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relíquias em boas mãos
02/12/2004

Juventude arregaça mangas pela arte

No começo, eles se comportavam como figuras tímidas, desconfiadas. Mas encontraram no tempo o maior aliado. Passaram não só a dominar as técnicas de trabalho que lhe foram ensinadas, como tomaram consciência disso, a ponto de traçarem um plano de carreira antes inimaginável. Os personagens dessa história são jovens de baixa renda de São Paulo, que hoje participam de três programas de formação de mão-de-obra especializada: Projeto de Recuperação do Acervo Fotográfico do Museu da Imagem e do Som (MIS), Projeto Jovens Montadores e Oficinas Culturais Anchieta.

Assistencialismo, decididamente, é uma palavra que não combina com esses projetos. Alexandre Bhering da Costa, de 19 anos, sabe muito bem disso. Membro da equipe que trabalha dia a dia na recuperação do acervo fotográfico contemporâneo do MIS, ele chegou ao projeto, encaminhado pelo programa Bolsa Trabalho, da prefeitura, sem ter idéia do que significava recuperar uma foto. "Eu nem sabia fotografar", lembra-se. Hoje, o rapaz, um dos talentos do grupo, está habilitado a atuar em várias etapas desse tipo de restauração, assegura a coordenadora técnica do projeto, Adriana Villela. "Ele já participou de um projeto na Nestlé e acabou de entrar na faculdade de Fotografia", diz, orgulhosa, Adriana.

Uma das idealizadoras do projeto, Adriana Villela o colocou em prática em agosto de 2003, graças ao financiamento da Vitae e à ajuda de outros parceiros. Entre eles, profissionais do Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte, do Rio, que, estiveram em São Paulo conduzindo um intensivo de uma semana de formação técnica para os dez jovens do projeto - além de prestarem consultoria técnica e manterem um acompanhamento mensal. "A gente queria fazer uma geral nesta coleção contemporânea, mas precisávamos de uma equipe que trabalhasse mais ou menos no mesmo nível", explica ela. O projeto prevê a limpeza e substituição de 13 mil ampliações fotográficas, 30 mil slides, 34 mil ampliações originais, entre outros materiais. A idéia é que esses jovens se aperfeiçoem ainda mais. Para isso, precisam da ajuda de novos apoiadores.

O Projeto Jovens Montadores também está em busca de patrocínio. Hoje, conta com 26 jovens de baixa renda, que passaram por um processo de capacitação. De março a setembro, tiveram cursos de marcenaria, elétrica, embalagem, pintura e iniciação à história da arte, além de visitas a museus e exposições. Já colocaram a mão na massa em exposições no Lord Hotel, em São Paulo, outro em Atibaia, no 1.º Salão Aberto, na Casa das Retortas (este último, um dos mais trabalhosos, na opinião do grupo, mas também um dos mais gratificantes). Segundo Clara Perino, criadora do projeto, este é um momento crucial para seus jovens montadores deslancharem na carreira de vez.

"Eles têm de fazer nome, por isso estou procurando encaminhá-los", diz. Para ela, seus pupilos possuem todas as qualificações para isso. "Aqueles que percebem que têm condições, demonstram vontade de continuar, querem se aperfeiçoar."

Agora então, o empenho em continuar tem de ser redobrado, pois, com o fim da parceria com o Bolsa Trabalho, eles não recebem mais o auxílio de R$ 180 mensais. Dependem dos trabalhos que aparecem. "Eles estão se dando bem, essa vontade é muito importante", acredita Clara. Michel Martins Gutierrez, de 18 anos, é um desses casos que tem tudo para se dar bem nesse ramo. Clara o elogia, diz que ele leva muito jeito para artes plásticas. "Quero continuar na carreira, mas penso em fazer faculdade", planeja. "Antes do projeto, eu pensava que, para montar uma exposição, bastava pregar o quadro na parede. Não sabia que era tudo isso."

Uma generosa porção de determinação move também os alunos das Oficinas Culturais Anchieta (OCA), aplicadas dentro do Pátio do Colégio. Criadas após o fim da restauração do museu do Pátio, as aulas foram organizadas com a proposta de aproximar o trabalho de restauro de jovens da periferia, há cerca de dois anos. "Na realidade, a idéia é formar conservadores de arte. É conservar para não restaurar", explica a restauradora Flávia Vidal, monitora da OCA. O projeto reuniu cerca de 30 jovens, entre 12 e 17 anos. Mas um longo caminho os conduz ao trabalho de restauro de fato. "Eles começam com artesanato para ter um primeiro contato com a arte. Do artesanato partem para a decupagem, as técnicas de colagem com pintura, técnicas de pintura, folha de ouro", detalha.

No ateliê, as peças que eles produzem são colocadas à venda e ganham uma porcentagem sobre cada uma delas. Alguns jovens estão na mira de Flávia para continuar no projeto, até mesmo atuando na futura restauração da igreja do Pátio (quando este projeto conseguir patrocínio). "O Brasil acha que restaurador é elite e isso tem de acabar", acredita Flávia. "Enquanto em qualquer lugar há coisa para consertar, sempre vai existir trabalho para todos."


ADRIANA DEL RÉ
do jornal O Estado de S. Paulo

 
 
 

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