HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
inclusão social
24/03/2005
ONGs oferecem oportunidade de ingresso no mercado para jovens

De operário a doutor. Esse foi o caminho de Sérgio Contente, presidente da CONTMATIC Phoenix, empresa de desenvolvimento de softwares administrativos na área contábil, fiscal e trabalhista; idealizador do MAC (Movimento dos Amigos dos Contabilistas) e fundador do Instituto de Desenvolvimento Profissional Amigos Contabilistas, Empresários, Profissionais Liberais, e de Informática (Idepac). De origem humilde, Sérgio teve a oportunidade de estudar e cursou uma das universidades mais concorridas do país, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

"O trabalho da Idepac foi uma forma de retribuir para outros jovens de baixa renda a oportunidade que tive em estudar numa boa escola e, conseqüentemente, entrar numa faculdade. Chegou a hora de devolver o que ganhei. Se eu conseguir ajudar pelo menos 750 jovens são pessoas a menos sem estudo e com mais chances de ter um emprego", afirma Sérgio.

A organização não-governamental Idepac será inaugurada no dia oito de abril, no bairro do Tatuapé, na zona Leste de São Paulo, com a palestra do psiquiatra Içami Tiba e como convidado especial o ministro do Trabalho e Emprego, Ricardo Berzoini. Serão oferecidas 250 vagas no período noturno nas áreas de administração e informática. Com o objetivo de promover a inclusão social, a Idepac tem duas frentes de trabalho: cursos de qualificação profissional e ingresso de jovens no mercado de trabalho.

Os cursos terão uma carga total de 600 horas/aula, que corresponde a quatro estágios bimestrais com 150 horas/aula. Inicialmente, as aulas serão de segunda à sexta-feira das 19 às 22h30. Nos meses seguintes, serão oferecidas mais de 500 vagas nos turnos matutinos e vespertino para os cursos de administração e informática, que terão aulas de auxiliar de escritório, auxiliar de departamento de pessoal, telemarketing, técnicas de atendimento ao público, digitação, webdesign, manutenção de micro e rede, e outros. Estas aulas variam de acordo com a escolha do curso.

De acordo com Sérgio, os dois primeiros estágios são iguais tanto para alunos interessados em Administração quanto Informática, mas a partir do terceiro ele opta para qual área quer seguir. A ONG irá fornecer lanche reforçado e todo o material didático (apostilas) além de disponibilizar cerca de 150 computadores novos tanto para as aulas teóricas quanto as práticas.

Para ter bolsa de estudo, os jovens tem que atender as exigências do Programa Nacional do Primeiro Emprego (PNPE), ou seja, ter 16 a 24 anos, sem experiência no mercado de trabalho formal, renda per capita familiar de meio salário mínimo e que estejam cursando ou tenham completado o ensino fundamental ou médio. Estes jovens devem ser encaminhados pelas entidades conveniadas ao Idepac. Cerca de 20 organizações já estão inscritas, sendo que cada uma tem direito a dez bolsas de estudo.

O PNPE é um conjunto de ações do governo federal e da sociedade civil para gerar empregos e qualificar os jovens para o ingresso no mercado de trabalho. As ações deste programa são Estímulo à Responsabilidade Social, em que o governo valoriza e incentiva as ações sociais de empresas ou instituições para o público do programa; Consórcio Social da Juventude, um projeto formado por entidades ou movimentos da sociedade civil voltados à qualificação profissional (inclusão digital, aulas de ética e cidadania, entre outros temas); Jovem Empreendedor, oportunidade de ocupação e renda para jovens por meio de estímulo ao desenvolvimento de pequenos negócios, e Soldado Cidadão, um trabalho do Ministério da Defesa e acompanhamento metodológico do Ministério do Trabalho, que resulta em cursos de capacitação e formação profissional.

Priscila da Silva Amaral, 18 anos, espera que o curso seja uma boa oportunidade para conseguir um emprego bom. Hoje, ela trabalha como ajudante de embalagens. "Estou ansiosa para começar logo o curso e quero seguir na área de Administração. Se tiver oportunidade, quero também fazer faculdade de Administração depois de conseguir emprego", afirma Priscila.

Já a jovem Adália Alves da Silva, 21 anos, foi indicada pela Associação Santa Zita e também fica aguardando o começo das aulas na expectativa de um futuro melhor. "Adoro Informática e acho que este curso vai ajudar bastante na hora de conseguir um emprego. Espero que dê tudo certo", declara Adália.

Outro trabalho da entidade é encaminhamento de jovens para o primeiro emprego. A entidade está participando da modalidade Estímulo à Responsabilidade Social no PNPE, já que eles se responsabilizam pela intermediação de mão-de-obra e a participação das empresas. A Idepac identifica a vaga e o Delegacia Regional do Trabalho (DRT) encaminha os jovens inscritos.

De acordo com Marluse Castro Maciel, coordenadora do Estado do Programa Nacional Primeiro Emprego em São Paulo, as empresas podem escolher entre o Selo Empresa Parceira do PNPE ou a subvenção econômica. Esta última opção trata-se de um incentivo fiscal do governo de R$ 1.500 por ano referente a cada jovem contratado. O pagamento é realizado por transferências bimestrais, ou seja, seis parcelas de R$ 250.

"É importante esse trabalho da Idepac, porque ajuda muito aquele jovem que nunca trabalhou e vem de uma família com renda per capita de meio salário mínimo. Não é um trabalho assistencialista nem de Responsabilidade Social superficial, mas trata-se de uma coisa concreta. Estes jovens terão a oportunidade de ter uma profissão. Vão passar ter seu próprio dinheiro e, muitas vezes, sustentar suas famílias", ressalta Marluse.

Apesar da entidade nem ter sido inaugurada, Sérgio está articulando com seus clientes e outras empresas o ingresso de jovens no mercado de trabalho, que devem estar inscritos no PNPE para a organizar identificar a vaga e a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) encaminhar a vaga. Atualmente, há cerca de 29 pessoas empregadas com carteira assinada.

Monalisa Aparecida da Cruz, 18 anos, está trabalhando como recepcionista desde quatro de março no escritório Relíquia. "Para mim, este trabalho está sendo bom ainda mais que é meu primeiro registro. Eu protocolo, arquivo documentos e passo recado. Me esforço bastante para aprender a cada dia", disse Monalisa.

Já sua coordenadora Cristina Teixeira, da parte Administrativa do escritório, aprova a iniciativa do programa da Idepac em dar oportunidades de trabalho para jovens de baixa renda e inexperientes. "Cada dia é mais difícil encontrar pessoas que empregam pessoas inexperientes. Chega a ser ridícula essa situação. Todos querem experiência, mas ninguém dá oportunidade. Já dá para sentir que ela está se desenvolvendo aqui. Ela tem educação quando fala com o público e demonstra ter vontade de aprender", conta Cristina.

Núbia Barbosa do Amaral, 18 anos, foi outra jovem beneficiada pelo programa de
ingresso no mercado de trabalho. Desde do dia sete de março, ela trabalha numa loja de roupas infantil. Fica na recepção, faz controle de estoque e cálculos. "Estou feliz por trabalhar em um emprego fixo. Eles estão ensinando ainda muitas coisas. Agora vou ter dinheiro para pagar minhas continhas", afirma Núbia.

Neide Costa de Barros, chefe de Núbia, ficou interessada no PNPE desde a primeira vez que ouviu falar, mas achava que tinha muita burocracia. "Quando meu contador comentou que a Idepac estava ajudando na triagem, seleção e na burocracia. Não tive dúvida e em uma semana já tinha contratado uma funcionária do programa do governo. O cadastro com o DRT foi feito muito rápido pela internet. Não me arrependo, já que minha funcionária é bastante atenciosa", afirma Neide.

ONG Colméia orienta jovens indecisos sobre qual carreira seguir
"Eu era completamente perdida e indecisa para saber que carreira iria seguir. O programa foi uma forma de conhecer as outras profissões. Eles não falaram para mim o que fazer, mas fizeram de uma forma para que eu mesma descobrisse". A jovem Mayse Bertani Oliveira, 19 anos, conta como foi o Programa de Orientação Profissional, que participou em outubro de 2004.

Há mais de 15 anos, a entidade Colméia - Instituição a Serviço da Juventude oferece este programa para jovens de baixa renda com atendimento em grupo de 10 a 15 participantes. Criada em 1942, seu principal objetivo é auxiliar moral, material e intelectualmente os estudantes do Ensino Médio com atividades complementares da escola e da família.

Atende cerca de 300 jovens por meio de áreas de atuação como o Centro de Orientação Vocacional/Profissional e o Programa de Complementação Escolar com o Grêmio Esportivo/Educativo e o Programa de Qualificação Profissional. Além disso, há cursos de decoração, dança de salão, artes plásticas, judô, aulas de canto, etiqueta, que são pagos e viabilizam financeiramente os outros cursos gratuitos.

O programa de Orientação Profissional visa atender jovens entre 16 e 21 anos de escolas de rede pública, que estejam cursando Ensino Médio ou cursinhos gratuitos. As aulas serão realizadas todas as terças-feiras das 14h às 16h30, na sede da instituição, a partir do dia 29 de março. As inscrições para esta turma deverão ser feitas até dia 24 de março (quinta-feira). Mas, a entidade forma outros grupos de acordo com a disponibilidade dos participantes e os interessados podem deixar seu nome numa lista de espera para novas turmas.

De acordo com Marisa Donatiello, coordenadora da Colméia, as atividades promovidas pelo Programa procuram organizar o pensamento dos jovens, seus interesses e ajudam a eles verem suas predominâncias. "Os jovens trabalham em grupos de no máximo 15 pessoas. Eles participam de jogos, que ajudam a ver a quilo que podem se transformar em trabalho e ver as dificuldades de cada carreira. É importante visualizar os valores dos jovens, sua família e o contexto em que ele está inserido", declara Marisa.

Após o programa, Mayse começou a fazer terapia para se conhecer melhor, mas ainda está indecisa entre Direito e Jornalismo. "Trabalho num escritório de advocacia e cursar Direito já seria meio caminho andado. Eu gosto do que eles fazem aqui. Mas em uma das atividades do Programa de Orientação Profissional conheci o trabalho de jornalista e me identifiquei bastante na parte da pesquisa, leitura e escrever", conta Mayse.

A jovem admite ainda ter medo de se frustar em começar um curso e depois largar. "O programa me deu um click e fiquei bastante empolgada, pois cada aula era um tema diferente, atividades diversificadas e me conhecia um pouco mais. Tive sorte em participar de um grupo que falava bastante e trocávamos muitas idéias e sonhos. Apesar de estar indecisa, pelo menos sei onde devo me dirigir e trabalhar minha insegurança, já que tenho medo em pisar em algo desconhecido", disse Mayse.

Após anos de experiência, Marisa notou que jovens que estudam na rede pública e à noite são mais autônomos, que estudantes do período matutino e não trabalham. Os primeiros jovens procuram por iniciativa própria o programa, enquanto os últimos são impulsionados pelos pais. "Em geral, os que estudam a noite são mais velhos e tem o perfil de trabalhador. As mães dos estudantes do período da manhã que incentivam seus filhos a participarem e mostram uma probabilidade maior de cursar a graduação", revela Marisa.

"Aqui as pessoas tem a oportunidade de mostrar seus desejos e sonhos. Eles abrem seus tesourinhos e discutem muito com a psicóloga. Vemos todos os limites e dificuldades de muitas profissões. Questionamos o que eles querem fazer e podem cursar. Fazemos exercícios de auto-conhecimento. Assim, trabalhamos com projetos de vida", declara Marisa.

Segundo a coordenadora, os jovens chegam esgotados e pressionados para escolher uma carreira o mais rápido possível. Por isso, a Colméia incentiva os jovens a discutirem mais cedo a escolha da profissão para não deixar nos meses de vestibular e acabar sendo precipitados. "É uma angústia sobre-humana. Muitos chegam desanimados e falam que tanto faz a carreira que seguir, porque está tudo ruim para conseguir emprego depois", conta Marisa.

O programa conta com psicóloga e pedagoga. Há pesquisa bibliográfica sobre as carreiras e incentivo à exploração de campo, ou seja, conversar com um profissional mais experiente para verificar seu trabalho. A orientação vocacional é formada por sete sessões de duas horas e meia uma vez por semana. O programa gratuito e pago tem a mesma duração e material para os estudantes.

Dayane de Souza Vicente, 18 anos, participou do programa em setembro de 2004 e está encaminhada. Estava em dúvida entre Administração e Pedagogia. "A cada encontro esclarecia uma dúvida referente aos cursos que estava indecisa. Fiz bastante amizade e abri meus olhos para o que queria mesmo. Até conhecia profissões totalmente desconhecidas. Optei por Pedagogia e estou no primeiro ano de faculdade. Quando a gente faz o que gosta fica até mais fácil de aprender", revela Dayana.

Serviço:
Colméia - Instituição a Serviço da Juventude
Horário e Atendimento para inscrições: 8h às 11h30 e 13h. às 18h30
Rua Marina Cintra, 97
Jd. Europa- São Paulo
Tel. (11) 3062-2258
www.colmeia.org.br

Sede da Idepac
Rua Visconde de Itaboré, 441, Tatuapé- São Paulo
Tel. (11) 6190-7767/6192-6166 (com Paloma Oliveira)
www.idepac.org.br

Programa Nacional do Primeiro Emprego
http://www.mte.gov.br/FuturoTrabalhador/primeiroemprego

SUSANA SARMIENTO
do site setor3

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIOreS
24/03/2005 Cultura de rua movimenta jovens piauienses
23/03/2005 Curso capacitará lideranças comunitárias
23/03/2005 Pescadores paulistas, passam por curso de capacitação
22/03/2005 Município inicia projeto Anjo da Guarda nas escolas
18/03/2005 Projeto Novos Talentos pode fechar
17/03/2005 Projeto estimula plantação de árvores frutíferas
11/03/2005 Mulheres buscam caule de bananeiras para criação de seus produtos
09/03/2005
Lideranças comunitárias são capacitadas para planejamento
08/03/2005 As mulheres que fazem os movimentos sociais
04/03/2005
ONG capacita mulheres a criarem programas de rádio com olhar feminino