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REFLEXÃO


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urbanidade
28/04/2004
Favela colorida

Autor de alguns dos projetos arquitetônicos mais caros e comentados da cidade, Ruy Ohtake não sabia o que o esperava quando, numa entrevista, classificou a favela de Heliópolis de um dos símbolos da feiúra paulistana.

Incomodado com a entrevista, João Miranda, um dos principais líderes comunitários de Heliópolis, foi direto ao assunto na conversa telefônica com o arquiteto. Não queria reclamar, mas apenas perguntar: "Você pode nos ajudar?". Podia.

Ohtake começou, então, a freqüentar reuniões em Heliópolis, um agrupamento de 100 mil pessoas espalhadas em 1 milhão de metros quadrados na zona sul. É, de fato, um dos exemplos da degradação urbana. Em 1972, viviam ali apenas 60 famílias, transplantadas pelo poder público de um terreno da zona leste. Essa pequena vila tornou-se rapidamente a maior favela de São Paulo e passou a freqüentar o noticiário policial.

Numa reação ao caos, prosperaram associações que desenvolveram em Heliópolis um sentido de coletividade e ajudaram a implantar creches, escolas e centros de saúde. "Foi o que me seduziu", conta Ruy Ohtake.

Nas reuniões, ele percebeu que, além da demanda pelos tradicionais serviços sociais e de infra-estrutura, havia uma demanda específica por estética. "Eles querem ver coisas belas em sua comunidade."
Notou-se, nos encontros, que a beleza seria um estímulo à auto-estima coletiva.

Decidiu-se iniciar neste mês uma operação de embelezamento colorindo, com tons fortes, todas as casas de duas ruas.

Os moradores de cada casa terão o direito de escolher suas cores preferidas. "Meu trabalho será fazer uma interferência em cada uma das fachadas para que, no final, saia um painel harmônico."

A inauguração da primeira fase do projeto está prevista para as festas de junho. "Estamos correndo contra o tempo", diz o arquiteto. Uma empresa (Basf) doou as tintas e se recrutaram, na comunidade, desempregados que estivessem dispostos a ganhar um salário e serem habilitados na profissão de pintor.
O motivo da pressa: as festas de são João. Afinal, é uma festa tipicamente nordestina, assim como Heliópolis -não há melhor data para mostrar ruas coloridas.

 

Esta coluna é publicada originalmente na Folha de S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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