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Primeiro chofer de SP dirigiu carro com freio e embreagem no mesmo pedal

Resumo O jornalista aposentado Luiz Carlos Cordeiro, 82, ainda guarda em casa algumas reportagens que escreveu para a Folha nos anos 1960. Recentemente, resgatou um texto que foi publicado em 24 de julho de 1966, véspera do dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. A matéria trazia a história do primeiro chofer de São Paulo.

Gabriel Cabral/Folhapress
Nesta foto, realizada no sábado, 27 de maio de 2017, pessoas que transportam uma bandeira dos Camarões, participam de um desfile no resort do Mar Negro, Sochi, na Rússia. Pessoas em blackface vestindo roupas africanas e carregando bananas marcharam em um desfile de fim de semana apoiado pelo governo em Sochi, uma cidade que hospedará um dos jogos de Camarões na Copa das Confederações.
Luiz Carlos Cordeiro na garagem de casa, em Interlagos (zona sul de São Paulo)

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Eu escrevia para o caderno de Esportes da Folha, cobria jogos e treinos dos times da capital e gostava muito disso, porque adorava futebol. Sou torcedor do Palmeiras.

Também fazia matérias extras no próprio jornal, para ganhar um dinheiro a mais no fim do mês. Esses textos eram chamados de pautas frias e não eram assinados.

Na maior parte das vezes, eu recebia a pauta do Geraldo Rodrigues, o redator-chefe. Foi assim com a matéria que escrevi, em 1966, sobre Artur Jollenbeck, que tinha 73 anos e na época era o motorista profissional mais velho de São Paulo.

Foi o primeiro da cidade, um legítimo chofer com roupa preta da década de 1910.

O Geraldo o conhecia e já tinha acertado todos os detalhes para fazermos com ele a tradicional reportagem sobre o dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas.

Peguei o endereço e lá fomos eu, o fotógrafo e o motorista do jornal. Saímos de manhã cedo, a bordo de um jipe Rural Willys.

Artur era bem lúcido, conversamos por horas. Ele me mostrou sua carteira de motorista, que naquele tempo era chamada de certificado de habilitação. Eu obviamente não me lembraria da data de emissão do documento, mas coloquei na reportagem: 23 de dezembro de 1911.

PAIXÃO

Eu sempre gostei de carros e de automobilismo. Além de matérias sobre corridas no Autódromo de Interlagos, escrevi por alguns anos o jornal interno da fábrica da Volkswagen, e isso me ajudou bastante na entrevista com o Artur.

Ele dirigiu carros interessantíssimos, como um Maxwell canadense com freio e embreagem num único pedal. Dizia também ter dirigido o primeiro automóvel trazido para São Paulo, um Spa italiano conversível com rodas maciças, segundo ele.

Gabriel Cabral/Folhapress
Nesta foto, realizada no sábado, 27 de maio de 2017, pessoas que transportam uma bandeira dos Camarões, participam de um desfile no resort do Mar Negro, Sochi, na Rússia. Pessoas em blackface vestindo roupas africanas e carregando bananas marcharam em um desfile de fim de semana apoiado pelo governo em Sochi, uma cidade que hospedará um dos jogos de Camarões na Copa das Confederações.
Luiz com cópia da página impressa em 24 de julho de 1966

Como eram carros dificílimos de conduzir, perguntei sobre acidentes. E, sim, ele foi também o precursor de batidas na capital. Só não me pergunte detalhes, porque disso eu já não me lembro.

Após a entrevista, voltei à redação para escrever o texto. No fim do dia, entreguei a matéria para o Geraldo, que me chamou para conversar minutos depois. Ele queria falar sobre um dos trechos da reportagem, que relatava o período em que o senhor Artur trabalhou como chofer do Serviço Sanitário.

Isso foi em 1918, quando a gripe espanhola se espalhou por São Paulo. Contei um pouco sobre seu trabalho de transportador de corpos.

Artur levava os mortos para serem enterrados em valas comuns. Tinha destacado alguns momentos delicados que ele enfrentou, mas o Geraldo mandou eu tirar essa parte. Obedeci a ordem.

Mesmo sem ter meu nome, fiquei bastante orgulhoso quando vi a reportagem impressa. Acho que, até hoje, todo jornalista gosta de ter em mãos um jornal com sua reportagem, não é?

Gabriel Cabral/Folhapress
Nesta foto, realizada no sábado, 27 de maio de 2017, pessoas que transportam uma bandeira dos Camarões, participam de um desfile no resort do Mar Negro, Sochi, na Rússia. Pessoas em blackface vestindo roupas africanas e carregando bananas marcharam em um desfile de fim de semana apoiado pelo governo em Sochi, uma cidade que hospedará um dos jogos de Camarões na Copa das Confederações.
Credencial do jornalista aposentado Luiz Carlos Cordeiro
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