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disque carroça
22/07/2004
Associação de carroceiros gera renda e diminui danos ao meio ambiente

Após podar as árvores e limpar o jardim, Glaycon Cordeiro se viu com galhos, madeira e restos de planta na porta de casa, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Para dar um destino a este material que o caminhão de coleta de lixo não recolhe, ele ligou para o Disque Carroça, um serviço criado pela prefeitura municipal.

“Foram 13 carroças para retirar o material. Liguei de tarde e na manhã seguinte já tinham retirado tudo. Deixaram o passeio varrido”, lembra Glaycon, que considera o serviço muito bom por ser uma oportunidade trabalho para os carroceiros, além de não ficar caro para quem o utiliza.

O Disque Carroça faz parte do Programa de Correção Ambiental e Reciclagem com Carroceiros, conhecido como Programa Carroceiros, criado em 1997 pela prefeitura de Belo Horizonte. O objetivo é melhorar a qualidade de vida e trabalho dos carroceiros e evitar danos ambientais causados por resíduos deixados em terrenos baldios e córregos. Os 2.800 profissionais credenciados são orientados a deixar os materiais recolhidos apenas nas 21 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) distribuídas pela cidade.

As carroças de tração animal são emplacadas, registradas e licenciadas gratuitamente, e o carroceiro ainda recebe a carteira de condutor para este tipo de veículo. Os animais também merecem atenção do programa: por um convênio com a Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, eles têm controle de vacinação e monitoramento de possíveis doenças.

O Disque Carroça foi criado três anos depois do Programa Carroceiros, em 2000, e por mês recebe uma média de cem ligações, que são transferidas para a URPV mais próxima do endereço de onde será retirado o entulho. Em contato com a URPV, o cidadão informa o tipo de material a ser recolhido e a quantidade.

A negociação do preço é feita entre morador e carroceiro. Após deixar a carga na URPV, o condutor recebe um comprovante, que entrega para quem o contratou. “O preço é definido de acordo com o material, o peso e a distância. Em geral, custa menos que o aluguel da caçamba e a população sabe que o material terá um destino adequado”, destaca Sinara Meireles Chenna, a assessora técnica da Superintendência de Limpeza Urbana.

Os carroceiros só têm a ganhar. Com a centralização das chamadas, o cliente é quem o procura. “Pelos depoimentos que temos, eles sentem alívio por saírem da atuação clandestina e vêem a deposição adequada como um diferencial para oferecer à comunidade”, conta Chenna. Nos primeiros cinco meses de 2004, eles levaram quase 33 mil toneladas de material para as unidades de recebimento.

O programa foi premiado pela Fundação Getúlio Vargas (prêmio Programa Gestão Pública e Cidadania) em 2000, pela Fundação Oswaldo Cruz (prêmio Milton Santos de Saúde e Ambiente) em 2002, pela Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos – Habitat II (prêmio Global de Dubai – Emirados Árabes) também em 2002, e pela revista Super Interessante (prêmio Super Ecologia 2003).

A prefeitura ainda incentiva os carroceiros a se organizarem em associações. Segundo Chenna, o interesse da Superintendência de Limpeza Urbana “é auxiliar a coibir a prática de deposição de entulho em locais inadequados e oferecer alternativas para que o trabalhador obtenha melhor renda”.

Catadores de materiais reaproveitáveis
Uma das organizações que já serve de incentivo à criação de outras é a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável (ASMARE), que está cadastrada no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. A ASMARE tem 380 associados e há 14 anos trabalha com coleta, triagem e comercialização de materiais reciclados em Belo Horizonte.

José Aparecido Gonçalves, coordenador técnico da associação, explica que “a ASMARE é o resultado de um trabalho da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte, que rompeu com uma visão e uma prática assistencialista com relação aos moradores de rua e aos catadores”.

O coordenador técnico lembra que os catadores de papel eram objeto apenas de ações de caridade, sendo desconsiderada a importância do trabalho que prestam. Ele acredita que a valorização se deu pela organização dos trabalhadores. Há cinco anos, em uma parceria com a prefeitura, a associação passou a trabalhar também a inserção de moradores de rua neste universo de geração de renda.

Na associação, cada catador tem um espaço para triagem onde recolhe e classifica o material. “A ASMARE faz pesquisa de mercado e o material é vendido no sistema de concorrência”, esclarece Aparecido, que estima que o aumento de renda dos catadores associados chega a 300% e acrescenta que “o catador isolado está submetido a uma rede de atravessadores que o superexploram. É quase um trabalho escravo. Organizados, eles agregam valor e vendem por meio de concorrência, conquistando respeito do mercado comprador”.

Cada material tem um valor no mercado, por isso o primeiro processo de agregação de valor é a triagem por tipo. Juntos, o papel e o papelão perdem valor na venda. Depois da separação, há o processo de prensagem: o material prensado vale mais porque proporciona ao comprador menos despesa com o transporte.

Tudo isso os catadores aprendem em cursos de capacitação oferecidos pela ASMARE. As orientações transmitidas são focadas no valor do trabalho deles como elemento de preservação ambiental, nos cuidados com a saúde e na importância de cuidar das ruas por onde é feito cada trajeto.

Aparecido conta que a associação quer ir mais longe: “Temos uma parceria com a Fundação Banco do Brasil para implantar uma unidade industrial com o objetivo de levar os catadores ao domínio da cadeia produtiva do lixo.” Além de preparar a matéria-prima para o mercado reciclador, a proposta desta parceria é fazer com que as associações se organizem em rede e tenham condições de industrializar o setor plástico.

A ASMARE tem parcerias também com mais de 400 empresas de grande porte para a entrega do material reciclável e com grupos empresariais que recorrem aos catadores para a limpeza interna dos seus espaços e a retirada dos materiais recicláveis.

“Antes da ASMARE, os catadores eram confundidos com mendigos, marginais. Hoje, eles têm credibilidade, são sujeitos na cidade, que os respeita”, orgulha-se Aparecido, que já está levando o modelo para outros 33 municípios de Minas Gerais e se preparando para atender à demanda de implantação da experiência em outros estados.

Para ele, isso é resultado do valor social do trabalho, que “está no resgate de uma população que era submetida à própria condição do lixo urbano”; do valor ambiental, porque, “se não houvesse o trabalho dos catadores, os materiais iriam para os aterros sanitários, que teriam seu tempo de vida útil diminuído”; e do valor econômico, porque “esta população sobrevive do próprio trabalho, fazendo circular moeda no mercado”.

O site da ASMARE é o www.asmare.org.br e o telefone do Disque Carroça, que pode ser usado por moradores de Belo Horizonte, é o 3277-8270.



SANDRA FLOSI
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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