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litoral e interior

Moradores de Santos, pioneiros do surfe nunca se consideraram surfistas

Duas décadas antes de Pelé estrear pelo Santos, em 1956, a cidade do litoral paulista já tinha a sua realeza esportiva. A modalidade era outra, mais ligada à geografia da região: o surfe. E a coroação viria só anos mais tarde.

Thomas Rittscher (1917-2011) e Osmar Gonçalves (1921-1999), moradores de Santos na década de 1930, são hoje considerados os pioneiros do esporte no país.

Poucos anos separam os feitos pelos quais ficaram marcados. Em entrevista publicada na Folha, em 2001, Rittscher afirmou ter deslizado sobre as águas santistas pela primeira vez entre 1934 e 1936. Já a surfada original de Gonçalves foi em 1938.

Mas mais de uma década separa a "descoberta" dos fatos. Entre 1980 e o fim dos anos 1990, Gonçalves era "o" precursor. Até que na entrada do novo milênio veio à tona a história de Rittscher.

Nascido nos EUA, o "pioneiro tardio" se mudou para o Brasil aos 13, seguindo o pai, comerciante de café.

Por causa de sua origem e do trabalho do patriarca da família, Rittscher conseguiu colocar as mãos numa edição de 1933 da revista "Modern Mechanix", do tipo "faça-você-mesmo", com instruções para a construção de uma prancha de madeira idealizada pelo americano Tom Blake. Oca, tinha quase quatro metros de altura. Viu e fez.

Arquivo Pessoal/Reprodução
Thomas Rittscher surfa em Santos, litoral de São Paulo
Thomas Rittscher surfa em Santos, litoral de São Paulo

"Rittscher sabia lidar com o material. Já tinha construído caiaques e pequenos veleiros", conta o engenheiro Soren Knudsen, espécie de guardião da história do esporte em Santos e dono de um exemplar da publicação.

Rittscher e Gonçalves não se conheciam, mas tinham um amigo em comum, João Roberto Haffers, o Juá. A "outra" prancha santista nasceria dessa conexão.

A dupla também tinha em comum o "estilo" (ou falta de): nada de tubos ou aéreos, manobras quase rotineiras hoje. Longe disso.

"Eles faziam uma pose em cima da prancha e seguiam. Era um surfe em linha reta, entravam na onda e iam deslizando até a praia", diz Reinaldo Andraus, 60, editor por anos de revistas especializadas. Hoje, se dedica ao livro "A Grande História do Surfe Brasileiro", cujo primeiro volume deve sair em 2017.

De acordo com Diniz Iozzi, o "Pardhal", surfista há 40 anos e fundador de um museu do esporte em Santos (hoje desativado), é provável que eles estivessem brincando na prancha quando descobriram como surfar.

"Não tinham visto ninguém fazer. Não tinham noção técnica alguma de como usá-la. Por um acaso, surfaram", diz.

Apesar do pioneirismo, Rittscher e Gonçalves não levaram a prática do esporte adiante. "Nenhum deles dizia ser surfista. Eles surfaram um dia na vida, não entendiam o quanto foram importantes", afirma Pardhal.

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