da Redação
São Paulo não tem muito que comemorar na Semana Internacional
da Água. Desde a gestão do ex-governador do estado, Mário
Covas, 80 milhões de reais foram despendidos pelo estado e
pela estatal Petrobrás – parceira no projeto - na construção
de uma central de despoluição do rio Pinheiros e afluentes.
As águas, tratadas pelo método de flotagem (remoção de resíduos
sólidos em suspensão), seriam lançadas na Represa Billings,
contribuindo também para a geração de energia elétrica através
da Usina Henry Borden. Por um embargo do Ministério Público,
no entanto, a central nunca foi colocada em uso e já apresenta
sinais de deterioração.
Quando a central estava preste a iniciar seu projeto piloto,
de 10 m³ de água por segundo - já com autorização da Secretaria
do Verde e do Meio-Ambiente -, o Ministério Público entrou
com uma ação pedindo a suspensão dos testes. O projeto original
previa uma estrutura capaz de flotar 50 m³ por segundo.
A argumentação, validada inclusive por entidades do terceiro
setor, é de que o método escolhido não funcionaria para a
despoluição e de que haveria impactos negativos para o meio-ambiente.
Uma saga judicial então foi iniciada. O Ministério Público
ganhou a ação. Avançando nas negociações, em 2004 foi firmado
um acordo prevendo a produção de um EIA-RIMA (um extenso relatório
a respeito do impacto ambiental, prática comum em grandes
empreitadas como esta) que, embasado cientificamente, daria
argumentação suficiente para a continuidade dos testes na
central piloto. Esse documento é orçado em 12 milhões de reais,
dinheiro este que nenhuma entidade envolvida declara ter.
Está dado então a segunda paralisação do projeto de despoluição
do rio.
João Francisco Soares, engenheiro civil especialista em hidráulica
e saneamento, membro do Instituto de Engenharia responsável
pela obra e antigo membro do Conselho Estadual de Saneamento,
avalia o impasse como uma “disputa técnica, política e institucional”.
Soares diz que embora não se tenha total certeza de que o
método de flotagem dê certo, a única forma de saber isso é
fazer o projeto piloto funcionar. “Aprendi na minha primeira
aula de engenharia que a melhor forma de testar algo é pôr
em pratica”.
O engenheiro argumenta ainda que, embora o Rio Pinheiros
tenha suas especificidades, locais como o Piscinão de Ramos,
no Rio de Janeiro, a prática já é comum. E que, além de iniciativas
como esta, pequenos testes no próprio rio Pinheiros já foram
realizados, como o Projeto Pomar I e II. Com a água advinda
da flotagem de 100 litros por segundo, canteiros à margem
do rio foram recuperados e peixes estão sendo criados com
a água tratada.
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