Longa-metragem explora vida cômica e trágica de ator anão de 'A Ilha da Fantasia'

'My Dinner with Hervé' lembra encontro com decadente e destrutivo Hervé Villechaize

Danielle Brant
Nova York

Antes de sair do papel, o filme “My Dinner with Hervé”, que conta a história do ator com nanismo Hervé Villechaize, era referido pelo próprio roteirista e diretor Sacha Gervasi como “o projeto do anão suicida” ou “o filme menos comercial do mundo.”

“Ninguém queria fazer”, recorda. “Eu persisti, persisti, porque ele era meu amigo.”

A amizade entre o então jornalista Gervasi e Hervé Villechaize, o Tattoo de “A Ilha da Fantasia” ou o anão vilão de “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”, surgiu há 25 anos, durante três dias de convivência intensa. E não durou muito. Uma semana depois, o ator cometeu suicídio —no fim da vida, tinha dores fortíssimas por ter órgãos de tamanho normal em um corpo diminuto.

O projeto atraiu Peter Dinklage, o Tyrion Lannister de “Game of Thrones”, e Jamie Dornan, o Christian Grey de “50 Tons de Cinza”.

O resultado é um drama produzido pela HBO que vai ao ar no dia 24 de novembro, às 22h. A história se passa no verão de 1993, quando Gervasi, interpretado por Dornan, pegou um avião de Londres para Los Angeles.

Entre outras missões, o diretor, à época jornalista, deveria fazer uma entrevista com Hervé, que estava longe de seus dias de glória.

“Eu tinha outras entrevistas para fazer, e essa era a engraçadinha.  Ele me disse: ‘Você já escreveu sua reportagem antes de vir para cá, você não estava aberto, não estava ouvindo de verdade’”, afirma Gervasi.”

A piada terminou quando, diz o diretor, o astro decadente colocou uma faca no pescoço do jornalista ambicioso e disse uma frase inesperada: “Eu contei as histórias idiotas. Você quer ouvir a verdadeira?”

No filme, é a deixa para ambos embarcarem numa jornada madrugada adentro, que inclui uma visita a uma boate de striptease, ao set de “Ilha da Fantasia” e à casa do agente de Hervé, que o levou à famosa série, entre outros locais.

Hervé surge no filme como alguém que se deixou engolir pela fama e sofreu as consequências fora da tela.

Para compor o personagem, Dinklage contou com a ajuda da família do ator e da última Hervé, Kathy Self. No filme, ela é interpretada por Mireille Enos.

Uma das preocupações, conta o ator de “Game of Thrones”, era acertar o inglês afrancesado do personagem. 

“Se você não conhece Hervé pelo nome, você reconhece a frase ‘De plane! De plane!’. Eu não queria fazer uma imitação, porque ficaria cômico, e muitas pessoas já tinham feito isso”, conta.

A frase, que em inglês é “The plane! The plane!” e em português afrancesado seria algo como “O avion! O avion!”, era dita por Tattoo ao ver a aeronave que trazia os hóspedes da Ilha da Fantasia. Dinklage demorou a embarcar na história. Apesar de também ser anão, as semelhanças com Hervé param por aí, diz.

“Se ele me influenciou? Não, não até eu conhecer o homem e fazer o filme. Como ator? Ele não me influenciou. Marlon Brando me influenciou, Meryll Streep me influenciou”, diz.

O filme mostra, a cada cena, um pendor de Hervé pela autodestruição —desde o começo, como pintor em Paris, até o papel de anão malvado em “007” e o estrelato em “A Ilha da Fantasia”. Por exemplo, o casamento fracassado de dois anos com uma atriz ganha mais peso do que aquele com a mulher que esteve com ele até o fim de sua vida.

Gervasi, que inspira o outro protagonista, também vem de um passado conturbado. No filme, o alcoolismo acabou afastando-o da mulher e do filho —e foi esse aspecto sombrio que atraiu Jamie Dorna.

“Qualquer personagem mergulhado em coisas que o estão devorando por dentro... é muito difícil não ser capturado por isso”, diz.

O “repórter júnior”, como o roteirista e diretor é chamado por Hervé no longa-metragem, e a “pequena aberração” que viu a fama se esvair resultam mais parecidos do que imaginam a princípio.

“Hervé não quer aceitar a responsabilidade por destruir a maior oportunidade de sua vida. É um cara que destrói o relacionamento com sua mulher e filho e não quer assumir responsabilidade, porque é doloroso”, diz.

O suicídio de Hervé fez com que o então jornalista quisesse escrever um relato emocionado sobre ele.

Mas Gervasi acabou pressionado por seus editores a manter o tom cômico planejado originalmente. Só agora, com o filme, ele cumpre a promessa feita ao ator, de contar sua história de outra maneira.

Erramos: o texto foi alterado

Uma versão anterior desta reportagem informava que o filme "My Dinner with Hervé" estreava nesta segunda (1º). A data correta é 24 de novembro. O texto foi corrigido.

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