Vendem-se
doze imóveis e terrenos em áreas nobres de São
Paulo. Valor total: R$ 101 milhões, no mínimo.
Tratar com a prefeita Marta Suplicy (PT).
A decisão de colocar os imóveis à venda
coincide com a dificuldade vivida pela prefeitura paulistana
de fechar suas contas dentro do limite fixado pela LRF (Lei
de Responsabilidade Fiscal).
Dois projetos de lei para a venda dessas 12 áreas
da prefeitura por licitação já foram
enviados à Câmara Municipal em regime de urgência
pela administração petista. Têm agora
um prazo de 30 dias para serem votados. Novos projetos deverão
ser enviados ao Legislativo nas próximas semanas, podendo
atingir R$ 200 milhões.
Os imóveis milionários ficam nos bairros de
Pinheiros, Jardins, Barra Funda, Vila Mariana, Vila Maria,
Santo Amaro e na região central da cidade.
O prédio que se destaca na lista é hoje ocupado
pela Subprefeitura de Pinheiros, na esquina da marginal Pinheiros
com a avenida Professor Frederico Hermann Júnior. Com
uma área de 34 mil m2, tem um valor estimado pela prefeitura
de R$ 49,5 milhões.
O edifício foi ocupado por anos pela Secretaria Municipal
dos Transportes. Hoje, a pasta aluga vários andares
de dois prédios no centro da cidade, pagando um aluguel
mensal de R$ 90 mil.
"Marta está dilapidando o patrimônio público",
critica o vereador Domingos Dissei (PFL). "A prefeitura
não é uma imobiliária." A prefeita,
porém, possui ampla maioria na Câmara.
A prefeitura alega que a mudança resultará
em uma economia de cerca de R$ 1 milhão por ano.
Nas outras áreas que a administração
quer colocar à venda funcionam hoje fábricas
de asfalto, estacionamentos, depósitos e um pólo
cultural da terceira idade.
Cofre vazio
Apesar das taxas criadas em sua administração,
Marta Suplicy vem enfrentando problemas financeiros. O déficit
da prefeitura mais do que dobrou em 2003 (R$ 590,6 milhões)
em relação a 2002.
Resolução do Senado obriga as prefeituras a
manter suas dívidas em até 1,2 vezes a receita
corrente líquida. Hoje, a relação em
São Paulo é de cerca de 2,5.
Pela LRF, a prefeitura não pode fechar o último
ano no vermelho. Ao deixar o cargo, Celso Pitta (PSL) cancelou
uma série de empenhos de sua gestão. Fechou
a conta no papel, mas deixou um passivo de quase R$ 1 bilhão
para a gestão Marta. Agora, a oposição
teme que ela use o mesmo expediente de seu antecessor.
Os seguidos resultados financeiros negativos explicam o contingenciamento
(retenção de verbas) em algumas secretarias
e a decisão da venda dos imóveis, segundo a
Folha apurou com assessores próximos a Marta.
Os R$ 101 milhões previstos com a venda das áreas
é o valor mínimo a ser atingido, segundo prevê
o projeto enviado à Câmara. O dinheiro não
é carimbado. Vai para o caixa único da prefeitura
e pode ser usado sem restrições para cobrir
parte do déficit.
Sob anonimato, secretários da prefeitura afirmam ainda
que houve pressão do mercado imobiliário por
algumas dessas áreas.
O secretário municipal dos Negócios Jurídicos,
Luiz Tarcísio Teixeira, afirma que a venda faz parte
de um programa de realocação de imóveis
da prefeitura.
"Se há um reflexo orçamentário,
ele não é o objetivo principal da alienação.
Nós buscamos a racionalização da gestão
das áreas públicas na cidade", diz Teixeira.
Ele, porém, admite que é a primeira vez nesta
gestão que imóveis são colocados à
venda.
O secretário explica que representantes de todos os
órgãos que atuam hoje nos terrenos colocados
à venda foram consultados sobre a negociação.
FABIO SCHIVARTCHE
da Folha de S.Paulo
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