O
fim da escola
Daqui a 25 anos, o que hoje é óbvio
para poucos será senso comum: a escola como a conhecemos,
transmissora de conteúdos avaliados por testes, será
encarada como um sinal de educação de baixa
qualidade.
Pelo menos para os filhos da elite, capazes
de pagar mensalidades maiores, a escola que avalia o aluno
em provas, cobrando a memorização, já
terá deixado de existir. Entrar nas melhores faculdades
só vai exigir capacidade de raciocínio e de
associar informações. Por isso, o ensino de
artes e filosofia ganhará espaço nobre.
O fim da escola que aí está
implicará professores treinados para atuarem como facilitadores,
transitando em várias esferas do conhecimento. As matérias
não estarão presas ao currículo definido
no ano anterior, mas ao calor do cotidiano.
Os conteúdos estarão ainda mais
disponíveis em meios eletrônicos, permitindo,
graças à interatividade, que se aprenda em qualquer
lugar e a qualquer hora; receber ajuda pelo computador será
tão comum quanto estar numa sala de aula de real.
A escola útil para preparar o jovem
ao mercado de trabalho só sobreviverá se puder
ajudar o aluno a gerir a enxurrada de dados e a se tornar
um pesquisador permanente. Devido à enorme quantidade
de dados disponível, a sociedade será mais escolarizada,
a começar das empresas, nas quais o fundamental será
produzir, administrar e transmitir inovações
a seus funcionários. Cinemas, teatros, exposições,
museus e centros culturais terão fortes núcleos
educativos para a formação do público.
O mestre terá uma função
que vai lembrar o orientador de uma tese de doutorado; portanto,
a escola não mais será dividida em séries
estanques, será um espaço sem salas de aula,
onde os alunos transitarão com suas dúvidas
e curiosidades. Terá um ar de centro cultural. O educador
e o comunicador tendem a se aproximar: afinal, o professor
terá de tirar proveito dos fatos em tempo real e encaixá-los
nas áreas de ciências humanas, biológicas
ou exatas.
Para manter seus leitores, ouvintes e telespectadores,
a imprensa também vai se aproximar da educação.
Não vai apenas transmitir ou interpretar informações,
mas, com o auxílio de recursos tecnológicos,
oferecerá salas de aula virtuais e até presenciais
para ajudar no entendimento dos fatos. Terá surgido
uma nova linguagem (e uma nova profissão), misturando
didática com comunicação.
O ensino superior será redefinido para
atender a essa demanda. O diploma só terá importância
se o seu portador enriquecê-lo não apenas com
novos diplomas mas com experiências profissionais.
Daqui a 25 anos, o que já é
óbvio para muitos não mais será discutido:
os níveis de inovação tecnológica
e de mudança veloz dos fazeres e saberes profissionais
não mais permitirão que o estudante deixe de
ser estudante.
Gilberto Dimenstein, 46, é jornalista.
É membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo
e presidente do conselho pedagógico da revista "Educação".
Faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade
de Columbia (EUA). Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz, em
São Paulo.
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