Descrição de chapéu

Baseado em romance britânico, 'A Livraria' não convence

Diversidade de personagens, ambientes e situações do livro resulta numa narrativa sem foco

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LÚCIA MONTEIRO
São Paulo

a livraria

Avaliação: Regular
  • Quando: estreia na quinta (22)
  • Elenco: Emily Mortimer, Bill Nighy, Patricia Clarkson
  • Produção: Espanha, Reino Unido, Alemanha, 2017, 10 anos
  • Direção: Isabel Coixet

Veja salas e horários de exibição

Filmes baseados em livros devem ser avaliados em função do respeito ao original ou, ao contrário, pela diferença que tem relação a ele?

A catalã Isabel Coixet apostou na primeira hipótese e conquistou os prêmios Goya de melhor filme, direção e roteiro adaptado para "A Livraria", feito raro para produções faladas em inglês. O longa traduz com fidelidade o enredo do romance homônimo, escrito pela britânica Penelope Fitzgerald em 1978.

Emily Mortimer em cena do longa 'A Livraria', de Isabel Coixet - Divulgação

Conhecida opositora à independência da Catalunha, a cineasta, autora de "Minha Vida sem Mim" (2003), "A Vida Secreta das Palavras" (2005) e "Ninguém Deseja a Noite" (2015), já havia obtido o prêmio máximo do cinema espanhol em outras ocasiões, somando agora oito troféus.

"A Livraria" se passa em 1959. Florence Green (Emily Mortimer) perdeu o marido na guerra e tenta buscar sentido para a vida abrindo uma livraria em um vilarejo da costa inglesa. Consegue dobrar o cético gerente do banco e, com um empréstimo, compra uma velha casa de pedra para sediar o negócio.

As dificuldades não tardam: pouco afeita à literatura, a aristocracia local, sintetizada na figura de Violet Gamart (Patricia Clarkson), desaprova a iniciativa e tenta demovê-la da empreitada.

Com uma narração em voz-over por vezes dispensável, o filme custa a encontrar seu tom. No início, tem ares de melodrama histórico; depois, aproxima-se de narrativas edificantes protagonizadas por mulheres destemidas.

Os melhores lances se dão nos momentos de crítica social, num cuidadoso retrato da hipocrisia à inglesa. O contraste entre os trajes modestos de Florence, quase sem maquiagem, e o requinte excessivo de Violet potencializa o desempenho das atrizes, em diálogos carregados de ironia e violência polida.

O filme, porém, logo muda de rumo novamente, insinuando um amor platônico entre Florence e Edmund Brundish (Bill Nighy), que prefere a companhia dos livros ao convívio com humanos.

Transposta à tela, a diversidade de personagens, ambientes e situações do romance resulta numa narrativa sem foco e de pouca vitalidade. Além disso, a protagonista não convence. Como acreditar em um fã da ficção científica de Ray Bradbury que cai nas mais óbvias armadilhas?

Ainda que seja possível associar o bairrismo dos rivais de Florence ao Reino Unido em tempo de "brexit", parece ter havido ingenuidade também na realização do filme. Um cineasta não consegue limitar-se a ilustrar uma história que lhe chega pronta.

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