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campo belo/vila mariana

Santo Amaro preserva passado independente

"Caipira de botina amarela" é como muitos dos moradores mais antigos do bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, gostam e se orgulham de ser chamados. O apelido é uma referência saudosa à época em que a região ainda era um município do Estado de São Paulo.

"Lembra a nossa origem. É um orgulho ser caipira. Os cidadãos santamarenses ficavam com as botas amareladas pela umidade misturada à cor da terra", afirma o aposentado Alexandre Moreira Leite, 72, presidente do Cetrasa (Centro das Tradições de Santo Amaro).

Fotomontagem
Vista do largo 13 de maio, em 1984, 1997 e 2017 (da esq. para a dir.)
Vista do largo 13 de maio, em 1984, 1997 e 2017 (da esq. para a dir.)

Criada em 1832, a cidade de Santo Amaro chegou a ter, em 1934, cerca de 27 mil habitantes. Com área extensa, de 640 quilômetros quadrados, o município abrangia bairros como Ipiranga, Vila Mariana, Campo Belo, Vila Olímpia e Saúde, e ia até a serra do Mar.

A região preserva alguns resquícios dos tempos de município. Diferentemente do resto de São Paulo, que tem como marco zero a praça da Sé, toda numeração de suas casas e seus edifícios parte da catedral de Santo Amaro (ou Igreja Matriz), inicialmente construída como uma pequena capela em 1560.

Em volta da igreja, também foi mantido o movimentado largo 13 de Maio, que era o centro da cidade e atualmente concentra o comércio popular do bairro.

Em 1935, por meio de um decreto estadual, Santo Amaro foi anexado à capital. De acordo com a professora de história da USP Inez Garbuio Peralta, a situação foi agravada pelo crescente endividamento do município. No período, a cidade tinha mais da metade de sua arrecadação comprometida pelo débito.

"Santo Amaro tinha uma dívida astronômica e não tinha condições de pagar. Mas existiram outras razões. Muitos paulistas moravam lá e queriam se juntar a São Paulo. A região também tinha muita água, e por isso despertava interesse", diz Garbuio.

Na opinião do presidente do Cetrasa, que participa do movimento separatista santamarense desde os 16 anos, a anexação foi um "assalto". Segundo ele, teorias menos ortodoxas fundamentam o "roubo". Uma delas explica a anexação como uma retaliação de Getulio Vargas à boa atuação do batalhão de Santo Amaro na Revolução Constitucionalista de 1932.

"O batalhão santamarense foi voluntário e só perdeu um soldado. Também por coincidência, a festa do centenário da nossa cidade foi marcada para a data em que estourou a revolução. Ficamos sem comemoração. Tinha até fogueteiros trazidos da China", afirma Leite.

Com pouca força nos dias de hoje, o movimento já provocou um plebiscito, em 1985, para que a população decidisse a questão. A derrota marcou o enfraquecimento da ideia de independência. "Perdemos feio, mas o sonho permanece", afirma Leite.

Em 1989, houve ainda uma tentativa de se emancipar da capital por meio de uma emenda constitucional.

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