China avança no Brasil, no rastro da Lava Jato

Para especialista, Pequim ganha espaço de empreiteiras brasileiras, mas oferece parceria daninha

O presidente Michel Temer entrega ao líder chinês, Xi Jinping, uma camisa da Seleção Brasileira em visita a Pequim - Beto Barata - 1º.set.17/Presidência da República
 

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Evan Ellis, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Army War College, admite que o momento não é ideal para falar dos perigos da expansão chinesa na América Latina

Está difícil convencer os latino-americanos de que os Estados Unidos são um parceiro melhor do que a China —vide as tarifas e cotas de Donald Trump sobre aço e alumínio, que afetam Argentina e Brasil, a linha-dura de Washington para imigração, e a abordagem habitualmente desrespeitosa do mandatário americano com os vizinhos do sul.

Mas Ellis, que esteve em São Paulo para fazer uma palestra na fundação Fernando Henrique Cardoso, afirma que a mensagem é particularmente importante para o Brasil.

Segundo o especialista em América Latina, o Brasil sempre foi uma prioridade para a China, por causa do tamanho do mercado brasileiro. Mas especialmente neste momento, Pequim está avançando de forma agressiva no Brasil, aproveitando-se do vácuo deixado pela Lava Jato.

Durante muito tempo, empresas politicamente influentes como a Odebrecht e outras enredadas na Lava Jato conseguiram brecar um pouco o avanço chinês no mercado brasileiro. 

Agora, a China pode conquistar grandes nacos do mercado brasileiro, nas áreas de construção, logística, manufatura e energia, sem nenhum competidor com força política para lhe fazer sombra.

E isso não apenas dentro do Brasil. Empresas chinesas estão ocupando espaço deixado por empreiteiras brasileiras na América Latina e África.

E por que isso é ruim? “É muito maior o risco de o Brasil desenvolver uma dependência nociva da China do que jamais foi no caso dos EUA”, diz Ellis.

Na medida em que a China passou a ocupar o posto de maior parceiro comercial do Brasil, a estrutura das exportações brasileiras passou por uma reprimarização, ou seja, aumentou muito a participação de produtos e de baixo valor agregado e commodities na pauta.

Ao mesmo tempo, Pequim tomou o lugar do Brasil de outros mercados, como EUA e UE, para fornecer manufaturados.

“Esse relacionamento econômico não é benéfico, leva a China a diversificar sua produção e o Brasil a se concentrar em produtos de baixo valor agregado”.

Segundo Ellis, a comunicação estratégica dos EUA com a América Latina nunca esteve em pior estado. Mesmo assim, o pesquisador insiste, os EUA oferecem uma parceria muito mais saudável do que a China.

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