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Febem Futebol Clube
22/06/2004
Instituição revela craques para os times profissionais

Na Febem paulista, as peladas viraram sinônimo de oportunidade de vida. Acompanhadas por olheiros de clubes profissionais, as tradicionais partidas de futebol entre internos da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor de São Paulo já revelaram algumas promessas de craques. Times da elite nacional, como Corinthians, São Paulo e São Caetano, enviam regularmente seus descobridores de talentos para acompanhar os jogos na instituição, que reúne quase 7 mil crianças e adolescentes.

Nos pés dos meninos que um dia se envolveram com o crime está a esperança de que o esporte seja uma alternativa de reinserção social. 'Tenho visto jovens com técnica, habilidade e potencial', diz Jordan Viana, treinador dos times de base do Comercial de Ribeirão Preto. O clube, na segunda divisão do campeonato paulista, já aposta no futebol de D.W.S., de 18 anos, descoberto nos campeonatos internos da Febem.

Atacante, D.W.S. começou a treinar no Comercial há um ano e agora compete nos juniores. Aos 16 anos, ele foi preso depois de participar de um roubo no qual um dos comparsas matou um professor universitário. O latrocínio não é um caso comum dentro da instituição. Ali, mais de 60% dos internos cumprem sentença por roubo ou furto.

'O sonho dos garotos é a profissionalização - quem sabe, jogar no exterior', conta Viana. Em nome do sonho, muitos meninos se esforçam para mudar. E o esporte é um bom impulso nesse sentido, segundo Jacques Cavalcanti, um dos coordenadores do Fórum Nacional dos Executores de Medidas Socioeducativas. 'Entre eles existe um respeito solene às regras do futebol', diz. 'Isso acaba ajudando-os a entender melhor a necessidade das leis, do trabalho em equipe e da disciplina.'

O desempenho dos ex-infratores é tão surpreendente que a Febem cogita a criação de um banco de atletas, segundo o vice-presidente da entidade, Fábio Saba, também professor de Educação Física. O esporte número um no coração dos brasileiros é o mesmo que ocupa o primeiro lugar no ranking da preferência dos internos da Febem paulista. Quase 20% deles, inclusive as meninas, escolhem o futebol, entre as mais de 23 modalidades oferecidas pela instituição. Para participar, não basta habilidade. É exigida freqüência na escola e uma ficha de comportamento limpa. O jovem também não pode ter passado anteriormente pela Febem.

Quem não segue as regras está fora - e elas incluem até a proibição de falar palavrão durante as peladas. 'Nenhum deles quer perder a oportunidade', diz Fábio Saba. Afinal, chegar à seleção da Febem garante prestígio e períodos de liberdade. No ano passado, o time principal da instituição paulista venceu o 1o Torneio Interestadual de Futebol, no Maracanã. Durante o evento, que reuniu mais de 700 adolescentes de Febens de outros Estados, não houve brigas nem fugas.

'Nada impede que vocês vistam a camisa de grandes clubes', disse aos internos o supervisor técnico dos times infantil e juvenil do São Caetano, João Gilberto Salles, após um amistoso contra a seleção da Febem-SP. 'Física e tecnicamente, vocês não devem nada aos meninos que treinamos', completou. A peneira para entrar num grande clube, porém, é difícil. Dos 5 mil adolescentes que disputaram uma vaga no Azulão neste ano, só 60 foram aprovados.

Para os ex-infratores, o caminho ainda é mais longo. Eles não foram testados em várias peneiras, como os outros garotos que já jogam nos juniores. Em vez de percorrer os clubes, estavam no crime ou presos. Além disso, precisam de escolta e autorização judicial toda vez que ultrapassam as portas das unidades. 'Essa burocracia desestimula os clubes', conta Rodrigues, ex-jogador do Santos. A Febem-SP ainda não conseguiu fazer um acompanhamento sistemático sobre o que acontece com os adolescentes-atletas depois que eles ganham a liberdade.

Nas rodinhas de conversa dos internos, não faltam referências a craques que saíram da miséria para a glória dos estádios. Robinho, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Romário e até Garrincha. Ao vivo, eles também são apresentados a outros exemplos. 'Trazemos atletas que estão na mídia e jogadores de outros tempos para que eles vejam que é preciso batalhar muito para construir uma história dentro do esporte', diz Rodrigues, que, junto com Zé Maria, ex-craque corintiano, organiza os jogos e as palestras. 'Já vieram grandes nomes que falaram de pobreza, de problemas com drogas e que até já estiveram presos', conta. Um dos exemplos mais citados é o do lateral esquerdo César, ex-São Caetano, hoje titular da Lazio, na primeira divisão do campeonato italiano. Em 1997, César foi preso por assalto. Cumpriu pena no Carandiru e ficou famoso não só pelo talento, mas também pelas autorizações judiciais de que precisou para entrar em campo.

As informações são da Revista Época.

 
 
 

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