Relação entre clubes e empresários explica ida de Ramiro para o Corinthians

Times importantes têm relações de clientela e médios têm parcerias por direitos na venda de jogadores

Ramiro, ex-Grêmio, é um dos reforços do Corinthians para a próxima temporada - Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio

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O Corinthians aproveitou uma oportunidade do mercado para contratar Ramiro. Meia, ponta e volante do Grêmio, Ramiro não é craque, mas tem características próprias dos jogadores mais modernos. É versátil, polivalente, tem compreensão do jogo. Parece óbvio. Todo atleta deveria compreender as coisas do campo. Nem todos conseguem.

A chance oferecida pelo tabuleiro das negociações de dezembro foi uma relação de dependência do Grêmio em relação ao empresário Giuliano Bertolucci.

Por falta de dinheiro, em 2014, o então presidente Fábio Koff comprou Ramiro junto com o zagueiro Bressan e com o auxílio econômico do agente. Quatro anos mais tarde, o tempo cobrou juros. O Grêmio queria vender Bressan para o Dallas, dos Estados Unidos. O agente exigia cumprir as exigências do contrato assinado, o que tornaria caro demais para os gremistas manterem Ramiro.

O Corinthians não terá uma relação de subserviência ao agente, porque comprou 70% do contrato. O caso mostra como há muito mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã capacidade de relatar transferências.

Um dos mistérios é saber como a Fifa proíbe participação de terceiros interessados em contratos de jogadores desde 2014, e em 2018 o Grêmio precisa abrir mão de um jogador que lhe interessa, porque 50% do contrato pertence a um empresário?

Estava claro que continuaria sendo assim desde 26 de setembro de 2014, data da proibição da Fifa.

Antes que alguém pronuncie o aposto "no Brasil", cabe entender que é assim no mundo todo.

Nas últimas quatro temporadas, o Barcelona contratou Alcácer, André Gomes, Semedo e quase comprou Bernardo Silva por influência do agente português Jorge Mendes. Nestes casos, sem porcentagem declarada. Mas houve punição ao Seraing, da Bélgica, por manter porcentagens de terceiros.

A diferença está entre os clubes de elite e os que se entregam a relações de subordinação financeira.

Jorge Mendes fez longas parcerias com o Porto, depois trabalhou com o Benfica, agiu muito tempo no Atlético de Madri, mais tarde deu preferência ao Valencia, colocou Fábio Coentrão no Real Madrid e André Gomes no Barcelona. 

Os clubes importantes têm relações de clientela. Os médios, parcerias por parte dos direitos no momento da venda. O Grêmio hoje pode ser mais independente do que a maioria, mas a dependência obrigou-o a se desfazer de Ramiro. Preferia mantê-lo. 

É um equívoco culpar a lei Pelé pela submissão dos clubes aos empresários. 

Quem tem a faca e o queijo na mão é o craque. É assim desde que Jean Marc Bosman ganhou ação na corte europeia e equiparou jogadores de passaporte europeu a qualquer outro trabalhador, em 1996.

Eles são livres ao final de seus contratos para trabalhar em qualquer nação da comunidade econômica. Livres também para negociar seus contratos.

Mas, quando um clube telefona diretamente para um craque, a resposta em 99% dos casos é: "Você precisa falar com meu empresário."

Uma velha canção do grupo Skank diz que para abolir a escravidão do caboclo brasileiro, numa mão educação e na outra dinheiro. 

Na faixa de salário dos negócios de dezembro, o caboclo jogador muitas vezes tem apenas o dinheiro. 

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