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Dia 26.08.01

 

 

Portadores de deficiência abrem caminho próprio no mercado

Excluídos do mercado de trabalho, deficientes lucram fazendo produtos artesanais em casa ou na escola.

(Folha de S.Paulo)

 

 

 

 

 

 

 

 

Terapia ocupacional vira pequeno negócio

Deficientes, eles não querem benevolência nem caridade. Têm talento e tiram dele o sustento diário. Excluídos do mercado de trabalho, descobriram na determinação um perfil empreendedor e tornaram-se microempresários.

São minoria, é verdade. Mas já há gente de olho no trabalho deles. A ONG (organização não-governamental) Amankay vai incluir produtos feitos por deficientes num catálogo de sugestões de brindes empresariais (leia texto).

Entre elas, estão os bonecos e os fantoches de pano confeccionados pelos alunos da Escola Projeto, vendidos em lojas de brinquedos educativos. Portadores de deficiências mentais, eles montam de 500 a 3.000 produtos por mês.

"É uma terapia ocupacional, e eles precisam se sentir produtivos", explica a pedagoga Raphaela Viggiani Coutinho, 62, que dirige os 25 estudantes de 24 a 30 anos. A escola funciona como uma linha de produção. "Tentamos extrair o melhor deles", diz.

A publicitária Denise Kracochansky envolveu os alunos da Escola Projeto na sua história, "A Cama Mágica", sobre uma menina que não gosta de dormir: são eles que fazem a montagem do kit -inclui uma boneca, peças de madeira, tinta e pincel.

"Estava com dificuldades com o fornecedor de bonecas. Por acaso, vi brinquedos feitos pela escola na Tok & Stok [loja de produtos para a casa". Liguei e disse que tinha urgência: em três dias, entregaram cem. Viramos parceiros."

"Administrar negócios não é minha vocação", afirma a diretora da Projeto. Para ter preços competitivos, ela perde horas ao telefone cotando matéria-prima. "Sonho com doações de algodão, lã, linha, malha, plástico e tinta."

No Lar Escola São Francisco (Lesf), 243 deficientes fazem terapia ocupacional nos cursos de encadernação, mosaico, reciclagem de papel, secagem de flores e velas. A produção vai para a loja da entidade, e os aprendizes ficam com o lucro: embolsam até R$ 480 por mês trabalhando em casa.

"Eles se sentem produtivos. Muitas vezes, a avaliação médica não permitiria um encaminhamento ao mercado de trabalho comum", diz Suzana Marina Cesar Leal, coordenadora do curso de capacitação profissional e do serviço de recolocação do Lesf.

Hoje portador de tetraparesia (evolução da paraplegia, que é a paralisia de membros inferiores e porção inferior do tronco), resultado de um acidente de carro, em 97, Maurício de Sá, 47, engenheiro de formação, tornou-se, após 11 meses sem movimento algum no corpo, um artista do barro.

A descoberta do dom foi na terapia, logo transformada num negócio "ainda não muito lucrativo". Em seu ateliê, em Vitória (ES), ele produz cerâmicas decorativas e dá aulas para doentes mentais. "Retiro todo o meu sustento (fatura R$ 2.500 por mês) dessa nova atividade", afirma.

Suas peças já viraram mostras e estão nas boas lojas de decoração da cidade, mas ele repulsa a idéia do marketing "produto feito por um deficiente". "Sou totalmente contra! Quero ser uma referência do tipo que a pessoa olha e diz: "Poxa, o cara conseguiu. Se eu batalhar, também consigo"."

Mais limitado (tem paralisia cerebral de nascença), Rodrigo Brandão Monteiro, 22, depende da mãe, Etiana, 48, artista plástica, para pintar com a boca vasos em cerâmica. "Desde pequeno, minha mãe me ensinou a mexer com as tintas. Já que não posso pintar as paredes, pinto os vasinhos."

"Se não fosse a atividade, ele não teria desenvolvido tanto a capacidade muscular e não teria tanta vontade de viver", atesta a mãe. "Eu me sinto mais útil", resume o filho, que chega a pintar 50 peças/ mês, todas com motivos florais, vendidas a até R$ 12 cada uma nas floriculturas de Atibaia (SP).

Mauro Watanabe, 43, começou a perder a audição aos sete anos. Mas aprendeu com a família, oriental, a arte do origami (ori, dobrar; gami, papel), que logo virou um pequeno negócio. "Sempre acreditei na minha capacidade de desenvolver algo eficiente, esquecendo a minha deficiência."

Funcionário público desde 94, começou ensinando no grêmio da CDHU (companhia estatal). "Criei um método de ensino eficiente. Nas aulas, falo pouco, enfatizando a visualização." Atualmente, dá cursos e faz, sob encomenda, cartões e móbiles em origami. Lucra R$ 400 por mês.

"Passo emoções nas peças. De uma cesta sai um bombom; de uma flor, uma mensagem", exemplifica. Seu objetivo agora é ensinar a arte para professores públicos. "Já mandei um projeto." Abandonar o emprego? "Por enquanto, não. Negócio próprio tem altos e baixos. É arriscado."

Ateliê de Sá: 0/xx/27/3314-0363; Denise Kracochansky: 0/xx/11/3063-4835; Escola Projeto: 0/xx/11/5543-7954; Lar Escola São Francisco: 0/xx/11/5549-3322; Mauro Watanabe: 0/xx/11/241-4087, com Agnes, ou morigami@bol.com.br; Rodrigo Brandão Monteiro: 0/xx/11/4412-1361 ou http://sites.uol.com.br/digao2000/.

ONG prepara um catálogo com 50 idéias de brinde

A ONG Amankay está finalizando um catálogo de produtos feitos por associações e comunidades do país, que será distribuído a empresários como sugestão de brinde. Foram pesquisadas 800 e selecionadas 50, segundo a diretora Lia Zatz. Para integrá-lo, foi preciso preencher três critérios: relevância do trabalho social, qualidade do produto e capacidade de produção. Para ir para a gráfica, falta um patrocínio.

Amankay: 0/xx/11/3814-6326.

Apenas 20% têm qualificação profissional

De cada 5 portadores de deficiência, 4 não estão qualificados para enfrentar o mercado de trabalho, afirma o antropólogo da USP (Universidade de São Paulo) João Baptista Cintra Ribas, 46, especialista no assunto pela Universidade de Salamanca (Espanha).

Paraplégico desde que nasceu, Ribas usa esses números para justificar o não-cumprimento do decreto 3.298 (dezembro de 99), que obriga empresas que têm cem ou mais empregados a preencher de 2% a 5% do quadro com deficientes habilitados ou reabilitados.

"Para o deficiente, trabalhar em casa ou para uma associação é uma alternativa interessante: ele exerce sua atividade laboral, sem ser subjugado, e conquista a independência", diz. Mas, na opinião dele, "é preciso um empurrão, principalmente da família".

Foi o que aconteceu com a tradutora Marisa Paro, 45, portadora de atrofia muscular progressiva (espécie de paralisia) desde os 15 meses de idade. Com mais de cem obras no currículo, ela garante que os pais sempre a "incentivaram a superar tudo".

Depois de trabalhar para duas editoras e de fazer um curso de especialização nos Estados Unidos, abriu, em 93, a Força de Expressão Traduções, que fatura R$ 3.000 por mês. "Faço parte de uma elite, mas gostaria de ter maior autonomia financeira", diz.

"É preciso escalonar os objetivos", ensina Edson Luiz Lucas de Queiróz, 33, que ficou tetraplégico após um mergulho, em 93, e está à frente da ONG Instituto Integrar, que busca conscientizar deficientes quanto à importância de se qualificarem para o trabalho.

Pós-graduado em gestão empresarial, Queiróz atua, na outra ponta, como consultor, "adequando empresas, física e culturalmente, para receberem esse tipo de mão-de-obra". Para argumentar com os empresários, usa dados da pesquisa Percepção do Consumidor Ethos-Valor, com 1.134 consumidores no país.

"Qual atitude o estimularia a comprar mais produtos de uma empresa?", foram indagados. Responderam, espontaneamente: contratação de deficientes; colaboração com escolas, postos de saúde e entidades sociais; manutenção de programas de alfabetização e adoção de práticas efetivas de combate à poluição.

Consultoria João Baptista Cintra Ribas: 0/xx/11/5584-0441; Força de Expressão Traduções: 0/xx/11/3826-8004; Instituto Integrar: 0/xx/34/3238-1514.

(Folha de S.Paulo)

 

 
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