A área de quase 200 mil metros quadrados do parque do Trote, na Vila Guilherme, guarda memórias dos tempos de ouro das corridas de cavalos em São Paulo.
O local foi sede da Sociedade Paulista de Trote, fundada em 1944. Entre os anos 1950 e 1970, a entidade chegou a realizar até três corridas por semana, que atraíam a elite paulistana.
Diferentemente do turfe, em que o jóquei fica sobre o cavalo, no trote o animal puxa o sulky, uma charrete com rodas de bicicleta.
Arquivo Pessoal | ||
Alberto Basílio participa de corrida na Sociedade Paulista de Trote, na Vila Guilherme, em 1976 |
Todo o conjunto arquitetônico, que inclui arquibancada, guichês de apostas, salão de festa, foi tombado em 2013.
Mas, sem obras de restauração, os imóveis exibem as marcas do tempo e do abandono. Apenas o salão de festas está aberto como um centro de convivência.
"Eu me lembro do glamour na década de 1970. Homens de ternos e mulheres de longo para assistir às corridas. Como tinha aposta, crianças não podiam entrar, e eu via tudo pelo lado de fora", diz o jóquei e treinador Alfredo Basílio Neto, 52, neto de um dos sócios-fundadores da Sociedade Paulista de Trote.
O espaço foi construído em 1937 pelo comerciante Guilherme Praun, dono das terras onde hoje é a Vila Guilherme. Com sua morte, no ano seguinte, o local foi vendido para um grupo de descendentes de europeus que praticavam a modalidade nas ruas.
"Os comerciantes iam até o Mercado Municipal fazer compras e voltavam com suas carroças carregadas, disputando corridas pelas ruas de terra até a Mooca", conta Alberto Basílio Filho, 56, irmão de Alfredo e atual presidente da entidade. Desde 2012, o grupo mantém um hipódromo em Piracaia (a 90 km da capital).
FIM DE PROVA
O processo de desapropriação do local se iniciou em 1986. Basílio Filho diz que a pouca tradição de aposta no Brasil contribuiu para o declínio das corridas. Em Piracaia, as competições acontecem apenas por esporte.
A desapropriação terminou em 2005. No ano seguinte, o parque do Trote foi inaugurado como a primeira área verde acessível da cidade. Hoje, recebe cerca de 3.000 pessoas por semana.
O local é um dos 14 parques municipais incluídos no processo de concessão à iniciativa privada -proposta do prefeito João Doria (PSDB).
De acordo com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, a prefeitura busca parceiros para melhorar a acessibilidade do parque, o que inclui reformas nas trilhas e instalação de equipamentos.
Neste momento, afirma a secretaria, a administração está priorizando reparos emergenciais, como mato alto e banheiros quebrados.