É visível a existência, no Brasil, de um certo ressentimento contra São Paulo.
Os paulistas seriam, afinal, ricos e ainda teriam privilégios
oficiais. Uma pesquisa que acaba de ser publicada mostra,
porém, que se somarem todos os pobres das regiões metropolitanas
de Recife, Salvador e Fortaleza ainda ficariam longe, muito
longe, do número de pobres da região metropolitana de São
Paulo, com seus 18 milhões de habitantes.
De acordo com Sônia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho
e Sociedade (Iets), há na região metropolitana de São Paulo
7,5 milhões de pobres; Recife tem 2,1 milhões; Salvador e
Fortaleza, 1,6 milhão. Mesmo se somássemos aos nordestinos,
todos os pobres da região metropolitana de Belo Horizonte
e de Porto Alegre, São Paulo ainda continuaria na frente.
O resumo frio da história: em nenhum lugar do Brasil (aliás,
da América Latina), uma única região metropolitana tem tantos
pobres. E imaginar que se conseguirá reduzir a pobreza sem
enfrentar esse batalhão de deserdados é um tremendo equívoco
de políticas públicas.
A verdade é que, por preconceito e desinformação, o resto
do Brasil não vê os pobres de São Paulo e se distorcem políticas
de redução da miséria, como se o fosse essencialmente um problema
do Nordeste. Aliás, uma boa parte, se não for a maioria, dos
carentes do sudeste são nordestinos ou filhos de nordestinos.
Está na hora de acabar com essas bobagens. A pobreza não
é um problema dessa ou daquela região, mas de todo o país.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, na editoria Pensata.
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