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Área de RH digitaliza processos e dá autonomia a funcionários

Passar no RH não costuma evocar as melhores lembranças. Na pior das hipóteses, a visita seria sinônimo de demissão. Na melhor, envolveria assinar uma papelada imensa e esperar séculos para a demanda ser atendida.

Mas recursos humanos não precisam ser burocráticos. Há um esforço das empresas para que a gestão de pessoas seja mais ágil, mais simples -reduzindo prazos e papéis.

Para isso, a tecnologia tem sido fundamental: em algumas companhias, as férias estão a dois cliques de distância. Em outras, processos de recrutamento ficam mais rápidos com a ajuda de testes e entrevistas via computador.

Patricia Feliciano, diretora-executiva da consultoria Accenture, diz que há cerca de um ano vem trabalhando com empresas para entrar com força na era digital desde a fase de recrutamento.

"Temos uma plataforma, como se fosse um Skype, integrada com o processo de recrutamento. Eu faço a entrevista, posso gravar e já dou o resultado on-line mesmo", conta. O sistema também analisa quais currículos têm mais a ver com a vaga e permite que o candidato teste conhecimentos úteis à função.

Zanone Fraissat/FOLHAPRESS
SAO PAULO/SP BRASIL. 26/01/2017 - Fernando Rodrigueiro trabalha como porta-voz do RH da da Unilever.(foto: Zanone Fraissat/FOLHAPRESS, EMPREGOS )***EXCLUSIVO***
Fernando Rodrigueiro, diretor de RH na área de consumer development da Unilever

Dessa forma, um processo seletivo que pode levar meses e muitas visitas à empresa fica mais curto e prático para entrevistadores e entrevistados. Se o candidato for contratado, também pode fazer a integração via computador, com simulações.

SISTEMA LENTO

Há burocracias, porém, que independem de boa vontade da empresa. "Nossa legislação ainda não foi alinhada à nossa realidade atual", comenta Patricia. Se você quer tirar férias, é preciso fazer um aviso. Mas dá para fazer via internet, sem papéis.

É o que faz o Google, por exemplo. "Tudo que a gente pode, a gente automatiza", diz Mônica Santos, diretora de RH da empresa. "Cada país tem sua legislação. O Brasil, comparativamente, gera muito mais papel." Na rescisão, por exemplo, são feitas cinco vias, que nem são utilizadas. "É um ranço burocrático da nossa história."

Com sistemas on-line, muitos processos nem passam pelo RH. Voltando ao exemplo das férias: no Google só depende do funcionário entrar no site e marcar a data. "O RH não tem nada a ver com isso. Não tem por que eu controlar", diz Mônica.

Na Ambev, desde 2015 demandas podem ser feitas por um aplicativo. Segundo Gisele Takekawa, 43, especialista de gestão e projetos da empresa, o projeto foi desenvolvido para dar autonomia aos funcionários e desafogar o RH dos processos mais burocráticos. "Autonomia sempre traz mais satisfação", diz.

Ainda existe um call center do RH, mas a frequência de ligações é cada vez menor. "Querendo ou não, quando você liga há uma espera. O sistema on-line está disponível a qualquer hora, e o call center só funciona em horário comercial", afirma Gisele.

Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 24-01-2017, 14h30: Foto da Gisele Takekawa, 43, (de branco) com sua equipe. Pauta e sobre como agilizar e simplificar processos no RH e diminuir a burocracia. Tambem como a tecnologia tem ajudado. A equipe da Ambev usa um aplicativo de RH. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, FSP-SUP-EMPREGOS) ***EXCLUSIVO***
Gisele Takekawa (de branco), especialista em gestão da Ambev, com a equipe de RH

Na Unilever, o sistema de RH também tem acesso via celular. "O caminho de ser um RH mais tecnológico é um fato na organização", diz Fernando Rodrigueiro, 38, diretor de recursos humanos para a área de consumer development na empresa.

"Estamos buscando novas alternativas para documentação digital e outras plataformas de conexão dos funcionários com os provedores de benefícios", afirma.

Rodrigueiro ressalta que papelada não é necessariamente sinônimo de problema. "Só passa a ser um obstáculo na boa gestão de funcionários quando falamos de burocracia desnecessária, com controles extremos, várias hierarquias envolvidas em uma tomada de decisão."

"A burocracia que se relaciona ao cumprimento de legislação e exigências do nosso país é necessária e importante para que toda gestão seja feita dentro de padrões corretos e devidos."

A tendência é que cada vez menos o RH se envolva em minúcias desnecessárias e que a gestão seja descentralizada. "A primeira sensação que tive no Google foi que o RH não tinha poder. Depois entendi que esse era o poder", diz Mônica. "A cultura, as decisões, as conversas, isso não passa pelo RH, são as pessoas que fazem."

DESCENTRALIZAÇÃO

Menos burocracia e mais tecnologia não é vantajoso só para o RH. Uma redução no tempo gasto com papelada pode significar mais tempo para a área verificar, por exemplo, se os funcionários estão motivados e se têm oportunidades de crescimento.

Segundo Fernando Rodrigueiro, diretor de recursos humanos na Unilever, o RH não pode ser só um balcão de atendimento. Deve se antecipar aos problemas da empresa e oferecer a todos a melhor experiência possível.

Uma tecnologia que pode ajudar o RH a melhorar concretamente a vida dos funcionários é o people analytics -uma análise de dados aplicada à gestão de pessoas já usada por empresas.

Coletam-se informações de diversos tipos -de comportamento, produtividade- para chegar a padrões e promover melhorias. No Google, a análise fez com que o número de entrevistas para conseguir um cargo fosse reduzido.

As pesquisas também serviram para estimular a alimentação saudável dos colaboradores. Os dados mostraram que produtos localizados em prateleiras na altura dos olhos eram mais consumidos. Resultado: os refrigerantes foram parar na parte de baixo da geladeira.

"Há uma fantasia de que analytics é complexo. Não é. É usar ciência para tomar decisões", diz Mônica Santos, diretora de RH do Google.

Valéria Marreto, superintendente da área de pessoas do Itaú Unibanco, explica que as ferramentas não tiram o caráter humano do setor. "Sempre haverá um aspecto qualitativo e subjetivo. Porém usaremos a tecnologia para gerenciar de forma mais efetiva o que temos de mais importante: as pessoas."

O banco notou que, quando abriam um concurso interno para uma vaga, só 10% das pessoas qualificadas se inscreviam -por falta de interesse ou medo de se expor.

Agora, o gestor verá uma lista de todos os funcionários com perfil para o cargo. "Isso vai permitir um melhor aproveitamento dos talentos, possibilitar uma maior mobilidade interna, além de estimular a meritocracia", diz Marreto.

Para Deli Matsuo, CEO da Appus, especializada em analytics, os estudos tendem a tornar as tomadas de decisões mais justas, e isso é bom para empresa e funcionários.

"Se as pessoas estão felizes, motivadas pra trabalhar e são brilhantes, vão produzir coisas incríveis. Quanto mais a empresa investir na indicação das pessoas corretas e na aceleração do seu potencial, mais vai se beneficiar. É um ciclo virtuoso."

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