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inteligência artificial

Ensino aposta na fusão de áreas para tentar criar novo profissional

Instituições de ensino superior têm se preocupado em abrir o leque pedagógico e oferecer cursos e disciplinas optativas voltados a uma educação integral, que contemplem o desenvolvimento de habilidades técnicas em conjunto com o estudo de outros ramos do saber. O objetivo: formar um profissional completo.

A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), por exemplo, tem o bacharelado em ciência e tecnologia, um curso de três anos que abrange o ensino de matemática, computação e de ciências naturais e humanas. A UFABC (Universidade Federal do ABC) oferece o bacharelado em ciências e humanidades, que forma o estudante em ciências naturais e sociais e em filosofia.

Na USP (Universidade de São Paulo), há um convênio entre a Escola Politécnica e a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), com o qual o estudante de engenharia civil pode complementar a formação com disciplinas de arquitetura.

A aluna de engenharia Fernanda Souza, 23, participa do convênio. "Sentia falta de uma perspectiva mais humana e vi em arquitetura e urbanismo a oportunidade de completar a minha formação", diz.

Fábio Cozman, presidente da comissão de graduação da Politécnica, afirma que a fusão entre as ciências é uma realidade demandada pelos alunos. "A tendência é global e irreversível. Além das atividades e cursos interdisciplinares, muitos alunos escolhem optativas de outras unidades", diz.

A parceria entre humanidades e exatas na formação é tema de um livro recém-lançado no Brasil, "O Fuzzie e o Techie", do norte-americano Scott Hartley. Para ele, as ciências humanas estão no coração de qualquer produto tecnológico.

"Se você observa qualquer aplicativo ou website, há um menu de escolhas. O programador está tentando resolver um problema para o usuário, prever o que ele quer, resolver algo para ele. Isso requer uma compreensão real da pessoa, um entendimento de psicologia", afirma o autor.

Com passagem por dois cursos muito distintos -história e engenharia elétrica, ambos pela USP-, John Mendes, 29, faz atualmente estágio com projetos de inteligência artificial na diretoria de engenharia de dados Itaú-Unibanco.

"O curso de história me deu uma formação analítica muito sólida e me permite hoje dar passos atrás e enxergar problemas de forma sistêmica, o que custa muito para o engenheiro aprender", diz ele, que se formou em história em 2012 e está no último ano de engenharia.

"A história me mostrou que a humanidade está sempre se reinventando. Vi na engenharia mil possibilidades de fazer parte dessa eterna evolução e acabei me envolvendo com inteligência artificial."

Para Hartley, o aprendizado em ciências humanas pode ajudar a formar um profissional de tecnologia mais completo, que saiba inclusive lidar com dilemas éticos de forma mais profunda.

"A tecnologia não é mágica. É feita por pessoas com suas próprias perspectivas de mundo. Quando decidimos incluir ou excluir dados, estamos lidando com questões essencialmente éticas. Programar requer engenharia e matemática, obviamente, mas também requer filosofia e psicologia", afirma.

Formado em filosofia e administração, Cesar Bullara, diretor do departamento de gestão de pessoas do ISE Business School, ressalta a importância de uma boa formação ética para qualquer profissional. "A ética ajuda na tomada de decisões que considerem não somente a eficácia, mas também o melhor modo de atuar. Serve para que entendamos a diferença entre o utilitarismo e o genuíno interesse pelas pessoas", afirma.

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