Primeira estilista mulher do país, Zuzu Angel faria 97 como ícone da moda

Designer de maior repercussão dos 1970, ela morreu em acidente suspeito durante ditadura

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Considerada a primeira estilista do Brasil, Zuleika Angel Jones (1921-1976) faria 97 anos nesta terça-feira (5). Ela morreu em um acidente de carro cercado de mistério e fatos desencontrados. 

No auge da repressão militar e da censura, Zuzu Angel, como ficou conhecida, denunciou ao mundo o desaparecimento de seu filho Stuart, militante preso em 1971 e cujo corpo nunca foi encontrado pela família. 

Conheça cinco fatos sobre a única estilista brasileira --chamada assim numa época em que só homens recebiam o título profissional, porque às mulheres se dava a alcunha de "costureiras"-- cujo potencial mercadológico poderia dar ao país um ícone da moda mundial.

 

Heroína do Brasil

Zuzu foi a primeira mulher incluída no "Livro de Heróis e Heroínas da Pátria", em 2017, por seu ativismo político e sua luta para provar a morte do filho pelas mãos de torturadores.

Entrou para a história o dia em que ela furou o esquema de segurança americano, em 1976, para entregar uma carta nas mãos do secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, na qual descrevia sua tragédia.

Angel morreria dois meses depois. Em 2014, a Comissão da Verdade apresentou uma foto que liga um coronel do Exército ao acidente que a matou; no mesmo ano, um ex-soldado disse ter visto Stuart sendo arrastado com a boca presa ao escape de um carro.

 
Desfile protesto

Um dos maiores feitos da moda brasileira no exterior aconteceu em 1971, poucos meses após o desaparecimento de Stuart. A estilista lotou de convidados a casa do então cônsul do Brasil em Nova York, Lauro Soutello Alves, para apresentar o primeiro desfile protesto de um designer nacional.

As roupas foram bordadas com desenhos pueris de soldados, aviões, anjos e sóis quadrados, numa clara referência ao momento político que o país atravessava.

Marketing internacional

A marca Zuzu Angel foi a primeira do país a ganhar repercussão internacional no prêt-à-porter de luxo. Jornais como The New York Times e The New York Post rasgavam seda para as coleções da brasileira que mantinha loja em Nova York, nos Estados Unidos.

Entre as clientes estreladas estavam as atrizes Joan Crawford (1905-1977) e Kim Novak, que viraram suas amigas. Zuzu também foi uma das primeiras a investir em sacolas e embalagens personalizadas para que seus produtos fossem vistos pelas ruas do Leblon, bairro da zona sul onde ficava sua loja no Rio.

'Eu sou a moda brasileira'

A frase nada modesta creditada à estilista resumia o que ela representava no cenário nacional das décadas de 1960 e 1970. Enquanto as casas de costura da zona sul carioca reproduziam os modelos das grifes internacionais, Zuzu reverenciava a roupa rendada das baianas e a indumentária do cangaço.

Com ela, nasceu na passarela o sentido de valorização da cultura e da identidade têxtil do país. Em entrevista ao The New York Times, ela disse: “no meu país, eles acham que a moda é frivolidade, futilidade. Eu tento lhes dizer que moda é comunicação, além de garantir emprego para muita gente”.

Cultura pop

Tema de exposições, desfiles e livros, a estilista é a mulher citada na música “Angélica” (1977), de Chico Buarque, no verso “quem é essa mulher, que canta sempre esse estribilho, só queria embalar meu filho, que mora na escuridão do mar”.

Em 2006, o cineasta Sérgio Rezende lançou a cinebiografia “Zuzu Angel”, com Patrícia Pillar no papel principal e Daniel de Oliveira como Stuart Angel Jones.

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