Mais do que viver uma crise temporária, o mercado de trabalho no Brasil sofre mudanças estruturais, trazidas pelos avanços tecnológicos e interesse cada vez maior na construção de uma carreira longe do molde tradicional.
A boa notícia é que isso não significa que não haverá trabalho, apenas que o peso do emprego tradicional no mercado tende a diminuir.
Assim, se até então todos os profissionais eram aconselhados a cuidar da sua empregabilidade, atualmente ganha importância o conceito de "trabalhabilidade".
Rosa Krausz, coach executiva e empresarial, publicou um livro sobre o tema já em 1999. "Criei esse termo para contrapô-lo à empregabilidade. Posso desenvolver minhas capacidades para encontrar um meio de vida que não seja um emprego", afirma.
A ideia é gerar renda para si mesmo usando seus conhecimentos, competências e habilidades, identificando o que sabe e gosta de fazer e que possa ser vendido. Com isso, é possível ganhar mais autonomia profissional e diversificar fontes de renda.
A forma como as empresas encaram o assunto também vem mudando.
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"Há alguns anos apenas empresas de vanguarda viam com bons olhos essa independência. Hoje, diria que 70% das organizações já enxergam isso de forma positiva, porque a pessoa tem outras oportunidades, está ali porque quer", afirma Irene Azevedoh, diretora da empresa de RH Lee Hetch Harrison.
Não é necessário abrir mão do emprego para desenvolver a sua "trabalhabilidade". A administradora Joselita Cunha, 48, é diretora financeira de uma empresa na área de saúde e se tornou instrutora de meditação em 2012.
"Há dez anos eu estava passando por uma fase difícil após uma separação e adotei a prática. Mas também gosto muito da área financeira. Então vejo um propósito e me sinto realizada nas duas atividades, sem que uma interfira na outra", conta.
A capacidade de se adaptar e de gerenciar a própria renda é fundamental para quem não quer depender de um único empregador. "Quando você está empregado, a empresa faz muito desse gerenciamento por você: retém o imposto de renda, deposita o FGTS, recolhe o INSS", destaca Elaine Saad, presidente da ABRH Brasil (Associação Brasileira de Recursos Humanos).
Para Fabio Sandes, 39, trilhar o caminho da independência compensou. Ele era gerente de produtos em uma empresa e perdeu o emprego em 2015. Resolveu fazer doutorado, mas precisava de renda. Conseguiu trabalho de consultoria em uma empresa no Rio Grande do Sul, para onde vai esporadicamente.
Ao mesmo tempo surgiu a oportunidade de dar aulas e coordenar um programa de pós-graduação. "No começo foi difícil gerenciar meu tempo, mas aprendi a me organizar. Trabalho mais, mas sinto menos. Ganho o dobro do que quando era funcionário."