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futebol
28/06/2004
Adolescentes da periferia de SP representam Brasil na Europa

Vanessa Sayuri Nakasato

Trinta e seis adolescentes, entre 14 e 16 anos, estão com as malas prontas para ir à Europa, esta semana. Eles representarão o Brasil em quatro copas mundiais na Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia. Os meninos, em sua maioria moradores da periferia de São Paulo, viajarão por 40 dias e disputarão com 28 mil atletas de 55 países.

Os adolescentes compõem um dos times do Clube Pequeninos do Jockey. Trata-se de uma associação de futebol infanto-juvenil que funciona na chácara do Jockey Clube e atende crianças carentes. Fundado em 1970 pelo ex-turfista José Guimarães Junior, mais conhecido como Velho Guima, é a 22ª vez que o clube leva seu time para campeonatos no exterior.

O Clube Pequeninos do Jockey é famoso por colecionar títulos e fabricar craques. A galeria da sede exibe mais de mil troféus, dentre eles 143 internacionais, fotos, recortes de jornais com vitórias em diversas partes do mundo, e ex-alunos como Zé Roberto (Bayern de Munique, Alemanha), Julio Batista (Sevilha, Espanha) e André Luiz (Paris Saint-Germain, França). Apesar disso, o maior orgulho de Guimarães é outro: “Minha grande alegria é saber que os garotos saem daqui cidadãos. Somos uma máquina de formar homens.”

Segundo Guimarães, o objetivo da entidade não é transformar crianças em estrelas do esporte, mas em pessoas de caráter. Respeito, solidariedade, integridade e honestidade são assuntos trabalhados diariamente nos gramados. O recurso preferido são histórias verídicas e fictícias, algumas tristes, outras bem humoradas, contadas pelo Velho Guima depois do treino, uma vez por semana. “É uma maneira de os garotos sentirem, refletirem, entenderem e nunca esquecerem da importância de cada ato ou sentimento.”

Sem escola, sem bola
Um dos critérios para treinar no Pequeninos do Jockey é estar na escola. E não basta freqüentar as aulas. Tem de ter notas boas, caso contrário, recebe punição. Nos fins de bimestre, os treinadores pedem para que as crianças apresentem seus boletins. Cada nota vermelha é um jogo a menos em campeonato. Ou seja, tirou nota baixa, fica no banco.

“Aqui ninguém reprova. Essa molecada faz qualquer negócio para jogar futebol”, diverte-se o técnico José Gomes da Silva Filho, que está no clube há 16 anos.

Gomes explica que não basta exigir matrícula escolar. Tem de exigir desempenho. “Não queremos que as crianças entrem na escola para poder jogar e deixem os estudos de lado. A educação é fundamental para a vida delas e tentamos deixar isso bem claro durante os treinos.”

A marcação cerrada em cima dos meninos traz bons resultados. Quase todos terminam o ensino médio e, aqueles que não são chamados para jogar em times profissionais, acabam cursando uma faculdade. “O melhor prêmio para os nossos esforços são os convites de formatura. Cada um que recebemos é uma valiosa recompensa”, diz Guimarães.

Conforme o ex-turfista, há casos de meninos que entraram no clube com cinco anos de idade e saíram com 17. Formaram-se, tornaram-se médicos, advogados, veterinários e, hoje, não só levam seus filhos para jogar na entidade como ajudam a manter o espaço com doações.

O Pequeninos do Jockey cobra mensalidade simbólica de quem pode, mas grande parte de seus custos são financiados por amigos, empresários e, principalmente, ex-atletas. “Sempre ensinamos às crianças a jamais se esquecerem do passado, a terem memória. Se um dia alcançarem o sucesso, é importante que elas se lembrem que alguém as ajudou e sejam gratas por isso.”

Sonhos e melhoras
Na opinião de Sandra Maria R. Collado, seu filho Gustavo, de 9 anos, ficou mais disciplinado e aplicado nos estudos após entrar no clube. Mais do que isso. Passou a ter sonhos. “Aqui, ele aprendeu a ter objetivos, buscá-los e merecê-los.” Uma das metas de Gustavo, segundo ela, é jogar na Europa, como os meninos mais velhos do grupo. “Meu filho sabe que só poderá ir com 16 anos, mas já está juntando dinheiro para isso. Guarda cada centavo para poder comprar sua passagem quando a idade chegar.”

O são-paulino Yacov Ramos Lélis tem 6 anos mas também já possui sonhos. “Quero ser jogador de futebol”, afirma. Fã de Luiz Fabiano, atacante do Tricolor Paulista, Yacov diz decidido que estudará bastante para que isso se transforme em realidade.

Atualmente, cerca de 600 crianças e adolescentes treinam no clube. Mas, em 34 anos, mais de 150 mil garotos passaram pela instituição. “Já chegamos a ter 3.600 crianças por ano”, comenta Gomes. Ele acredita que o número de atletas diminuiu devido ao aumento de escolinhas de futebol em toda a cidade. “E se tivéssemos mais, não sei se conseguiríamos sustentar o projeto por falta de verba.”

Ajuda
O campeão olímpico de vôlei, Pampa, está organizando um show beneficente, que acontecerá este mês, em prol da entidade. Embora não seja ex-atleta do clube, ele afirma que “não tem como ver um trabalho lindo desses e não querer ajudar.” Para ele, se todos os jogadores que o Pequeninos já revelou e exportou depositassem uma quantia todo mês, o nome do clube seria Pequenos Gigantes e estaria rico. “Vinte por cento do salário estava bom. Não precisava mais do que isso”, brinca.

Para saber mais sobre o Clube Pequeninos do Jockey, o site é www.pequeninos.com.br

 
 
 

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