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GERAÇÃO DE RENDA
11/11/2004

Dona de casa usa garrafa pet como matéria-prima de bolsas e acessórios

A coordenadora administrativa Patrícia dos Anjos Miranda até já se acostumou. Sempre que usa sua bolsa transparente, cheia de florzinhas, aparece alguém querendo saber onde conseguir uma igual. Um dia, um rapaz chegou a abordar Patrícia no aeroporto de Florianópolis, em Santa Catarina. Ele queria porque queria uma igual para dar de presente. Ela não pensou duas vezes: tirou tudo de dentro da sua e a vendeu ao interessado. Detalhe: a bolsa que tanto encanta é inteiramente feita de Pet. E tem sido motivo de mobilização de 99% dos moradores da Rua Fernandes Pinheiro, na Penha, Zona Norte carioca.

Os vizinhos entraram na onda da dona-de-casa Maria José de Oliveira Teixeira, a Zezé, de 46 anos, que resolveu usar garrafas Pet como matéria-prima para uma variedade de objetos: bolsas, porta-moedas, flores. “Aprendi que a gente tem que valorizar mais o lixo. Quando a gente joga certas coisas fora, na verdade está jogando dinheiro pela janela”, explica Zezé.

Praticamente toda a rua passou a contribuir para manter o estoque de Zezé em alta. Em vez de jogar fora as garrafas vazias de refrigerante, o pessoal as deposita nos sacos de 100 litros que ficam no quintal da artesã. “Sempre tem uma criança batendo no portão para entregar garrafas”, conta a recepcionista Juliana de Oliveira Teixeira, filha de Zezé. No quartinho da lavanderia, no segundo andar da casa, não há lugar para mais nada. É só Pet.


Bolsas em Floripa
As bolsas têm mesmo despertado interesse por onde passam. Em agosto, a estada de Patrícia, amiga de Zezé, por Florianópolis, rendeu ainda uma venda em consignação de oito delas para uma loja perto do aeroporto. Agradaram tanto que, em setembro, foi preciso mandar mais 30.

“Daqui a pouco eles devem pedir mais”, comemora Patrícia, 25 anos, transformada em garota-propaganda. Recentemente, seu marido foi levado para a emergência de um hospital e uma das enfermeiras também se interessou pela bolsa. Mais uma vez, Patrícia tratou de vender mais uma, colaborando para o sucesso da iniciativa da amiga Zezé.

A própria artesã nem acredita em tantos pedidos. “É muito bom imaginar que tem gente que eu nem conheço usando algo que eu fiz”, diz Zezé, sorridente.

Por enquanto, Zezé tem vendido as bolsas só no boca-a-boca. A R$ 15 (as forradas custam R$ 17), R$ 5 (necessaire) e R$ 3 (porta-moedas), elas têm garantido uma renda mensal ainda pequena, algo em torno dos R$ 300. Mas a artesã se anima por estar fazendo exatamente o que gosta. “Só de ver as bolsas prontas já é uma realização”, afirma.

Em média, ela faz duas ou três por dia. Mais ou menos 40 bolsas por mês, das quais metade encontra compradores. A outra metade anda engrossando o estoque que Zezé está fazendo para vender na praia de Copacabana durante o verão.

Dá trabalho, mas de cada garrafa Pet que ela recebe, tudo é aproveitado. Para cada bolsa, são 15 a 16 Pets a menos poluindo o ambiente. Até os retalhos que sobram têm destino certo. Zezé manda tudo para a igreja Nossa Senhora de Fátima, ali mesmo no bairro, que está reformando suas instalações à custa da revenda desse material. Todos os fiéis colaboram.

As bolsas são resultado de um trabalho verdadeiramente artesanal, a custo praticamente zero. São formadas por vários quadrados de Pet, cortados e costurados a mão. Em cada um deles, há desenhos de flores, pacientemente feitos com a ajuda de uma ponteira aquecida.

Compromisso para o verão
Tudo começou há mais ou menos um ano, quando Zezé e o marido, o aposentado Luís Monteiro da Silva, de 75 anos, foram a uma exposição de artigos reciclados na Marina da Glória. Ela se encantou com o reaproveitamento daquele material. Daí às aulas na Recicloteca - um Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente criado pela ONG Ecomarapendi e patrocinado pela AmBev para informar sobre questões ambientais – foi só mais um passo. “Na natureza, as garrafas demoram mais de 100 anos para se desfazer. Nesse meio tempo elas podem muito bem virar bolsas”, diz Zezé.

De cada garrafa aproveita-se tudo. A parte superior, cortada e virada de cabeça para baixo, como um copo, serve como suporte para pétalas de flores, que ficam acondicionadas na parte interna da rosca. O fundo pode ser usado para guirlandas natalinas. A parte do meio é a mais requisitada por Zezé para suas bolsas. Só a tampa é jogada fora.

Zezé não se incomoda de ensinar a quem quiser aprender. Para ela, mais vale passar adiante informações sobre o reaproveitamento de material reciclável. “No início ninguém acreditava que as bolsas eram feitas com Pet. Antes de vê-las prontas, tinha gente que até torcia o nariz. Mas conferindo a qualidade do trabalho, a maioria muda de idéia”, fala a filha de Zezé.

Juliana, por sinal, não pára de receber encomendas. “A gente nem precisa fazer propaganda. Bastou aparecer com a primeira bolsa - uma rosa que já está velhinha de uso - para as colegas de escola fazerem encomendas”, conta.

Melhor do que couro
A amiga Patrícia também elogia: “Carrego Bíblia, agenda, necessaire, e mais um monte de bugigangas nelas. A de couro não agüentou, mas a de Pet continua novinha. Elas são resistentes, fáceis de limpar, práticas e chamam a atenção”, enumera.

Entusiasmados com a produção de Zezé, os vizinhos e parentes não se acanham de recolher o Pet onde quer que ele apareça. Juliana já chegou a levar para casa sacos cheios de matéria-prima para a mãe. “A única coisa que eu não gosto é quando ela cisma de catar garrafas e lacres de latinha de refrigerante no shopping. Morro de vergonha porque o shopping não é lugar para isso. Nos outros lugares, tudo bem”, fala.

Patrícia recolhe as garrafas nas festas que freqüenta. “Normalmente são em casa de conhecidos, por isso não me incomodo de pedir. O que não posso é deixar tantas garrafas irem para o lixo sabendo no que elas podem se transformar”, diz.

O marido de Zezé também faz o que pode para ajudar. Sai à noite para ajudar a recolher garrafas na rua, armazena-as em casa, recorta e fura os quadradinhos no Pet para a mulher. “Falam muito sobre a necessidade de cada um fazer a sua parte para tornar o mundo um lugar melhor. A Zezé está fazendo a parte dela. Se os outros também fizessem, o mundo estaria bem melhor. Ou pelo menos mais limpo”, diz Luís.

Para este verão, ele até já tem compromisso. “Pretendo encher o carro com bolsas e flores para vender na praia de Copacabana. A filha Juliana dá a maior força: “Ainda mais que, para ir à praia, essas bolsas são super práticas. Elas vão bombar!”


VILMA HOMERO
do site EcoPop

 
 
 

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