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27/07/2007
Carta da semana


"Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez na sua mão"


“A letra é de uma música antiga do Belchior, que os mais novos com certeza não conhecem, mas que retrata uma situação esquisita como a do medo que vivemos em nosso país nestes dias. As pessoas, por medo de avião causado pela tragédia, que na última terça-feira completou uma semana, na qual 199 vidas foram sacrificadas, estão se aproximando, estão refletindo. Sempre escutei que as pessoas mudam suas atitudes e suas próprias vidas pelo amor ou pela dor. Desta vez, estamos refletindo sobre nossas vidas pelos dois motivos.

Existe uma grande controvérsia. Um trem-bala, em projeto, ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro, distantes cerca de 400 km, em menos de uma hora e meia. Essa distância também nos faz pensar sobre alegria e tristeza. No Rio 2007, o Brasil bate seu recorde de medalhas de ouro em Pan-Americanos. Já são mais de 30 e ainda temos outros dias de competição. Atletas batem recordes, o Brasil disputa não mais o terceiro lugar com o Canadá, mas, sim, o segundo com Cuba no quadro de medalhas. Brasileiros sofridos choram ao subir no ponto mais alto do pódio para receber suas medalhas e escutar o hino nacional.

Pouco menos de uma hora de avião separa essa alegria e esse orgulho pelo Brasil da tristeza e da decepção que São Paulo sente de seus governantes e autoridades. Na maior metrópole do país, o choro é de vergonha por “pérolas” escutadas nesta terrível semana da aviação brasileira. Há quem tenha dito que, se os passageiros querem mais segurança, que paguem mais por isso. Que abuso! Que descaso! Que falta de bom senso!

As pessoas saem dos aeroportos e seguem o seu destino em táxi, ônibus ou carro. Como disse o José Nêumane Pinto na Rádio Jovem Pan: " O Brasil poderá em breve implementar o PATTA - Programa de Aceleração de Transporte de Tração Animal -, com uma grande vantagem: mulas não vão faltar !".

Repetindo o colocado acima: a gente só muda pela dor ou pelo amor. Então, pelo amor de Deus, mudemos pelo amor. Que por medo de avião, de corrupção, de violência, nos demos as mãos e sejamos uma nação verdadeira e que reflita no Senado, na Câmara e no Governo o povo que realmente queremos ser."
Marcelo Assumpção - marcelo.assumpcao@barcibr.com.br


Vôo 3054

" - Passageiros:
apertem os cintos,
pousaremos em congonhas.
(silêncio... muito silêncio...)
A chuva lá fora [fria],
a pista toda escorregadia.
(... e o pouso não para...
não para jamais.)
(gritos... muitos gritos...)
O caos,
o pesadelo,
as explosões,
os destroços,
as mortes,
as mortes
e muitas mortes.
[arde em todos nós a solidão do fogo,
queimando-nos,
carbonizando-nos.]
Valei-nos Deus: é o fim...
é o fim dos nossos reencontros
com todos nossos familiares;
(muito difícil),
é o fim dos nossos encontros
com todos nossos amigos.
Valei-nos Deus: é o fim para todos.
Restará agora o choro de dor,
por nós passageiros da agonia;
de um vôo já predestinado
hà TAM(tas) mazelas,
dum caos aéreo...
Cadê as autoridades?
A Anac...a Infraero...a Aeronáutica?
Cadê a TAM?
O funcionário do governo que fez "aquele gesto"...
Cadê o presidente?
Cadê o povo?
Reajam todos!!!
Não fiquem daí só a chorar por nós:
Reajam todos!!!
Isto não pode acabar assim...
num vôo sem liberdade,
d'onde fomos pássaros sem asas,
amarrados a um fim.
Por todos nós do vôo 3054...
Reajam!!!
Reajam até o fim!!!
Depois... chorem, chorem em paz...
no silêncio das nossas almas...
profundamente...."
Elsio Soares - elsiosoares@yahoo.com.br

CIDADÃO JORNALISTA é um espaço destinado aos leitores e ouvintes que, ao relatarem fatos e experiências de sua cidade, comunidade e cotidiano, tornam-se repórteres por um momento.

 
 

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