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REFLEXÃO


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urbanidade
26/05/2004
"Cinema Paradiso"

As imagens produzidas nesta semana em uma esquina de São Paulo inspirariam um belo roteiro no estilo de "Cinema Paradiso", um filme italiano que conta a história da paixão de uma criança por um cinema. Voltemos à primeira cena, 47 anos atrás.

Por causa das freqüentes invasões das vacas, os pais de Fernando Meirelles decidiram erguer uma cerca para proteger os jardins da casa, que ficava na então longínqua praça Panamericana, no Alto de Pinheiros, onde moravam. O cine Belas
Artes, na movimentada esquina da Consolação com a Paulista, tão distante da pasmaceira bucólica, exercia especial fascínio sobre o menino. "Foi um dos lugares em que aprendi a gostar de filmes", conta Meirelles.

Anos depois, o Belas Artes, falido, abandonado, estava para fechar as portas. Mas, ao contrário do que ocorre em "Cinema Paradiso", foi salvo -e isso graças, em parte, ao menino que virou cineasta mundialmente reconhecido com "Cidade de Deus".
"Quando se divulgou que o Belas Artes iria fechar, toda uma geração ficou entristecida."

Foi uma feliz coincidência. Meirelles estava mesmo interessado em ter um lugar para mostrar filmes sem nenhum apelo comercial. Tentou construir um cinema no meio da Vila Madalena, mas acabou desistindo. Soube então que um grupo, liderado pelo distribuidor de filmes André Sturm, estava atrás de patrocinadores para evitar o fechamento do Belas Artes e resolveu associar-se ao projeto.

Como está com os dois pés no mundo, viajando sem parar, Meirelles quer tirar proveito das conexões internacionais para trazer filmes que dificilmente chegariam ao Brasil. "Há filmes fantásticos de diretores fora do circuito comercial. Vamos mostrá-los em primeira mão."

Justamente por estar com os pés no mundo -neste momento, vive na ponte aérea entre Europa e África- ele não vai presenciar este momento culturalmente histórico para algumas gerações de paulistanos, que cresceram, aprenderam arte e namoraram naquela esquina -muitos dos quais não conseguiam passar por ali, vendo tudo caindo e sujo, sem sentir uma ponta de nostalgia.

Vamos à última cena. Sugestivamente, o cinema reabriu, na segunda-feira, com um filme intitulado "O Outro Lado da Rua".

 

Esta coluna é publicada originalmente na Folha S.Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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