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vício do bem
26/11/2004

Jovens carentes descobrem benefícios da internet

Jovens do bairro de São Pedro, periferia de Teresina, capital do Piauí, estão trocando o vício das drogas por um outro, de alto valor cultural. O que os entorpece agora são os 21 computadores da estação digital montada no bairro, em julho deste ano, pela Fundação Banco do Brasil, em parceria com a ONG Movimento pela Paz na Periferia, a Secretaria de Administração de Teresina e o Movimento Meninos e Meninas de Rua. Se antes os meninos entravam na sala, emprestada pela Secretaria de Administração da cidade, para roubar aparelhos de videocassete e até ventiladores para sustentar o vício, hoje eles vivem uma realidade bem contrária: invadem a sala para aprender informática. O bairro de São Pedro foi o primeiro do Brasil a receber uma escola do Programa de Inclusão Digital da FBB. Hoje, 10 estações digitais já oferecem cursos e serviços de informática a crianças e adultos. As salas têm de 10 a 30 computadores. Na última quarta-feira, dia 24, mais uma estação foi inaugurada, em Benevides, no Pará.

“A nossa meta é ter até o fim deste ano 50 estações funcionando nas regiões Norte e Nordeste e em bairros carentes de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. No ano que vem, outras 100 serão implantadas. Com isto, facilitaremos a vida de pessoas que nunca teriam oportunidade de usar um computador e muito menos a internet, e hoje aprendem a pagar uma conta, a tirar um CPF, ou emitir uma certidão pela web. Ações que obrigariam estas pessoas até a fazerem viagens de suas comunidades, no interior, para as capitais. Pela internet, os agricultores vão poder buscar e estudar novas técnicas de plantio ou mesmo requisitar visitas de técnicos da Embrapa. Para os jovens, além do conhecimento, vai aumentar sua competitividade no mercado de trabalho”, explicou Germana Macena, coordenadora do Programa de Inclusão Digital da FBB.

A exclusão digital é um dos problemas mais graves do Brasil. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano produzido e divulgado pela ONU em 2004, o Brasil ocupa a 72a colocação no grupo de países com médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com uma taxa de apenas 82,2 usuários de internet por grupo de mil indivíduos.

Para cobrir esta demanda, ações como a da FBB têm feito a diferença. Segundo Germana, a Fundação emprega, em média, 40 mil reais para montar uma escola digital com computadores novos. Por seis meses, os gastos com internet e bolsas para os monitores são financiados pela entidade. Depois desse tempo, a escola tem de passar a se auto-sustentar, mas continua sendo permanentemente vistoriada pela Fundação. Para instalar o centro, a FBB procura fazer parcerias com organizações locais – prefeituras ou empresas –, que fornecem o espaço para as salas e arcam com gastos com eletricidade, água e impostos. São estas organizações que escolhem os programas que vão usar em seus computadores. Podem optar por softwares proprietários – que exigem o pagamento pelo uso, como, por exemplo, os programas da Microsoft –, ou pelo software livre – que pode ser manipulado de acordo com os interesses dos usuários. Uma vez que opte pelo software proprietário, a entidade deve se comprometer a pagar as licenças de uso.

“O assunto auto-sustentabilidade é tratado desde o primeiro encontro com a entidade disposta a ser parceira da Fundação. Então, ao longo dos seis meses em que a FBB ajuda a financiar o programa, monitores de todas as escolas fazem encontros para elaborar a melhor forma de manter suas salas. Uns contam com o apoio de cooperativas de artesãos, outros fazem acordos com empresas ou com prefeituras. Até autorizamos que, para ajudar nas despesas da estação, seja cobrada uma taxa simbólica proporcional ao valor que o usuário possa pagar, desde que nunca se impeça o acesso de quem não tem dinheiro”, contou Germana.

Mesmo recente, o Programa de Inclusa Digital da FBB já tem gerado resultados satisfatórios. A coordenadora observa que, depois de certo tempo, a comunidade realmente entende a importância das estações e por isso Germana não teme que um dia elas se tornem fonte de renda para aproveitadores.

“Eu vejo que a comunidade se apropria das estações, que elas passam a ficar acima de qualquer questão política ou partidária. A partir daí, a própria comunidade protege aquele lugar. Mesmo assim, se a Fundação notar que há alguma irregularidade, os computadores são transferidos para outra comunidade”, pondera Germana Macena.

Um novo vício
A estação de Teresina é um bom exemplo de como isso funciona. E bem. Os próprios moradores conseguiram estabelecer uma parceria com uma empresa de ônibus para transportar gratuitamente a criançada das comunidades distantes até as salas de aula. Hoje, os 21 computadores ligados à internet servem de laboratório para 300 crianças, que são divididas em 15 turmas. Nelas, as crianças aprendem as ferramentas do programa Open Office – um software livre semelhante ao Office da Microsoft – e da internet e podem fazer ainda uma introdução ao sistema operacional Linux.

Quatro meses depois de inaugurada a estação, os meninos que ainda pertencem às gangues de traficantes das regiões mais violentas do bairro de São Marcos – Prainha, Buriti dos Lopes e São Pedro de Cima – aprenderam a ter respeito pelo espaço, muito graças à liderança de Francisco do Nascimento Júnior. Nascido e criado em São Marcos, em sua juventude humilde ele foi engraxate, zelador, vendedor, ajudante de mecânico e chegou a pedir esmolas nas ruas. Sem dinheiro até mesmo para se alimentar, mas com muita vontade de aprender história para poder ensiná-la aos outros, Júnior pediu para cursar gratuitamente um pré-vestibular do Sesc de Teresina, com a promessa de pagar o estudo quando entrasse na universidade.

“Não sei como eu passei para o curso de história da Faculdade Federal do Piauí. Dormi dois dias com o jornal que trazia o resultado do vestibular debaixo do braço para garantir que meu nome não sairia dali. Naqueles dias, decidi que passaria a vida ajudando as pessoas”, conta o então calouro que hoje também cursa ciências sociais e teologia.

Agora, aos 33 anos, Júnior coordena a ONG Movimento pela Paz na Periferia, que criou há dois anos para promover a inclusão social por meio de oficinas de rap, grafite e dança de rua. E por experiência própria confirma que a opção pelas drogas se dá por falta de acesso a diversão, lazer, cultura e comida. Quando encontram computadores da estação implantada pela FBB, os jovens preenchem esse vácuo , ele assegura.

“Muitos jovens que viviam pelas ruas me contam que estão viciados nas salas e nos programinhas de bate-papo. Eles adoram ficar conversando e navegando na internet. Hoje, conseguimos dar cursos de informática que custariam mais de 150 reais. No futuro, estes aprendizes estarão disseminando seus conhecimentos em informática para outras gerações”, sonha Francisco Nascimento Júnior.

DANIELLE CHEVRAND
da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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