Descrição de chapéu

Ritmo acelerado afeta surrealidade de 'Mare Nostrum'

Filme de Ricardo Elias parte de boa concepção de trama, mas peca ao apressar situações

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Andrea Ormond

Mare Nostrum

Avaliação: Regular
  • Quando: Estreia nesta quinta (4)
  • Classificação: Livre
  • Elenco: Silvio Guindane, Ricardo Oshiro, Carlos Meceni, Lívia Santos, Ailton Graça
  • Produção: Brasil, 2018
  • Direção: Ricardo Elias

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“Mare Nostrum” não é nem cômico, nem policial, os dois filões mais rentáveis do cinema brasileiro.

Roberto (Silvio Guindane) e Mitsuo (Ricardo Oshiro) nunca se viram, a não ser por um instante: em 1982, seus pais envolveram-se na compra e venda de um terreno.

A bela infância de 1982, mesmo com Paolo Rossi, prometia um futuro melhor. Quando adultos, os rapazes encarnam dois “losers”. Voltam ao Brasil, depois de tentativas de trabalho no exterior.

Roberto, negro. Mitsuo, nissei. Aqui surge um encontro de universos que é pouco explorado no cinema. Ponto positivo para este terceiro longa-metragem de Ricardo Elias, antecedido por “Os Doze Trabalhos” (2006) e “De Passagem” (2003) —também estrelado por Silvio Guindane.

Os protagonistas não têm nada em comum, mas são atraídos pelas circunstâncias. Talvez sejam abduzidos pelo terreno que, diz a lenda, é mágico.

E assim “Mare Nostrum” poderia abrir uma avenida luxuosa, falando de paternidade através dos filhos, misturando tudo ao mundo das fábulas. O pai morto de Roberto e o pai doente de Mitsuo. As memórias da infância. Os desejos que o terreno, na beira-mar de Santos, ajuda a realizar.

Mas existe um problema central. O roteiro escrito por Elias, Eneas Carlos e Cláudio Yosida —parceiro recorrente do diretor— acelera situações. Força uma empatia entre Roberto e Mitsuo. Leva a desfechos repentinos, explicações apressadas que comprometem a surrealidade que o filme pretende às vezes entregar.

Mesmo assim, rende cenas interessantes. Como a da máquina de fliperama na orla da praia, com as metáforas sobre o passado, o presente e o mar —sim, o “mare nostrum”. Em torno do “flipper” aparecem Mitsuo, Roberto, sua filha, o amigo de seu pai. Aquele pai a quem chama pelo nome e sobrenome, com uma carga de ódio nos dentes.

Tamanha frieza talvez assuste, mas os dramas de costumes também são brasileiríssimos, ao lado das comédias e da violência. “Um Homem Sem Importância”, de Alberto Salvá, “A Culpa”, de Domingos de Oliveira, “Marcelo Zona Sul”, de Xavier de Oliveira. Todos trazem uma cava depressão.

Existe uma desesperança que a Copa de 1982 —obsessão de Roberto— não consegue remediar. “Mare Nostrum” partiu de uma boa concepção de trama, mas poderia ter completado melhor o álbum de figurinhas —sonho de muitos garotos e garotas, que ainda hoje preferem não crescer.

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