REFLEXÃO


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folha de s.paulo
15/01/2008

Boa lição de um ex-traficante

Perguntei a João Guilherme Estrella, ex-viciado e ex-traficante que inspirou o filme "Meu Nome Não é Johnny", como ele educaria seu filho contra o abuso de drogas. Sua receita: ficar próximo e, sem discursos moralistas ou histéricos, mostrar os perigos do prazer. A proximidade ajudaria a evitar que o filho, longe da família, visse nos amigos sua única fonte de acolhimento afetivo. "Sou um ótimo contra-exemplo do perigo da droga", conta.

Esse foi um detalhe da minha entrevista com João Guilherme (leia a íntegra aqui). Mas é um detalhe valioso para os pais e educadores preocupados com o abuso de drogas entre os jovens. Estabelecer limites gera conflitos e desgastes, mas é uma das grandes responsabilidades dos pais e educadores não para tolher, mas para assegurar a liberdade. João Guilherme, como mostra o filme, sentia-se um indivíduo totalmente livre, sem limites na família, na escola e na sociedade. Foi descobrir o limite da pior maneira possível. Numa jaula.

O que a história de João Guilherme, amplificada pelo filme, traz à reflexão é que pouco adianta o discurso terrorista ou moralista contra as drogas. Da mesma maneira, é inútil não admitir que a droga gera prazer --e só por isso é sedutora. Diante disso, fica para os pais e educadores a lição de que não devem nunca temer o conflito com os jovens para que se estabeleçam os limites. Nesse conflituoso aprendizado do limite, o jovem tem mais condições de valorizar a autonomia.

Isso implica inclusive estabelecer limites na própria sociedade. Difícil falar para os jovens do perigo do abuso das drogas quando a publicidade estimula o consumo do álcool. É simplesmente indecente a facilidade com que se associa a bebida à sensualidade e até à saúde.

Para o aprendizado do limite sem moralismo nem histeria, o filme deveria ser trabalhado nas escolas. Vale mais do que qualquer sermão.

Links relacionados:
O traficante que virou educador

Coluna originalmente publicada na Folha Online.

   
 
 
 

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