ganham experiência; já as empresas usam o intercâmbio como forma de preparar colaboradores para ocupar cargos estratégicos, motivar suas equipes e melhorar o relacionamento global entre seus escritórios.

"Essas experiências são um acelerador de formação. Viver um ou dois anos fora do Brasil traz um aprendizado muito rápido de gestão e liderança e um amadurecimento pessoal que nenhum MBA pagaria", diz Antônio Salvador, vice-presidente de RH do Grupo Pão de Açúcar.

O grupo envia dez brasileiros por ano para uma temporada na França, na Colômbia e na Argentina. A oportunidade é para jovens de 25 a 35 anos nas suas primeiras funções gerenciais, como coordenador ou analista sênior.

"Não é algo a que todos podem se candidatar. É um processo de gestão de talentos para possíveis sucessores", afirma Salvador.

No banco Santander, que tem quatro programas de mobilidade internacional, o processo seletivo é rigoroso e testa domínio de idioma, liderança e desempenho.

Na empresa há sete anos, a analista de marketing Isabel Oliveira, 27, começou como estagiária já de olho na chance de trabalhar fora do Brasil. Agora, prepara-se para uma temporada de dois anos em Londres.

Adriano Vizoni/Folhapress/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 03-01-2017, 16h20: PERSONAGEM CARREIRAS. Retrato de Isabel Giulia da Silva Oliveira, anaslita de marketing do Santander e que acabou de ser selecionada para uma temporada de dois anos em Madri. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, CARREIRAS) ***EXCLUSIVO FSP***
A analista de marketing Isabel Giulia da Silva Oliveira, 27, no banco em que trabalha, em SP

"A seleção teve várias etapas, que incluíram análise do gestor, dinâmica de grupo e entrevista com gestores da Espanha [onde fica a sede]. O processo foi focado no autoconhecimento e nas pessoas que realmente estivessem dispostas a ter uma carreira internacional. Não é fácil abrir mão de família e amigos em busca de crescimento profissional", afirma Oliveira.

Quem já passou pela experiência diz que o esforço compensa. Analista de auditoria contábil da EY, Marina Nogueira, 30, passou seis meses em Chicago entre 2015 e 2016.

"O procedimento da empresa é o mesmo, mas a cultura das pessoas é diferente. Trabalhei com gente de várias partes do mundo e isso me tornou mais preparada. Hoje, minha comunicação com a equipe dos Estados Unidos é muito melhor", afirma.

UM LEÃO POR DIA

Analista de fusões e aquisições do banco BNP Paribas, Yan Vogel, 25, entrou na instituição em 2013 como estagiário. Em 2015, foi para Paris e neste mês vai para Nova York.

Fluente em inglês e espanhol, antes da primeira viagem Vogel teve aulas de francês pagas pelo banco. Mesmo assim, não foi fácil.

"Eu tinha duas preocupações: entender o francês e o conteúdo das reuniões. Como expatriado, é preciso matar um leão por dia", conta.

Algumas empresas usam esses programas para atrair e reter jovens talentos. É o caso da AkzoNobel, companhia de tintas e revestimentos, que recebe inscrições de quem não trabalha na empresa para participar do programa internacional de formação de líderes.

O projeto, que está com as inscrições abertas, seleciona dez jovens no mundo por ano -os brasileiros ficam com duas ou três vagas.

"Procuramos executivos que já tenham MBA, quatro anos de experiência em liderança de processos, com disponibilidade para ir a qualquer lugar do mundo e com ambição de crescer", afirma Francisco Farias, diretor de RH da AkzoNobel.

Formada em engenharia mecânica e com pós-graduação em gestão industrial, Thaís Paiva, 32, participou do programa entre 2012 e 2014, e passou por EUA e Suécia.

"Foi fundamental para a mudança que eu buscava na minha carreira. Desenvolvi um projeto na área de marketing, que foi a área em que eu decidi atuar", diz Paiva, que atualmente trabalha como gerente do setor.

Para a vice-presidente de recursos humanos do Santander, Vanessa Lobato, a volta do funcionário ao Brasil exige um cuidado especial do gestor para que ele não se sinta frustrado.

"É um profissional em ascensão, que foi desafiado e precisa colocar em prática o que aprendeu."

CURSOS SÃO ALTERNATIVA

Quem não tem a chance de fazer um intercâmbio na própria empresa pode recorrer a cursos em universidades, como extensões e pós-graduações, que podem dar direito a estágios e trabalho remunerado por até um ano após o fim dos estudos.

De acordo com agências de intercâmbio, Estados Unidos e Canadá são os países que mais recebem brasileiros com esse objetivo.

"Experiência internacional é um diferencial hoje. Por isso, o mercado de programas profissionalizantes cresceu muito em 2016 e segue como tendência em 2017", afirma Bruno Contrera, gerente de produto da STB.

Com exceção das áreas médicas e de direito, é possível estudar e estagiar em todos os ramos. Os mais procurados são administração, marketing, tecnologia e engenharia. Para participar, é preciso ser aprovado em teste de proficiência em inglês.

Zanone Fraissat/FOLHAPRESS/FOLHAPRESS
SAO PAULO/SP BRASIL. 04/01/2017 -Retrato da engenheira Thais Paiva, gerente de marketing da AzkoNobel.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, EMPREGOS)***EXCLUSIVO***
Thais Paiva, da AkzoNobel, empresa que seleciona líderes em potencial para experiência no exterior

Eduardo Frigo, gerente de produtos da CI, conta que os programas de extensão na Califórnia incluem três meses de estágio e dão a possibilidade de o aluno tirar visto para trabalhar por mais um ano. "É a forma que muitos brasileiros encontram para ficar nos EUA", diz Frigo. A busca pela vaga cabe ao estudante.

O investimento médio nesse programa é de US$ 17 mil (R$ 54,5 mil), sem contar as despesas com moradia.

Já os programas nas universidades do Canadá têm duração de até três anos e o estudante pode tentar um visto de trabalho para o mesmo período. O valor médio para estudar no país é de 12 mil dólares canadenses por ano (R$ 29,1 mil). "O país tem uma demanda em diversas áreas", observa Contrera.

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PLANO DE VOO

Como conquistar uma vaga no exterior

  • O primeiro passo é conseguir uma vaga em uma empresa multinacional aqui no Brasil que tenha programas de mobilidade internacional. Em geral, esses intercâmbios duram de três a 24 meses
  • Conheça a cultura da empresa e tenha um plano a longo prazo na companhia. A maioria dos empregadores investe em quem tem tempo de casa. Boa parte dos enviados estão na faixa dos 30 anos
  • Demonstre aos seus gestores seu interesse em ir para o exterior e se prepare. Os funcionários são escolhidos por seu desempenho e capacidade de liderança. Boa formação e conhecimento técnico também fazem a diferença
  • Garanta que o seu inglês esteja impecável para falar, escrever e fazer negócios. O idioma é fundamental no processo seletivo. Caso você vá com um visto de pós-graduação para EUA ou Canadá, é preciso fazer um teste de proficiência
  • Antes de fazer as malas você deve estar preparado para enfrentar um período de adaptação a uma cultura e a um clima diferentes. Quem pensa em levar a família deve se preocupar com isso-muitas vezes, os parentes sofrem mais com a mudança
  • Quem não tem a opção de fazer um intercâmbio na própria empresa pode recorrer a programas de agências que conciliam estudo e trabalho. Nesse caso, o estudante faz uma pós-graduação e cabe a ele pedir visto de trabalho e buscar um emprego
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