Turismo da Folha foi pioneiro no uso de cores em jornal diário
Há 50 anos, suplemento circulava com fotos coloridas pela primeira vez
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O caderno de Turismo tem um insuspeitado protagonismo na história do jornalismo brasileiro.
Mas foi o que aconteceu. Foi aqui, há 50 anos, que pela primeira vez no Brasil se usaram fotos coloridas em um jornal nacional de grande circulação.
A utilização de cores na imprensa hoje é corriqueira. Mas nem sempre foi assim. Mesmo depois que a tecnologia permitiu a impressão de imagens em cores, os jornais no mundo todo hesitaram em se valer do recurso, a começar pelo mais prestigioso deles, o New York Times.
Por tradição, jornalistas e leitores faziam uma associação entre ausência de cor e seriedade. Imagens em vermelho, azul, amarelo e verde retratavam uma realidade espalhafatosa demais aos olhos acostumados ao branco, preto e tonalidades de cinza.
A introdução das cores na primeira página e nos outros cadernos foi gradual. Em meados dos anos 1980 a cor ainda era esporádica. Em abril de 1984, por exemplo, às vésperas da votação das Diretas-Já, a Folha circulava com uma discreta faixa amarela abaixo do cabeçalho, incentivando a população a usar essa cor para expressar apoio ao movimento.
No início dos anos 1990, as cores finalmente passaram a dominar as páginas do jornal. Em 30 de setembro de 1992, na edição em que anunciou o impeachment de Fernando Collor, a Folha estampou uma faixa vermelha (em que se lia “Vitória da democracia”) sobre fotos coloridas da comemoração no Congresso e da saída de cena do presidente.
A partir dessa época –quase um quarto de século depois do pioneirismo do Turismo– o uso das cores se impôs no noticiário. Em 1995, com a inauguração do Centro Tecnológico Gráfico, o jornal passou a circular com a maioria das páginas coloridas, até para organizar visualmente a cadernização do jornal.
Cinquenta anos atrás, a impressão em cores foi viabilizada pela adoção do offset, uma tecnologia que, ao substituir a composição a chumbo pela fotocomposição eletrônica, melhorou muito a qualidade da reprodução em geral, sobretudo de imagens.
A Folha começou a rodar em offset no início do ano politicamente turbulento de 1968. Foi um dos primeiros jornais de grande porte do mundo a adotar o sistema de impressão a partir de um registro fotográfico das páginas compostas.
Nove meses depois, em 27 de setembro –no meio do caminho entre a revolta dos estudantes no mundo e a decretação do AI-5, para citar dois fatos que marcaram 1968– o Turismo apareceu pela primeira vez em cores.
A partir dessa edição, estavam contados os dias da impressão tradicional, que reproduzia imagens em desbotados tons de sépia, inadequadas para despertar no leitor o desejo de conhecer os mais paradisíacos quadrantes do mundo.
O caderno Turismo nasceu em 1959, uma página inserida na então recém-criada Ilustrada e intitulada “Viagens e Passeios”, nos tempos em que a Folha ainda era Folha da Manhã. O caderno, como é conhecido hoje, só surgiria em 1966.
O criador do Turismo foi Horácio Neves, que editou o caderno até 1984. “Foi o primeiro da imprensa brasileira”, lembrou o jornalista em entrevista ao projeto História Oral da Folha.
O caderno evoluiu com o negócio do turismo. Nos idos dos anos 1960, o setor engatinhava. O turismo ainda não era uma indústria, o que se refletia nas curtas notas sobre destinos regionais, nas acanhadas tabelas com horários de partida de trens e ônibus e nos pequenos anúncios de hotéis.
Hoje, o turismo movimenta mais de US$ 160 bilhões por ano no Brasil, o equivalente a quase 8% do PIB, e emprega mais de 7 milhões de pessoas. E a reportagem vai aonde haja algo de interesse a ser visitado.
Nos últimos anos, passaram por estas páginas o líder sul-africano Nelson Mandela (1918-2013), o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), o economista Paul Singer (1932-2018), o escritor Mario Prata, o jornalista e dramaturgo Otavio Frias Filho (1957-2018), o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), o colunista Janio de Freitas, o bibliófilo José Mindlin (1914-2010), o fotógrafo David Drew Zingg (1923-2000), o atual diretor artístico da Orquestra Sinfônica de São Paulo, Arthur Nestrovski, entre tantos outros que, com as narrativas de suas andanças pelo Brasil e pelo mundo, também trouxeram cor para o caderno.