HOME | NOTÍCIAS  | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS


REFLEXÃO


Envie seu comentário

 

URBaNIDADE
05/05/2004
A revanche da derrota de Nápoles

Em agosto passado, quando resolveu conhecer o centro de Nápoles, na Itália, pilotando uma moto, a premiada tenista Vanessa Menga estava no caminho de encerrar tragicamente um projeto de vida. Vítima de um motorista descuidado, ela foi projetada ao chão e sofreu danos irreversíveis na articulação dos braços. "Minha carreira de jogadora profissional acabou." Só há poucas semanas ela voltou às quadras para a revanche.

Depois dos resultados médicos, a depressão trancou-a em casa por vários meses; devorava programas de televisão e chocolates. "Não engordei de ruindade." Quando ela não tinha os pais e irmãos por perto, restava-lhe o consolo das conversas com a empregada Linda (Lindária Silva), que a conhece desde menina.

Afastou a depressão achocolatada, saiu de casa e foi à caça de um patrocínio para manter o prazer do tênis e aliá-lo a um antigo projeto: trabalhar com crianças. "A jogadora profissional acabou, mas eu não acabei." Até porque ainda tem 27 anos de idade.

No início do ano, começou a percorrer projetos sociais, oferecendo aulas de tênis.

Na falta de espaços adequados, propôs que se improvisassem quadras ou se utilizassem praças ou parques. Há dois meses, passou a dar aulas numa quadra de basquete numa pequena praça da rua Mateus Grou, em Pinheiros, e no parque Villa-Lobos.

"Estou ensinando não só tênis mas também disciplina, equilíbrio, tenacidade, coisas que se usam em qualquer lugar e para sempre." Foi assim que foi ensinada desde os quatro anos, quando começou a treinar, inspirada por seu pai, um professor de tênis -ensinamentos que certamente a ajudaram a lidar com o trauma de se ver impedida de atuar profissionalmente.

Para ela, essa experiência educativa é o primeiro set de um novo jogo. Nessa revanche, Vanessa está se interessando por pedagogia para dar uma dimensão especial ao esporte na vida das crianças, a maioria delas sem recursos para freqüentar aulas nos clubes. Seu projeto de vida agora é construir um espaço em que possa receber crianças e jovens sem condições financeiras de desenvolver o talento para o tênis.

Esta coluna é publicada originalmente na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

COLUNAS ANTERIORES
03/05/2004 Haja paciência
02/05/2004 O primeiro emprego a gente esquece
02/05/2004
PT toma lição de realidade
30/04/2004
A rebeldia da adolescente Rosely
28/04/2004
Favela colorida
27/04/2004
Quanto vale o título de doutor?
26/04/2004
Forças Armadas tiram jovens do crime?
26/04/2004
Professor-doutor desocupado
22/04/2004
Se essa rua fosse deles
20/04/2004
Um magnífico exemplo de incompetência